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CULTURA
Naufrágil: coluna indisciplinada de arte e política
Fábio Nunes
Vale do Paraíba
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Crise I
Muitos trabalhadores terão um ano difícil com os salários achatados, isso porque setores importantes da economia tiveram reajuste abaixo da inflação.

Crise II
Um professor especialista afirma que a classe trabalhadora precisa se sacrificar. "Se o orçamento tá curto, trabalhe nas folgas e nos finais de semana".

Crise III
A burguesia não gostou dos nove feriados previstos no calendário de 2017. Segundo a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN) essa folga toda vai aprofundar ainda mais os problemas do país.

Sulfurica Ilha
Wilhelm Reich, médico, psicanalista e marxista alemão, revolucionou o debate sobre a sexualidade nos anos 1920-1930. Em "O Combate Sexual da Juventude" ele vai afirmar que as sociedades capitalistas produzem e reproduzem uma sexualidade miserável. Para Reich, vivemos entre a monogamia reacionária (castidade) e/ou o consumo desenfreado de corpos (caos sexual). Duas faces sexuais do mesmo vil metal. Casadinhos e/ou "na pista" o que impera são as ideias dominantes. Caveira my friend. Reich defende um "amor camarada" baseado na solidariedade. Será que cola ou a parada é sinistra mesmo e quem puder mais chora menos?

Entrevista com a atriz Camila Mota - Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona. Camila interpreta Semelle no espetáculo Bacantes, com direção de Zé Celso

Fabio Nunes - O Oficina hoje

Camila Mota - O Teatro Oficina hoje é uma companhia multimídia de artistas que tem a arte teatral como eixo principal. Os espetáculos tem um elenco gigantesco, embora nem todos os artistas envolvidos nas montagens estejam ligados diretamente à todas as atividades da companhia que extrapolam o espaço da Rua Jaceguai, 520.

Somos uma companhia permanentemente instável – existe um núcleo criador – cada vez maior, e artistas que passam pequenas temporadas conosco – sempre bem vindos. Somos patrocinados pela Petrobras, numa parceria que dura já 11 anos e, embora não dê para cobrir os custos de um ano de manutenção do espaço e dos grandes elencos – pois uma multidão custa muito caro, esse patrocínio é fundamental para a perenidade do trabalho.

Companhias permanentes, seja o Teatro Oficina ou a Royal Shakespeare Company, são espaços de formação.
A universidade antropófaga é a nossa prática de transmissão de conhecimento e eu gosto muito dessa idéia como direção para o trabalho, mesmo que não seja um período de chamadas públicas de turmas, mas no nosso dia a dia, num estado permanente de invenção.

Existe um certo obscurecimento dos artistas da companhia – o público que não frequenta o teatro e não conhece nosso trabalho, acha que existe Zé Celso e os atores que trabalham pra ele.
Mas nós trabalhamos com ele, criamos juntos. Sim, ele é o gênio, e é maravilhoso ter um gênio na companhia – não se encontram gênios em toda esquina…além disso, Zé é o único que esteve presente em todas as décadas e fases do oficina desde 1958, e esse é mais um motivo para termos a Universidade Antropófaga como eixo de trabalho, pois é preciso um time forte pra contracenar com ele, pra criar junto com ele.

Acho que a projeção dos diversos artistas do Teatro Oficina hoje é um desafio importante, é essencial inclusive para a manutenção econômica do time. pois nosso orçamento anual, se visto da perspectiva de uma companhia de um homem só, o valor realmente parece monumental. mas se for compreendido da perspectiva de um grande time de artistas criadores, é bastante coerente.

Fabio Nunes – Por que Bacantes?

Camila Mota - Bacantes é uma peça muito desejada pela companhia. Algumas pessoas, desde o início de 2016, queriam fazer a peça pra comemorar os 20 anos da estreia no teatro e também porque a maior parte do time ainda não tinha feito esse espetáculo. Realmente é uma peça muito importante pra formação e fortalecimento do coro – pela dramaturgia e pela relação direta com o público que nossa montagem exige. Mas, a decisão de fazer tomou força justamente com a sucessão de Penteus emergindo no cenário político; com a perspectiva de austeridade; de um estado policialesco; do machistério… Então se tornou necessário fazer Bacantes como vudu – praticar ritos de estraçalhamento de Penteus. Transformar um espetáculo em rito é projetar perspectivas. Colocamos em cena uma perspectiva antropófaga de contracenar com o inimigo. Na montagem atual, não basta estraçalhar Penteu, o coro báquico deseja comer esse inimigo, reconhece sua força, se alimenta dela. Não é um desejo de aniquilação, de extermínio, é uma experiência metafísica.

Fabio Nunes – Qual o papel da arte neste cenário tão nocivo?

Camila Mota - A arte é um canal de interpretação da vida. O teatro é um espaço onde o humano se coloca diante do humano. Pode ser uma experiência muito profunda assistir a um espetáculo e se deixar projetar no que é encenado. Eu concordo bastante com a Camila Amado que diz que trabalha em teatro pra aprender a viver. Vivo assim também ao absorver os pontos de vista das personagens, felizmente muitas vezes diversos dos meus. O fascismo hoje está presente na direita e na esquerda – no desejo de aniquilação das diferenças, das conquistas de territórios… volto à necessidade da antropofagia como filosofia política, como experiência de contracenação, como destampador de antolhos para que se possa ver até o antagonista com olhos livres.

Já deu a dramaturgia de bem versus mal, mocinho e bandido… independente de ser contra ou a favor, há que se reconhecer que o processo de impeachment foi construído a partir de uma narrativa de novela, onde o costume é ter um vilão ou vilã responsável por toda a maldade daquela trama. Mesmo com os gigantescos avanços do Ministério da Cultura na gestão Gilberto Gil e Juca Ferreira, o governo petista cometeu uma falha trágica ao não colocar a cultura como estrutura política – o aumento do consumo de tvs foi proporcionalmente desmedido em relação ao acesso à narrativas mais complexas. A produção independente e descentralizada do eixo Sul-Sudeste não chegou à multidão. E quando falo do acesso à narrativas mais complexas não me refiro somente às classes que ascenderam, temos uma elite econômica também muito dominada pela lógica binária da novela. A arte traz a possibilidade de outras interpretações, até contraditórias, e a partir dessas interpretações, são inventados novos paradigmas. Voltaremos em cartaz a partir de 11 de fevereiro, pois estar em cena é fundamental pra existir.

Lagoa Azul é o caralho
Alô Brasil! Alô América do Sul e do Sol! Quem nasceu boca aberta nunca vai virar um Rogério Sganzerla. Determinismo? Não, detergente.

Sinal Fechado
Com direção de Fauzi Arap, "A Cena Muda" (1974) é um dos grandes álbuns ao vivo de Maria Bethânia e um dos espetáculos musicais mais ousados feito no Brasil. O tema da obra é a relação do artista com o sucesso, neste caso, numa época de intensa repressão e censura no país. Bethânia canta o ouro e a lama no reino da mercadoria. Midas, o rei que transforma tudo em bosta ou o alquimista reluzente na sociedade do espetáculo? Com músicas de Chico Buarque, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Sueli Costa, Caetano Veloso e Gonzaguinha, "A Cena Muda" é uma pedrada maravilhosa.

Vigia Maluco
Um olho no baseado e o outro no isqueiro.

A COMPANHIA DO MIOLO APRESENTA O ESPETÁCULO: LUZEIROS

O que fazer quando a dureza da realidade nos impede de vislumbrar um
horizonte?

O novo espetáculo de rua da Cia constrói uma instalação/narrativa que trata do conflito entre esgotamento e utopia. Uma menina e uma mulher sobreviventes de guerra percorrem uma cidade em ruínas na busca por sepultar os mortos. Neste trajeto revelam memórias de tempos e cidades que se esgotaram em meio à exploração, ganância, pobreza e atentados.

Nos últimos quatro anos a Cia do Miolo desenvolveu uma pesquisa sobre esgotamento e utopia na cidade, que deram fruto aos espetáculos "Taiô", "Em Caso de Emergência Quebre o Vidro" e "Casa de Tolerância" e que agora culmina no novo trabalho - "Luzeiros", obra que reflete a trajetória do grupo frente às experiências diversas das ruas.

Ficha Técnica:
Atrizes Criadoras: Edi Cardoso e Renata Lemes
Direção: Iarlei Rangel
Assistente de direção: Ranieri Guerra
Dramaturgia: Rudinei Borges
Direção Musical: Charles Raszl
Preparação Corporal: Juliana Pardo
Cenografia e figurinos: Eliseu Weide
Desenho de luz: Tulio Pezzoni
Criação e confecção de bonecas: Elizabeth Garavito e Dayana Gonzáles
Produção: Izabela Pimentel e Cia do Miolo
Assistente de produção: Rafael Procópio
Estúdio de gravação: Rafael Agra
Técnico de Áudio e sonorização: Gabriel Kavanji
Assessoria de Imprensa: Luciana Gandelini
Fotos: Arô Ribeiro
Designer Gráfico: Elaine Alves

Entrevista com a atriz Edi Cardoso - Cia do Miolo

Fabio Nunes - Fale um pouco sobre a Companhia do Miolo

Edi Cardoso - A trajetória artística da Companhia do Miolo vem sendo, desde sua fundação, norteada pelo desejo de provocar o encontro. Foi a partir desta necessidade que surgiu a decisão
primeira: a opção pela Rua. Para nós, o teatro carece de intervir no espaço da vida real, afetando e deixando-se afetar pela vida dos espaços coletivos da cidade. Compreendemos a Rua como o espaço
público fértil e propício para o encontro, tanto estética quanto politicamente. O espaço público não somente possibilita o acesso, como também oferece a cidade como cenário e agente esteta. Os diversos espaços públicos da cidade são para a Companhia o canal mais propício para o encontro contemporâneo. Neste sentido, entendemos que o teatro pode criar fissuras, nestas ruas “de passagem”, gerar ações de resistência que
estabeleçam seu sentido de encontro, reflexão, sensibilização, troca e expressão. Ao longo de 13 anos de existência, aprofundamos em nossas pesquisas um treinamento específico para um corpo criativo no espaço urbano, debatemos e investigamos campos dramatúrgicos, de formação crítica e poética com a cidade, no intuito de afirmar o espaço público da rua como espaço de disputa de um imaginário coletivo e de construção de uma outra cidade.

Fabio Nunes - Por que o espetáculo Luzeiros?

Edi Cardoso - Luzeiros, assim mesmo no plural, porque não queremos passar a ideia de uma única luz salvadora, Luzeiros, se revela para nós da Cia do Miolo como múltiplas possibilidades de se vislumbrar uma existência potente. Na iminência do total esgotamento o espetáculo nos apresenta a necessidade de nos levantarmos como se levantam as cidades acima das trincheiras. Ele nasce do nosso desejo de olhar para além da terra devastada , como as gentes de diversas partes do mundo que todos os dias seguem em travessia na busca de um horizonte possível. A imagem de milhares de pessoas que se arriscam em pequenas embarcações nas temerosas àguas do mar à procura de outras cidades e países nos permitiu vislumbrar que, para além dos cemitérios e das ruínas, também é preciso avistar pela primeira vez ver o mar! Nalgum lugar as multidões se erguem tomadas de valentia! Precisamos seguir adiante!

Fabio Nunes - Utopia numa terra em transe. Luzeiros numa terra devastada. Fale um pouco sobre fazer arte num país que atravessa uma forte crise econômica-política.

Edi Cardoso - Esta é uma questão bastante complexa, mas tentarei responder da maneira mais
objetiva possível. Pensamos o nosso fazer artístico como nossa ferramenta de luta e construção de afetos, é através dele e com ele que também vislumbramos um outro modo de vida possível,mais justo e igualitário. Temos enfrentado momentos muito delicados, política e economicamente, momentos de cortes, rupturas, intolerância, desrespeito e hostilidade.“Tentam” vender a imagem de que artista é vagabundo transgressor e que arte no país é “perfumaria”, são inúmeras as tentativas de se privatizar a cultura, e de colocar os interesses privados acima dos interesses públicos, vemos isto todos os dias, sabemos o que significa, a disputa é pelo simbólico, pela construção de imaginários, e é justamente por isso que não pensamos em recuar, e é justamente por isso que vamos às ruas com nossos espetáculos, que investimos em ações de formação de público, vínculo e pertencimento.
A luta dos trabalhadores e trabalhadoras da cultura é árdua e o desafio é não deixar que se destruam as poucas conquistas que tivemos ao longo de anos. Fazer arte é o modo que escolhemos para existir em potência.

Faremos uma curta temporada do espetáculo Luzeiros de 10 a 13 de janeiro de 2017 com apresentações às 17h e às 19h no Largo do Paissandu (centro de São Paulo). Esta ação é parte do projeto Ocupações Teatrais- Esgotamento e Utopia, contemplado na 27ª edição de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.

Aventura Abismal
Emygdio de Barros nasceu em 1895, no Rio de Janeiro. Teve uma infância triste. Jovem, fez o curso técnico de torneiro mecânico e ingressou no Arsenal da Marinha. Foi designado para fazer um curso na França onde permaneceu durante dois anos. Logo após a sua volta ao Brasil (1924) abandonou o emprego e passou a perambular sem destino pelas ruas.

Foi internado no Hospital da Praia Vermelha. Foi Transferido para o Hospital de Engenho de Dentro no início de 1944. Em 1947 começou à frequentar o ateliê da Seção de Terapêutica Ocupacional desta instituição. Revelou-se imediatamente um grande artista. Produziu regularmente no Museu de Imagens do Inconsciente, onde pintou até o seu falecimento, em 1986, aos 92 anos.

Segundo o poeta e crítico de arte Ferreira Gullar, Emygdio é talvez o único gênio da pintura brasileira, um artista que ultrapassa as medidas e as categorias. Para Mário Pedrosa, outro importante crítico de arte, se denota em sua pintura "uma força poética, um lirismo, um vigor metafísico, um humor, um expressionismo moderado de um verdadeiro artista".

 
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