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LUTA CONTRA O GASOLINAZO NO MÉXICO
Questões fundamentais sobre o “gasolinazo” e os protestos no México
Bárbara Funes, México D.F.

Alta nos combustíveis, nas tarifas elétricas e nos preços ao consumidor. O gasolinazo canalizou o desgosto popular contra o governo de Peña Nieto e os protestos se estendem por todo o país.

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Segundo diversos analistas, a decisão de aumentar os preços do combustível foi o pior erro que cometeu o desprestigiado governo de Peña Nieto. Desde o primeiro dia desse ano, os aumentos foram de 14,2% no preço da Magna; 20,1% para a Premium e 16,5% para o diesel, em relação aos preços mais altos de dezembro de 2016. Estes aumentos permanecerão apenas até 3 de fevereiro. Depois os preços subirão ainda mais.

Aqui, as questões fundamentais da crise que parece não ter fim para o governo mexicano.

1- Peña Nieto havia confirmado que não haveria mais aumentos nos combustíveis em 4 de janeiro de 2015. Mas após o anúncio triunfal, ocorreu o contrário. O atual gasolinazo ocorre após sucessivos aumentos desde 2015 e virão mais com a liberação dos preços da gasolina, que serão regidos pelas movimentações de mercado.

2- Durante o governo de Peña Nieto foram registradas altas de 32% na gasolina Magna, de 38,1% na Premium e de quase 37% no diesel, que custava em média 12,49 pesos em 2013. Em 2017 o salário mínimo é de 80,04 pesos e o preço da gasolina Magna em média é de 15,99 pesos por litro. Com o salário mínimo de um dia é possível comprar apenas cinco litros, enquanto em 1979 eram quase 30.

3- Os preços dos combustíveis ficarão atrelados ao dólar, que não deixou de subir (já está chegando a 22 pesos mexicanos por dólar) desde que Donald Trump lançou sua campanha eleitoral contra os imigrantes e contra o Tratado de Livre Comércio das Américas, ameaçando tirar os EUA desse acordo. Isto se combina com o risco inflacionário: o aumento dos combustíveis já levou à alta das tarifas elétricas e de preços dos produtos da cesta básica, que atingem a economia das famílias trabalhadoras. Já antes desses anúncios, as previsões de crescimento econômico eram sombrias. Haviam sido reduzidas até oscilarem entre um magro 1,3% e 1% para esse ano. Isto se soma ao risco da dívida externa, que chega a mais de 50% do produto interno bruto.

4- Segundo um mapa elaborado pela US Energy Information Administration, os preços de referência da gasolina na costa do Golfo dos Estados Unidos são de 2,08 dólares por galão (3,78 litros). De acordo com o câmbio atual, o litro de gasolina nos Estados Unidos é 22% mais econômico que no México.

5- Enquanto isso, o governo – com a cumplicidade da burocracia sindical petroleira encabeçada po Carlos Romero Deschamps – tem avançado no esvaziamento da empresa paraestatal Petróleos Mexicanos (Pemex), bem como no leilão de suas instalações e campos petrolíferos em benefício das grandes transnacionais. Isto é a aplicação da reforma energética desenhada pela equipe de Hillary Clinton quando era secretária de Estado. O governo e os meios de comunicação a seu serviço difundiram que a Pemex estava em crise para devolver ao capital privado a exploração das fontes energéticas, cortaram o orçamento para operação e manutenção e realizaram dezenas de milhares de demissões, tudo para cortar a produção e acelerar a entrega. Uma das consequências foi converter o México em um importador de combustíveis e abrir ao capital privado sua comercialização e distribuição. É assim que empresas como Oxxo-Gas e Petro-7, entre outras, foram as principais beneficiárias do gasolinazo.

6- Mas nem tudo são números. O governo de Peña vem golpeado pela crise aberta pelo desaparecimento forçado dos 43 estudantes de Ayotzinapa e o massacre de Iguala, quando deixou de ser o querido da imprensa internacional e iniciou sua queda em desgraça. Após Ayotzinapa, a tentativa de imposição da reforma educativa enfrentou a resistência do magistério em vários estados do país, chegando à capital. A resposta foi o massacre de Nochixtlán, ainda impune, em junho de 2016. E assim o magistério recebeu o amplo apoio de um movimento democrático que tomou as ruas contra a repressão. A luta de extendeu inclusiva na capital do país, recordando em parte a primavera magisterial de 1988-1989. A direção da Coordenadora Nacional de Trabalhadores da Educação (CNTE), apesar da grande disposição de luta de professoras e professores, priorizou a negociação e o diálogo com o governo e o magistério recuou, sem chegar a reunir o conjunto da classe trabalhadora.

7- Com a visita ao México do então candidato do partido republicado às eleições presidenciais dos EUA, Donald Trump, se abriu um novo capítulo na crise do governo de Enrique Peña Nieto. Foi recebido como um chefe de Estado quando ainda não era, dando mostras do servilismo que caracteriza a “casta política”, sempre disposta a se curvar diante do “amo” de plantão. Hoje o magnata xenófobo que baseou sua campanha eleitoral em alardear todo tipo de insultos e ameaças contra os imigrantes mexicanos, e que é amplamente rechaçado ao sul do rio Bravo.

8- Agora, nos 32 estados do país ocorreram protestos e bloqueios de caminhoneiros e postos de gasolina contra o gasolinazo. Participam motoristas de caminhão, motoristas, moradores das áreas rurais, agricultores, criadores de gado, jovens, professoras e professores. Há indignação entre trabalhadores de distintos setores, como os telefonistas. Enquanto isso, o governo de Peña Nieto, os empresários, as transnacionais e os grandes meios de comunicação querem semear o pânico com rumores de vandalismo e a utilização da polícia e do exército. Temem a irrupção nas ruas da classe trabalhadora, das mulheres e da juventude.

9- O rechaço que foi incitado pelo gasolinazo objetivamente coloca em questão a subordinação aos planos do imperialismo estadounidense. Andres Manuel López Obrador, líder nacional do partido Movimento Regeneración Nacional (Morena) sinalizou que seus deputados e senadores não votarão a favor da reforma energética. E contra o gasolinazo sustentam a política de “resistência civil e pacífica” - ou seja, esperar as eleições de 2018 para “tirar o PRI das alturas” por meio do voto, evitando que o movimento se amplie e se radicalize – é impotente frente a uma luta que, para triunfar, deve romper os grilhões econômicos, políticos, militares e diplomáticos que impõe o governo dos Estados Unidos ao México.

10- A classe trabalhadora e suas famílias – que constituem a maioria da sociedade – são os que podem colocar em cheque o governo, paralisando com seus métodos de luta a indústria e os serviços, retomando as demandas legítimas dos demais setores da sociedade e encabeçar a mobilização com um programa operário diante da crise, em que colocar abaixo a reforma energética e a renacionalização das áreas privatizadas da Pemex sejam parte de uma política de ruptura da dependência do país frente ao governo de Trump e em defesa da soberania nacional. Que os capitalistas paguem pela crise!

Tradução: Fernando Pardal

 
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