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TRIBUNA ABERTA
O precioso tempo burguês
André Bontempo Garcia Lima
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Há tempos eu recebia convite para fazer contribuições para além das charges que muitos já devem ter visto aqui. Este é meu primeiro texto para o jornal e já adianto que não sou economista (minha formação é em jornalismo), mas as teorias e influências das diversas correntes de pensamento muito me fascinam. A nova-velha direita hoje busca se mascarar personificando-se em jovens capazes de influenciar a opinião pública, muitos com auxílio das novas ferramentas de comunicação (Facebook, Twitter, canais no YouTube) e simpatia (apadrinhamento) de partidos políticos das alas mais conservadoras do país. Procurando manter os estudos em dia, muito me caiu no colo vídeos de alguns desses jovens procurando explicar suas posições liberais, anti-marxistas e profundamente vinculadas ao pensamento da Escola Austríaca.

Um dos vídeos, em questão, abre (ou seria melhor dizer “fecha”) questão sobre a “furada” no conceito de Mais-Valia de Karl Marx. Embora sugira haver diversos pontos não elaborados por Marx o vídeo se concentra na questão do Tempo. Resumindo a ópera, na teoria da Mais-Valia, em que o burguês explora os proletários, gostemos ou não, Marx é leviano ao não levar em consideração a questão do tempo despendido pelo burguês para, justamente, se tornar o dono dos meios de produção, comprar a força de trabalho do operário e impor o ritmo laboral no ambiente de produção. Na visão liberal, o papel do burguês de empresário-gestor é benéfico para o trabalhador por garantir a este o seu sustento independente das condições externas do mercado. É justamente o burguês quem vai arcar com os custos da produção, exportação, tomadas de decisões, embates no Mercado, riscos, falências e, portanto, nada mais justo do que recuperar seu “tempo perdido” não destinado a outras atividades e, sim, gasto de forma a contribuir com o desenvolvimento econômico e social. A conta, entretanto, não fecha perfeitamente assim.

É claro que a discussão nos patamares mais amplos rende pano pra manga. Mas pensando no capitalista clássico, analisado por Marx, este não começou necessariamente do 0 (ou próximo disso) se aventurando em um mar de incertezas, riscos e visão empreendedora. Dedicando seu tempo e seu capital inicial nas suas aspirações. As gestões empresariais hereditárias falam por si: o burguês assume o comando da produção – e não pretendemos, agora, entrar no mérito das suas competências de gestor – com o devido crédito, estrutura e capital já mais ou menos bem alinhados para repetirem a fórmula de produção e geração de riqueza. Voltando ao Marx, qual o ônus deste burguês com relação ao tempo? Se havia alguma “dívida” dos trabalhadores para com o patrão nem é preciso calculadora para saber que já foi paga (isso considerando apenas a questão da Mais-Valia) com a produção excedente (para além das necessidades daqueles que desempenharam trabalho). Aos próximos donos do meio de produção, em geral, caberá assumir uma estrutura pronta e continuar extraindo o seu lucro do trabalho excedente. E sem maiores custos ao seu precioso tempo. E sem grandes alterações que melhorem significativamente a vida do operário, pois este permanece com poucas alterações salariais, são praticamente descartáveis do ponto de vista da estrutura industrial e não é incomum serem lezados de outras formas por fatores além da teoria da Mais-Valia. Há muito mais para teorizar sobre isso. Mas por hora são algumas reflexões com relação ao “tempo” na teoria da Mais-Valia que, ao contrário do que defendem os youtubers bisnetos de Ludwig von Mises, não invalida o pensamento marxista.

 
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