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TRIBUNA ABERTA
Uma nova resolução e um novo desentendimento com Israel
Guido Luppino

Na semana passada foi aprovada uma Resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a de número 2334, que exige de Israel o fim dos assentamentos na Cisjordânia e em Jerusalém.

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A nova Resolução por parte da Organização das Nações Unidas, regida na última sexta feira, exige do Estado de Israel cessar de maneira “imediata” e por “completo”, sua marcha na construção dos assentamentos ilegais em territórios palestinos.

A iniciativa desta Resolução proveio do governo do Egito, ainda que se saiba que tempos atrás foi rechaçada pela Casa Branca. Outra novidade, o que dá o caráter histórico à Resolução, é que os Estados Unidos, pela primeira vez, se absteve de votar uma medida contrária ao seu aliado estratégico na região, Israel.

É importante deixar claro que anos atrás, precisamente em 2011 e 2013, Estados Unidos deu seu voto contrário a iniciativa de proclamar uma Resolução com características similares, terminando por não ser declarada. De fato, em 2014 em Washington respaldou-se o ataque perpetrado por Israel a Gaza, apoiando-os com ajuda militar.

A Resolução foi patrocinada por Nova Zelândia, Venezuela, Senegal e Malásia, o qual foi chave para a aprovação da mesma, já que o presidente egípcio, al-Sisi, retirou seu apoio após uma conversa com o presidente eleito americano, Donald Trump, o qual já deu declarações manifestando seu apoio a Israel na causa.

A Resolução exige que Israel ponha fim a sua política de construção de assentamentos no território de Cisjordânia, cuja soberania política pertence a Palestina, e também em Jerusalém Oriental. Mas também volta a remarcar uma solução de dois Estados que possam conviver. Desta maneira, a ONU volta a legitimar o Estado de Israel formado com práticas colonizadoras, e se pretende conceder o status de Estado aos territórios palestinos que vivem sob um assédio constante, por exemplo a Faixa de Gaza que é o mais parecido a uma “mega prisão a céu aberto”, como se referiu em reiteradas ocasiões o especialista no tema Ilan Pappe.

O Primeiro Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou que considera o acontecimento como uma medida anti-Israel, perversa e vergonhosa. Em resposta ao ocorrido, Netanyahu expressou que tomaram medidas como reavaliar os aportes financeiros de Israel para os organismos da ONU e a suspensão de encontros diplomáticos com representantes dos países que votaram em favor da Resolução 2334.

Mas não é a primeira vez que se formula por parte da ONU uma Resolução contrária ao sionismo do colonizador Estado de Israel e, como a história demonstra, nenhuma foi cumprida sem impor algum tipo de sanção. A colonização permanente, a limpeza étnica e o genocídio sobre o povo palestino continuam em andamento de maneira permanente diante da vista e da passividade das grandes potencias internacionais.

Recapitulemos rapidamente algumas das Resoluções mais importantes da ONU sobre o tema, sem que nenhuma fosse acatada por parte de Israel:

Para começar, podemos mencionar a Resolução 181 de fins de 1947, aonde se aconselha um Plano de Participação sobre os territórios dando lugar a dois Estados, um judeu e outro árabe, e a presença de zonas compartilhadas como Jerusalém. Isto nunca foi cumprido enquanto a limpeza étnica por parte do sionismo mostrava sua pior face até a proclamação do Estado de Israel em 1948, aonde se colonizaram mais territórios do que o “aconselhado” pela ONU.

Em 1948, já com a declaração de Israel, se proclama a Resolução 194 na qual se determina que os palestinos expulsos de seus territórios têm direito de regressarem, e em caso de não deseja-lo poderiam exigir uma compensação econômica. Novamente Israel desobedeceu aos pedidos das Nações Unidas e o processo de expulsão, até o dia da data, segue existindo.

Após a Guerra dos Seis Dias em 1967, na qual Israel anexou grandes porções de territórios ao seu Estado, a ONU comunicou a criação da Resolução 242 na qual se exigia a retirada do exército israelense dos territórios ocupados. Esta guerra marcou a ocupação da Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, a Faixa de Gaza, os Altos de Golã na Síria e a Península do Sinai do Egito. Os territórios sírios foram novamente disputados na Guerra do Yom Kipur de 1973, dando como resultado uma zona desmilitarizada e outra sob condução administrativa de Israel desde 1981. Quanto a Península do Sinai, após os Acordos de Camp David de 1978, o Egito firmou a paz com Israel recuperando a Península. Para ambos os territórios palestinos acordou-se negociar posteriormente um regime autônomo, que até o dia da presente data segue sendo assediado, invadido e colonizado por parte de Israel.

A resolução 338 (1973) e a 446 (1979) se referem sobre a ilegalidade dos assentamentos criados por Israel no território palestino. Sobre isto, nada se alterou na política dos distintos governos israelenses posteriores, já que a construção dos assentamentos é cada vez maior e continua até o presente.

Diversas Resoluções (726, 729,904,1332, entre outras) condenam totalmente o uso da violência das forças militares de Israel contra a população civil palestina. Na prática constatamos o uso da violência física, deportações, matanças, execuções extrajudiciais, etc. Esta violência constante é a que sofrem os palestinos cotidianamente dentro do marco do genocídio contra a sua população.

A Resolução 10/15 do ano 2004 declara ilegal o muro construído pelo governo sionista com a finalidade de separar os territórios palestinos dos israelenses. Recordemos que esta Resolução foi ignorada pelo Estado de Israel e, de fato, o muro prossegue sua construção onde 80% do mesmo se localiza dentro do território palestino, o qual permite ver a permanente colonização que se executa sem respeitar as fronteiras.

Se bem esta nova resolução, na qual Obama pediu a abstenção na votação, poderia significar um distanciamento entre o governo de Israel e o dos Estados Unidos, se aproxima a data em que o novo presidente americano assumirá o mandato e é quem já respaldou as políticas de Netanyahu. Trump afirmou que dentro dos primeiros 100 dias de seu governo, uma das tarefas será a transferência da embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv a Jeursalem, como um ato de reconhecimento desta última cidade como capital de Israel, e não uma cidade compartilhada como afirmam distintas Resoluções da ONU.

A Resolução pode parecer um revés político para o governo de Netanyahu, mas sabemos que não será um triunfo para o povo palestino que segue sofrendo as consequências da colonização do governo sionista do Estado de Israel.

 
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