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ASSASSINATO DE ANDREI KARLOV
Três hipóteses sobre o assassinato do embaixador russo na Turquia
Claudia Cinatti
Buenos Aires | @ClaudiaCinatti

O assassinato de Andrei Karlov, embaixador russo na Turquia, tem como pano de fundo a guerra civil na Síria e, em particular, a virada dramática que tomaram os acontecimentos a partir de que o regime despótico de Assad, com o apoio de Rússia e Irã, conseguiu recuperar o controle de Aleppo.

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Como é sabido, Rússia e Turquia estão em lados opostos das sinuosas e variantes trincheiras da guerra civil síria. Erdogan está por trás de diversos grupos “rebeldes”, que poderia ter incluído uma tolerância generosa do Estado Islâmico, em particular para conter o avanço das milícias curdas ligadas ao Partido de Trabalhadores do Curdistão.

Putin é o patrão de Bashar al Assad e integra, junto com Irã e Hezbollah, a coalizão que o permitiu ao regime sírio primeiro a sobrevida, e agora passar a uma certa ofensiva .

As relações entre ambos os países caíram ao seu ponto mais baixo em novembro de 2015, quando a Turquia derrubou um avião russo. Mas, depois da tentativa falida de golpe contra Erdogan, em julho deste ano, o presidente turco deu um giro para reconstruir as relações diplomáticas.

Sem ir mais longe, a evacuação de Aleppo, em particular dos grupos armados opositores e suas famílias que ainda estavam na cidade, foi um acordo tecido entre Rússia, Turquia e Irã.

A primeira hipótese mais obvia é que, de fato, quem disparou de trás do diplomata russo tenha atuado motivado pela derrota do campo opositor na Síria pelas mãos de um regime apoiado pela Rússia. O que vai a favor dessa hipótese é que houve manifestações recentes em Istambul contra Putin, em solidariedade à população de Aleppo que ainda está presa em áreas que estavam sob controle da oposição e agora estão a mercê da arbitrariedade das forças de Assad. Segundo a mídia, o assassino de Karlov gritou frases relacionadas com a situação na Síria e Aleppo.

Além disso, o momento não é casual: ocorre um dia antes de uma reunião agendada entre Rússia-Irã e Turquia, a nova entente que parece estar decidindo a sorte dos lados na guerra civil síria.

Mas há outras duas hipóteses relacionadas com a situação interna na Turquia. Uma aponta para a organização do clérigo Fetullah Gülen, acusado por Erdogan de ser o instigador do golpe que buscou derrubá-lo. O fundamento é que quem disparou contra Karlov era membro de uma força especial da Polícia Nacional Turca, onde havia uma importante influencia do movimento gulenista antes do golpe. A outra hipótese aponta para grupos terroristas islâmicos, que podem estar buscando algum tipo de vingança contra a Rússia pela situação na Síria ou também contra o governo turco, que aceitou a situação criada em Aleppo a partir do avanço de Assad.

A desculpa de “terrorismo” pode servir de cobertura para a ofensiva brutal por parte da Rússia e Assad na Síria. Também pode servir a Erdogan para justificar a perseguição feroz contra a minoria curda, especialmente às suas organizações políticas mais radicais. Ou seja, ambas as hipóteses são funcionais para reforçar o giro bonapartista de Erdogan.

A mudança no comando da Casa Branca provavelmente acelerou as ações que tendem a quebrar o empate catastrófico entre os grupos em conflito na Síria. Embora não esteja claro qual poderia ser essa saída, as conquistas militares se traduzem logo em uma melhor posição nas mesas de negociação. E nesse sentido, a posição da Rússia melhorou com a conquista de Aleppo.

A política de Trump em relação à Síria, ou mais precisamente com que métodos e alianças os Estados Unidos combaterá o ISIS, ainda é uma incógnita. O novo presidente norte-americano parece ter invertido os termos de Obama: tem se mostrado mais disposto a negociar uma saída com Putin, enquanto aumenta a hostilidade com o Irã. Isso está em consonância com uma lógica geopolítica possível da próxima administração Trump, de diminuir a hostilidade com a Russia, que foi uma política de estado norte-americana nos últimos anos, para concentrar-se na China.

A revolta do povo sírio contra a ditadura de Assad, que foi parte dos processos da “primavera árabe”, terminou afogada entre a brutal repressão do regime e a ação de diversos grupos armados por potências ocidentais e atores regionais - Estados Unidos, França, Rússia, Irã, Arábia Saudita, Turquia, entre outros – que se enfrentam em uma guerra civil labiríntica e reacionária que em cinco anos causou uma catástrofe de dimensões históricas para o povo sírio. A destruição de Aleppo é talvez o mais assustador, mas não o último, símbolo dessa tragédia.

 
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