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TRIBUNA ABERTA
O que está por trás das demissões coletivas na Anistia Internacional?
Pedro Artur

Reproduzimos aqui denúncia recebida pelo Esquerda Diário.

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A Anistia Internacional é uma das maiores organizações de direitos humanos do mundo. Fundada em 1961, e atuante em mais de 150 países, foi premiada em 1977 com o Nobel da Paz pelo seu primeiro relatório global sobre tortura no Brasil, que passava por um regime militar. A organização que abriu seu escritório no Brasil, a menos de 5 anos, se encontra em um dilema. A cúpula do escritório da Anistia Internacional no Brasil, comunicou aos seus funcionários de rua, na sexta-feira, dia 25/11, que diante do aviso do Secretariado Geral da Anistia Internacional, sediado em Londres, que a partir de 2017 se destinariam menos recursos ao escritório no Brasil, e que por isso o programa de captação e mobilização de rua, conhecido como Diálogo Direto na cidade do Rio seria extinto, mantendo-se apenas uma única equipe em São Paulo e uma de call center (captação via telefonia) no Rio. Diante daí foi comunicada a demissão de todos os captadores.

Tal atitude imposta, sem qualquer tipo de debate ou consulta prévia, acaba por revelar o caráter político e autoritário de tal decisão, que preferiu atacar a base, mais vulnerável historicamente, do que pensar em um plano de reestruturação vindo de cima, principalmente, a partir dos grandes salários que marcam o grande escalão da instituição, que através de tais práticas, demonstra o seu caráter de cunho empresarial, que vai contra a sua essência, de organização sem fins lucrativos e de luta pelos direitos humanos. As demissões vem em um contexto interno de questionamento por parte da base demitida, sobre a falta de integração da "rua", dos captadores com o escritório, que mantém os setores de pesquisa e ativismo.

A crescente precarização do trabalho, o aumento na cobrança das metas, diversos casos de racismo institucional sofrido por funcionários negros(as) nas ruas e negligenciados de forma direta/indireta pela direção. Além de todos esses problemas, havia uma grande cobrança pela questão da representatividade que sempre era colocada em questão. Como uma organização que denuncia as altas taxas de homicídios da juventude negra, tenha em sua grande maioria um corpo de funcionários branco? Como se denuncia o caráter racista da sociedade, e não se considera o racismo que seus funcionários negras(os) sofriam nas e das ruas? O trabalho desses 21 funcionários, que antes de captadores, eram ativistas e mobilizadores, fomentando e aprofundando o debate sobre direitos humanos, trazendo uma radicalização nas ruas, através do trabalho técnico que é desenvolvido pelo escritório via pesquisas, campanhas e relatórios, sobre questões pertinentes ao extermínio da juventude negra, da intensificação da criminalização dos movimentos sociais, campanhas contra a violência de gênero e sobre direitos sexuais e reprodutivos, o combate a desregulamentação do comércio de armas no Brasil, a crise de refugiados, o direito dos povos originários a terra, entre diversos temas.

Tais demissões implicam uma perda política-simbólica significativa para a cidade mais plural e diversa do mundo, que reproduz fortemente o lema "bandido bom é bandido morto", quando elege uma figura como Bolsonaro, como o deputado federal mais votado do Rio, Quando elege um bispo da Igreja Universal para a prefeitura do Rio, quando o país está entre os que mais matam por homofobia no mundo. Com o fim do trabalho diário das equipes nas ruas somada a já anunciada saída do atual diretor executivo, Atila Roque, para o fim do ano, a organização se encontra em um dilema.

Seu maior orgulho é ressaltar a sua independência e imparcialidade frente a empresas, a partidos políticos, e a organizações religiosas, mantendo-se pelo apoio de uma rede de pessoas comuns no mundo todo. No Brasil, como no mundo todo, esse apoio era obtido através das ruas, pelo trabalho dos ativistas, através do diálogo de rua com diversos atores sociais, que se revertiam e apoio através de pequenas doações e que agora foram desligados. A questão é como garantir essa independência sem o contato com as ruas?

A Anistia penalizando a sua base em nome do discurso da crise e do crescimento sustentável não leva em conta, em um contexto de retrocesso dos direitos sociais conquistados e não garantidos para a maioria e a histórica criminalização dos movimentos populares, a importância política do trabalho das equipes. São tempos de retrocessos, e quem perde com esse trabalho é a Cidade do Rio de Janeiro, que a partir de hoje, segunda-feira, dia 28/11, não contará mais nas ruas, com o discurso de amor, de combate ao ódio e a intolerância, e de luta pela afirmação dos direitos humanos, que são historicamente criminalizados, e que os "amarelinhos" traziam diariamente para as ruas. Uma derrota para a luta pelos direitos humanos no Brasil.

 
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