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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
Conferência sobre Marxismo e Feminismo de Diana Assunção reúne público significativo de Mulheres
Déborah Maria C. Lima, Campina Grande

No dia 08 de novembro, no auditório do Centro de Humanidades da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Diana Assunção ministrou uma conferência sobre Marxismo e Feminismo que teve como ponto crucial relacionar os dois temas desde uma perspectiva marxista revolucionária, considerando indissociável a luta contra o patriarcado da luta contra a exploração capitalista, tendo em vista a impossibilidade de emancipação das mulheres numa sociedade pautada na desigualdade, a exploração e a opressão como o capitalismo.

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Diana Assunção é historiadora pela Universidade de São Paulo (USP), autora do livro A Precarização tem Rosto de Mulher e do prefácio dos livros Mulher o Estado e a Revolução de Wendy Goldman e de Trotsky e a luta das mulheres, entre outros. A conferencista também é fundadora do Grupo de Mulheres Pão e Rosas no Brasil, faz parte do staff da Rede Internacional Esquerda Diário e é dirigente do Sindicato de Trabalhadores da Universidade de São Paulo (SINTUSP) e do Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT).

É nesse sentido que a palestrante resgata historicamente diferentes feminismos e ressalta as controvérsias e contradições existentes entre estes e o que se propõe apresentar do marxismo e feminismo.

Assim, por volta da década de 70 o marxismo se apresenta como interlocutor do feminismo e os debates entre gênero, classe social e socialismo são destaques para essa abordagem, consequentemente se choca com a vertente do feminismo liberal que tem pautas direcionadas para mulheres privilegiadas, bem como do feminismo que se pretende “radical”, mas que em linhas gerais defende uma mudança social advinda da autoconscientização cultural e não de abolição da sociedade capitalista.

Dando continuidade, a palestrante discorre sobre a relação entre opressão e exploração, tendo em vista que a própria inserção da mulher no mercado de trabalho se deu a partir de uma condição maior de exploração, numa concepção de “trabalho barato”, dada sua situação de grupo oprimido socialmente, circunstância hoje observada justamente na precarização do trabalho, que tem rosto de mulher, especificamente da mulher negra e imigrante. Além desse fator, a dupla jornada é uma característica da opressão aliada à exploração: as mulheres fazem os serviços domésticos, cuidados dos filhos proporcionando que o capitalista não precise pagar mais salário para esses tipos de serviço e que o Estado não construa creches, restaurantes populares e lavanderias públicas.

Diana aponta que a exploração e opressão conjuntamente renovam as formas de dominação capitalista e que muitas bandeiras feministas são frequentemente utilizadas por setores privilegiados para a manutenção dessa condição. Á exemplo das contradições existentes entre mulheres que ocupam cargos políticos e levantam bandeiras feministas e de representação política feminina fora do conteúdo de classe, bem como empresas que vendem uma imagem de “empoderamento feminino” como nicho de mercado, mas que em sua política explora e segrega outras mulheres em posições de precarização e subalternidade. Tanto é que no Brasil a pauta da legalização do aborto, mesmo com uma mulher no governo, não foi aprovada devido a conciliações feitas com setores conservadores em nome da governabilidade.

É nesse sentido que a segunda onda do feminismo foi esvaziada de seu conteúdo subversivo e revolucionário pelo neoliberalismo, este incorporou algumas pautas feministas e fez concessões, porém subtraindo o conteúdo de classe do movimento e tornando-o aceitável ao sistema. Ocorre que esse poli-classismo no feminismo em algum momento se depara com interesses inconciliáveis, á exemplo de uma mulher, como a Angela Merkel na Alemanha que sendo chefe de Estado não permite que uma garota palestina fique na Alemanha, então que tipo de feminismo responderia ao interesse das duas?

Por sua vez, o feminismo interseccional é visto por Diana como interessante na medida em que confronta o feminismo branco ao reconhecer que as mulheres sofrem opressões diferentes devido a sua orientação sexual, a nacionalidade, a classe, a raça, entre outras; porém esse feminismo acaba por tornar o conteúdo de classe bastante diluído ao situá-lo como mais uma somatória de opressão, sendo que para o marxismo revolucionário a raiz da sociedade é a divisão entre as classes. Diana também problematiza os conceitos de sororidade e seu limite de classe bem como a ideia de empoderamento como estratégia inofensiva ao capital, além de seus desdobramentos de nicho de mercado.

A palestrante finaliza sua posição defendendo que a Revolução é a única forma de libertar as mulheres da opressão, justamente por acabar com a desigualdade em sua raiz. No entanto esclarece que ela não irá ocorrer apenas com a tomada do poder pela classe trabalhadora, mas sim com a mudança cultural seguida à revolução, por isso a importância da classe trabalhadora desde já levantar as pautas dos setores oprimidos, inclusive dentro do movimento operário que também é permeado de machismo, porém com a clareza de saber que nessa batalha os inimigos não são os homens, mas sim os capitalistas e governos que mantém esse sistema.

A Conferência também ambientou os corredores da universidade na fala de meninas que elogiavam e diziam “teve coisas que ela falou que realmente eu nunca tinha percebido daquela forma”.

Os questionamentos apresentados por Diana Assunção “é possível acabar com a opressão às mulheres sem acabar com a exploração? Nossa emancipação virá dentro deste sistema capitalista?” proporcionou debates em torno das perspectivas feministas diversas, intervenções sobre pautas como aborto, creche pública e outras colocações como a questão do trabalho informal da mulher nordestina, do espaço da mulher na política e das estratégias de lutas pelos direitos das mulheres contra o sistema de exploração.

 
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