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RIO DE JANEIRO | DEBATE |
Uma imensa força contra Pezão e as contradições que a PM está abrindo no movimento
Rita Frau Cardia

Uma grande manifestação tomou o centro do Rio de Janeiro ontem. Com o centro todo militarizado, inclusive com a presença da Força Nacional liberada por Temer para ajudar seu aliado Pezão na repressão contra os estudantes e servidores que protestavam contra o “pacote de maldades” do governo do estado. A polícia militar na ativa reprimiu duramente o ato e, ao mesmo tempo, contradições importantes estão colocadas no movimento pelas posições dos setores da segurança que participaram na manifestação e também se voltaram em parte contra os manifestantes “civis”.

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(Foto: SEPE}

O pacote de Pezão inclui medidas como acabar com diversos programas voltados à população mais pobre do Rio, tais como o “aluguel social” que tem como beneficiários moradores vítimas de catástrofes naturais, fim dos restaurantes populares, até mesmo alterações ou a extinção do bilhete único estão em debate, entre outros direitos que serão cortados. O projeto também previa um confisco de 30% dos salários dos funcionários públicos na ativa para pagar as aposentadorias (supostamente), além de confiscar uma outra parcela dos salários dos aposentados, mas nesta semana Picciani e Pezão deram declarações que recuariam no tamanho do confisco, aumentando a alíquota previdenciária de 11% para 14% e, por enquanto, abrindo mão da alíquota extraordinária de mais 16%. Todas essas medidas acontecem ao mesmo tempo em que segue o pagamento da dívida e bilionárias isenções fiscais aos empresários.

Há notícias veiculadas pela grande imprensa afirmando que Pezão estaria disposto a alterar o confisco do salário dos trabalhadores da ativa em troca de outras medidas relativas às aposentadorias. Também há intensas movimentações por parte de deputados para retirar os policiais e bombeiros do “pacote de maldades”. Essa reivindicação também tem sido defendida por associações sindicais e representantes desses setores.

Na movimentação da polícia, nas discussões sobre o possível impeachment de Pezão e nas várias denúncias dos gastos absurdos e bilionários do alto escalão do executivo, legislativo e judiciário que a mídia tem estampado diariamente, se vê como a crise acentua a divisão dos “de cima”. Nesta divisão, por fora de pensar os sujeitos sociais e programas, as palavras de ordem “fora Pezão” e “fora Picciani” ganham conteúdos muito diferentes e não necessariamente de esquerda, dependendo de quem passa a ser o portador deles.

Por parte das polícias nas manifestações que defendem os seus direitos e não os do funcionalismo, pois querem ser retirados do pacote de maldades e não defendem sua completa revogação, trata-se, para uma parcela significativa deles de um grito de “uh é Bolsonaro”, como cantaram muitos que ocuparam a ALERJ semana passada. Setores da polícia no ato de hoje chegam a levar faixas reivindicando “intervenção militar já”; esse é o complemento do “fora todos” desse setor. Policiais à paisana no ato, como “manifestantes”, atacaram jovens que eles identificavam como black blocs, além de exigir a retirada de bandeiras e faixas de sindicatos e da esquerda.

Ou seja, atuaram para que a manifestação fosse só deles e de direita. Isso tudo foi facilitado depois da imensa repressão que a PM (de farda e não no ato) atacou a manifestação.

A polícia não apenas reprime nossas manifestações, apoia Bolsonaro e vai ao ato com uma faixa pedindo "intervenção militar já". Apoiar suas reivindicações é apoiar o aprimoramento de uma instituição que tem como finalidade assassinar e reprimir a juventude negra nas favelas, perpetuar uma multidão de Amarildo, Cláudia, DG, Rafael Braga cotidianos. Não são nossos aliados porque seu papel é de manter a propriedade dos ricos e sua exploração sobre nós, e a melhora de suas condições de trabalho significa o aumento da repressão para os trabalhadores e o povo pobre.

Com que sujeito derrotaremos Pezão?

Boa parte da esquerda está comemorando o ato de hoje, comemorando uma suposta deserção na polícia (aparentemente uma recusa de reprimir policiais e não outros manifestantes “comuns”). Mas se trata de aplaudir uma posição inimiga aos interesses da juventude e do funcionalismo. A polícia e os bombeiros lutam por seus direitos no pacote de maldades e uma parcela deles luta por “intervenção militar já”.

Aplaudir um setor que canta por Bolsonaro, que pede intervenção militar, e reprime a esquerda e manifestantes, não só quando estão fardados, mas também à paisana, mostra o nível de deriva estratégica da esquerda no país. Essa posição foi mais entusiástica justamente em setores da esquerda que apoiaram o golpe abertamente, como o PSTU e, mais envergonhadamente, o MES de Luciana Genro que defende até hoje a Lava Jato. Estes setores da esquerda que aplaudiram a polícia fizeram isso no mesmo dia que um setor de direita ocupou o congresso reivindicando o mesmo que uma parcela dos policiais do Rio: “intervenção militar já”. Não se pode descartar uma articulação nacional de setores da direita nas ações de hoje.

A grande presença de professores, estudantes, e diversos setores em greve para além do peso das forças repressivas no ato mostram que a força social que está em movimento para derrubar o pacote de maldades pode se estender. Para essa força se desenvolver, é necessário ter clareza de quem são seus aliados e quem não são, como é o caso das polícias.

Para sermos vitoriosos é urgente que os sindicatos dirigidos pela esquerda, como é o caso do SINDISCOPE, SEPE, e vários outros, organizem manifestações dos grevistas e da esquerda contra os ataques de Pezão. É preciso que a importante força que se manifestou contra a direita na votação expressiva de Marcelo Freixo se ative para barrar os ataques de Pezão, a partir de uma política independente, dos trabalhadores e sem polícia, para que se possa instituir uma saída de fundo a essa crise. Que avance para impedir os ataques, e passar à ofensiva impondo um programa de taxação das grandes fortunas, não pagamento da dívida pública, fim das isenções fiscais aos capitalistas, e que todo político ganhe o mesmo que uma professora.

O Rio pode ser um contraponto e um impulso nacional contra os ajustes ajudando a superar a trégua de CUT e CTB que organizam “dias de paralisação” contra os ataques de Temer sem construir nos locais de trabalho, esvaziando as possibilidades de luta para realmente parar os ataques de Temer, do Congresso e do judiciário.

Hoje mostrou-se uma grande força; se não desenvolvermos a coordenação dos setores em luta no nível da cidade e do estado, não levantarmos uma posição claramente independente da burguesia e suas forças políticas e repressivas, se não dermos uma saída anticapitalista para a crise do Rio, setores que apoiam Bolsonaro poderão continuar dividindo as manifestações e as manipularem para seus fins políticos reacionários.

 
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