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CULTURA
Luiz Carlos Maciel e a contracultura no Brasil
Fábio Nunes
Vale do Paraíba
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  •  E o Luiz Carlos Maciel?
  •  Quem?
  •  Luiz Carlos Maciel (Porto Alegre RS 1938), jornalista, dramaturgo, roteirista de cinema, filósofo, poeta e escritor. Figura da pesada no cenário cultural brasileiro nas décadas de 1960 e 1970, entre outras coisas, debateu e propagou a contracultura no Brasil através da "imprensa alternativa".

    Underground no Pasquim (1969/1971)

    Em 1969 Maciel foi convidado pelo jornalista Tarso de Castro a participar do semanário O Pasquim e lançava a coluna Underground. Nesta coluna de duas páginas, Maciel discutiu e divulgou questões relacionadas ao movimento contracultural, como rock psicodélico, sexo, drogas, filosofia, psicanálise, antipsiquiatria, religiões orientais, vegetarianismo, comunidades alternativas, movimento hippie, além de música popular brasileira, tropicalismo, religiões afro-brasileiras.

    A coluna do Maciel no Pasquim era uma novidade cheia de contradições. A barra tava pesada depois do AI-5. Tortura e censura foram institucionalizadas em 1969 e no governo Médici o desespero era a cara do momento. Existiam poucos caminhos a seguir: luta armada, contracultura ou a vida bem comportada. Maciel optou pela segunda alternativa, foi buscar na psicodelia uma saída (ou uma fuga?). "Drop out", "dar fuga", pegar aquele velho navio e desembarcar em alguma praia deserta. Vida comunitária. "Sociedade Alternativa" nos "anos de chumbo". Tomar LSD e fazer sexo com Deus e o mundo numa vibe menos opressora. Meditar umas paradas. Fazer arte por fora dos mandos e desmandos do mercado.

    A direita dizia que as idéias contraculturais, o movimento hippie, eram nocivas à ordem e ao progresso do país, coisa de "vagabundo" que não queria trabalhar e constituir família. Para a esquerda tradicional, influenciada pelo stalinismo, a contracultura era o "desbunde", uma expressão hedonista e individualista vendida como rebeldia pelo imperialismo norte-americano, segundo alguns stalinistas homofóbicos, papo de "viado" que não teve coragem de ir para a luta armada e ficou fumando maconha nas "dunas do barato".

    A Flor do Mal (1971)

    Após a experiência e o fim da coluna Underground, Luiz Carlos Maciel, os poetas Tite de Lemos, Torquato Mendonça e Rogério Duarte, fundaram A Flor do Mal (1971), um jornal independente e "marginal". O principal interesse desse jornal era dar voz aos iniciantes, artistas de vanguarda, “malucos” banidos pela imprensa oficial. Uma publicação nada convencional, seu conteúdo contemplava poesias em versos, poemas em prosa e alguns textos eram considerados surrealistas ou mesmo absurdos.

    A capa do primeiro número de A Flor do Mal continha um texto de Baudelaire sobre a imprensa e a foto de uma menina negra sorrindo, despida do peito para cima, representando a pureza de uma geração estrangulada pela ditadura. Segundo Maciel, a fotografia, que ilustra o primeiro número, foi encontrada pelo poeta Torquato Neto, no chão da redação do jornal Última Hora, pisoteada. Este era o espírito: experimentalismo radical.

    A iniciativa durou apenas cinco números, contudo, sua tiragem foi de 40 mil exemplares, dos quais, vendeu-se a metade. Um sucesso para uma publicação underground ou um fracasso nos marcos comerciais? Os "pirados" dos 70 não estavam muito preocupados. A beleza da Flor era justamente a sua marginalidade, seu estado permanente de recusa. A Flor se inventou. Para Maciel, representou um momento de liberdade, justamente num momento de intensa repressão e censura.

    Rolling Stone (1972)

    Em 1972, Maciel é chamado para editar a revista Rolling Stone no Brasil, outra plataforma contracultural no país. Maciel assina seus textos "malucos" sobre temas muitas vezes desconhecidos pelo grande público e a revista apresenta os grandes nomes do rock. Janis Joplin e Jimi Hendrix na cabeça tupiniquim. Gal Costa e Caetano Veloso pós tropicália num ritmo mais frenético porém adocicado. A psicodelia vai ficando famosa, mas a Rolling Stone do Maciel não durou muito tempo devido a falta de dinheiro.

    Sem conclusão

    Aliás, estes não foram os únicos experimentos fracassados, Maciel coleciona outros, assim como muitos de sua geração. Fracassos de uma época derrotada pelo terror totalitário e pelo neoliberalismo. Os marginais dos anos 1970, estranha fauna-flora psicodélica. O poeta Torquato Neto não quis ver o final da década e ligou o gás para a viagem sem volta, alguns seguiram loucos e abandonados, teve gente que conseguiu dar um rumo na vida, outros, antigos incendiários, viraram bombeiros do sistema capitalista.

    Maciel, que trabalhou muitos anos como roteirista na Rede Globo, hoje segue por fora da grande mídia e das grandes jogadas. No ano passado fez um apelo nas redes sociais pedindo emprego. A maré não está boa para o poeta da Flor ou nunca esteve? Uma coisa é certa: vivemos uma época careta esteticamente. Deve ser difícil para alguém que viveu a parada experimental da contracultura. Pelo Facebook o Maciel se coloca contra o avanço da direita e a favor das lutas operárias e estudantis. O cara do "desbunde" encontra algum eco entre a juventude.

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