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MITO DA IMPARCIALIDADE
A Roda Morta da imparcialidade - ainda sobre a "entrevista" de Temer no Roda Viva
Guilherme Costa
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O mito da imparcialidade do jornalista persiste como uma regra mesmo entre os meios que se autodenominam de esquerda. Não foram poucos os colegas, amigos e meios de comunicação que denunciaram a “entrevista” de Michel Temer na comemoração de 30 anos do Roda Viva como a “morte do jornalismo” em troca da “propaganda” do governo (como o golpista mesmo descreveu nos bastidores ao ‘parceiro’ da TV Cultura - veja o video aqui). Algumas perguntas devemos nos fazer. Primeiro, se o jornalismo morreu agora, o que estava vivo antes? E se não está mais vivo, que papel então cumpre os jornais que hoje falam para milhões de brasileiros e foram parte ativa do golpe no país?

Realmente, quem se deu ao tempo de assistir as quase 1h30 do vampiro golpista destilando seu português ‘culto’ fica indignado com o baixo nível dos jornalistas que, diga-se de passagem, são considerados parte da fina-flor da imprensa nacional. Não bastasse o clima de comadres, os elogios indiretos, as fofocas na coxia e o arremate final de Noblat de como Michel conheceu Marcela, a crise de desemprego e o grave deterioramento das condições de vida dos trabalhadores passaram ao largo das perguntas. Parecia um jogo de vôlei cujo pivô era o pemedebista golpista. Não faltaram momentos para defender os ataques à juventude e aos trabalhadores. O tema mais “espinhoso” foi a Lava-Jato, que como já denunciamos inúmeras vezes no Esquerda Diário, é defendida com unhas e dentes pela direita mais reacionária do país e por setores da burguesia para acelerar os ajustes, privatizar estatais, vender a Petrobrás para estrangeiros - tudo menos combater de fato a corrupção.

Mas outra coisa que também chocou bastante foi o tamanho da surpresa de boa parte da imprensa petista com a entrevista.Os Jornalistas Livres fizeram uma matéria, reproduzida por outros meios também petistas, que viralizou nas redes. Por que só agora assinam o obituário do jornalismo? Estavam presentes na entrevista Estadão, Globo, Folha de São Paulo, Veja e a TV Cultura. Quatro dessas representam quase a totalidade do monopólio da imprensa no país (agora ‘ameaçado’ com a ascensão neopentecostal da IURD e Record), apoiaram a ditadura militar, sempre estiveram ao lado da aristocracia financeira, do grande empresariado brasileiro e agora apoiaram integralmente o golpe institucional no país, se conformando como uma das principais peças-chave do ajuste fiscal que vem assolando a população. E só agora dizem que o jornalismo morreu? O que estavam esperando da entrevista? Eles ajudaram a colocar Temer onde está, era de se esperar que fossem levantar a bola.

Por trás dessa surpresa recai, na verdade, o mito da neutralidade. Se algo morreu, algo estava vivo antes. Estaria, portanto, vivo o jornalismo imparcial antes do golpe? Ou a imprensa petista simplesmente se nega a enxergar a força que a mídia burguesa possui? A primeira hipótese me parece mais razoável (ainda que a segunda também não seja de todo mal) e é fundamentada na repetição do mantra repetido nas faculdades de comunicação do país de que é necessário ser o mais imparcial possível, mesmo sendo impossível atingir sua plenitude. Quando estamos falando de política, não existe imparcialidade. A mera seleção de determinado objeto de análise já apresenta uma visão de mundo (“a visão de um ponto é também um ponto de vista”). O jornalismo neutro como é difundido, portanto, nunca existiu de fato. Não há ponto de vista imparcial, não há visão de mundo sem pré-concepções, não há pergunta sem interesse, não há descrição desinteressada, não há entrevista sem posicionamento, não há jornalismo “puro”. Esse morreu nas barricadas francesas em 1848 quando a burguesia massacrou o proletariado insurreto e caiu por terra a ideologia burguesa, e com ela todo o palavreado de liberdade em abstrato.

O mito da imparcialidade serve a quem está no poder, a quem tem mais força, e essa máxima faz cada vez mais sentido em momentos de efervescência política como o que estamos vivendo. O que existe é posicionamento diante da realidade e se o jornalismo moderno não entender isso não vamos nunca conseguir combater o discurso da elite. O que a tropa de choque da imprensa nacional foi fazer no programa de segunda foi uma operação política calculada, como cada editorial escrito, cada manchete programada, cada post no facebook…

Reconhecer isso não significa que devemos nos abster da disputa neste terreno. Uma imprensa dos trabalhadores é imprescindível. Os jornais da burguesia seguem vivos atuando quase como um partido que educa as massas não só em seus programas e políticas, mas também com sua filosofia. Agora falam a milhões de brasileiros, tentando convencê-los de que é necessário retirar direitos para ‘tirar o Brasil do vermelho’. O PT, por sua vez, nunca se dispôs a desenvolver o seu próprio jornal, porque nunca fez parte de sua estratégia. Pelo contrário na verdade, financiou como nunca antes na história desse país a Rede Globo e outros monopólios durante o governo Lula e Dilma. A sua estratégia de conciliação de classes também se reproduz nas relações com as famílias Frias, Marinho, Mesquita, Civita, etc.

Mas só desenvolver uma mídia de esquerda não basta, é necessário construir uma imprensa militante que atue como um organizador coletivo dos trabalhadores, o contrário da política de alianças com a elite do petismo, que faça frente de fato à direita e de maneira independente do PT. O Esquerda Diário está a serviço dessa luta.

 
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