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TRIBUNA ABERTA
Profissionalizamos a covardia
Paulo de Jesus

Como nós trabalhadores entramos mais nas sombras de nossas vidas e nos submetemos aos interesses de organizações.

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Foto: Leandro Tanques - 29 de Abril

Alienação seria a resposta? Como nos alienamos? Tenho pensado em alguns profissionais importantes, não que outros não sejam, que estão sempre em destaque em nossa sociedade. Professores, policiais, jornalistas, médicos... Alguns se entregam à escuridão destes dias, se abstém de suas opiniões pela organização, ou tão maravilhados com seu conhecimento técnico tornam-se abjetos às pessoas que deveriam ajudar. Nem todos são assim, mas por que pensamos só em cumprir e não em como, porque, quem, por quem? Minha análise não é inovadora, pois como me lembrou o amigo, e professor, Luiz, Adorno já citava em sua obra o engenheiro que melhorou as ferrovias nazistas sem pensar ou refletir que elas levavam até Auschwitz.

Seria uma falha em nossa educação? Citando o mestre e xará Freire: “Não basta saber ler que ’Eva viu a uva’. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho”. Sabemos quem lucra, mas quando estamos com pena ou pau em punho, lembramos de quem é Eva? Em minha análise o profissional que avalio, no contexto de Freire, é o vendedor da uva.

Aqueles profissionais que poderiam com um simples gesto de compreensão ensinar que o termo certo é pneumonia, caso recente, ou orientar melhor sobre higiene, métodos contraceptivos, DST’s, mas perto da simplicidade das pessoas preferem a arrogância, o julgamento a distância. Quantas vidas salva um médico por ano? Quantas pessoas ele deixa de orientar porque não se solidariza e consequentemente volta a ter que tratá-las?

Quantos são salvos pela polícia a cada ano? Mas quantos jovens, principalmente negros, são executados em nossas ruas, vilas, comunidades? Mesmo que estejam em um veículo para comemorar seu primeiro salário, triste caso. Quantos apanham de policiais, ou guardas, por não concordarem, por não se subjugarem, por não se submeterem, por não abaixarem a cabeça. Vi um vídeo em que uma mulher, brava e talvez até alcoolizada, levou uma cotovelada de um policial. Me pergunto é realmente culpa da corporação ou falham em sua conduta pessoal? Há todo o estresse da profissão, mas há toda a cultura de militarização. Há um ser humano de baixo da farda que pode ser, arrepiem, humano, mas preferiu violar a ouvir umas verdades.

O mesmo raciocínio se aplica a jornalistas que podem mitigar estereótipos e dialogar com vários setores em seus pequenos recortes do retrato da realidade, porém amedrontados, confortáveis ou preguiçosos mesmo, se escondem atrás de Editores, que se escondem atrás de Chefes, donos e editoriais. Não vêm que suas ações ajudam a diminuir a capacidade crítica da sociedade. Não podem ser mais isonômicos em suas análises? Se dizem imparciais, mas se haverá um filtro em seu veículo não deveriam escrever com imparcialidade, editar com cuidado, e vezes, brigar pelos ideais que os levaram à profissão?

Ideais e senso crítico não deveriam ser o compromisso de professores com seus alunos também? Então, porque vimos uma onda de desocupações suportadas por Diretores e professores? Não querem que seus alunos pensem com autonomia? Professores contrários à greve e ocupações que podiam defender seus empregos e ganhos por 20 anos, não são fáceis de entender. Aqui no Paraná estavam em greve, nem podiam argumentar que perderiam suas férias por causa das ocupações, mas o fizeram. Já Diretores que se submetem ao governo do estado e não podem perder seja lá o que tenham, até que faz sentido, a curto prazo. Não é bonito, aliás, é entre outras coisas, mesquinho.

Foto: Paulo Jesus - Ocupações

Não posso aprofundar aqui o debate sobre o jornalismo, espiral do silêncio e agenda setting. Nem tenho todas as referências para falar de desmilitarização, medicina mais humanizada ou docência. Mas gostaria de falar de decência.

Muitos destes estão se escondendo atrás de seus ganhos, pensando em números em manter-se, permanecer ali. Imaginem se no dia 29/04 toda a PM do Paraná também protestasse e ao invés de seguir ordens defendesse sua previdência. Que a cada linha escrita, cacetada não dada, bomba a ser jogada, consulta feita, classe que se entre ou ‘trampo’ a ser feito sejamos mais humanos, empáticos e entendamos as motivações de quem nos procura, quem nos opõe. Seguir ordens é confortável, assim como manter os ganhos, posições e benesses, mas em pequenas palavras, gestos e omissões podemos mostrar que somos párias de um sistema político-econômico. Ou agir diariamente e mostrar se vamos resistir em nossa humanidade e convicções.

 
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