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OPINIÃO
O Que a luta dos negros nos EUA dizem sobre a desmilitarização da polícia?
Francielton Banareira, diretor do Sind. dos Metroviários de SP e militante do Mov. Nossa Classe
São Paulo
Thiago Mathias
São Paulo |
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No Brasil, a juventude negra é vítima de uma política de extermínio sem igual. A polícia, por sua vez, é uma das que mais mata no mundo.

Assim como no Brasil, a população negra dos EUA é exterminada pela polícia e os presídios estão povoados pela juventude negra.

Aqui é debatido por diversas organizações uma saída institucional de desmilitarização da polícia como solução para a violência. Mas em Ferguson, Nova Iorque ou Baltimore, a polícia racista está longe de ser militarizada.

Militar ou civil, o racismo é política de estado

Segundo a campanha da Anistia Internacional, “Em 2012, 56.000 pessoas foram assassinadas no Brasil. Destas, 30.000 são jovens entre 15 a 29 anos e, desse total, 77% são negros. A maioria dos homicídios é praticado por armas de fogo, e menos de 8% dos casos chegam a ser julgados”.

No Brasil, a pesquisa divulgada pelo IPEA, a Pesquisa Nacional de Vitimização, mostra que 6,5% dos negros que sofreram uma agressão tiveram como agressores policiais ou seguranças privados (que muitas vezes são policiais trabalhando nos horários de folga), contra 3,7% dos brancos. O Departamento Penitenciário Nacional (Depen), revela que os negros representam quase 60% (275 mil) do total de detidos, pelos dados de 2012.

Ou seja, no Brasil, oficialmente, os jovens negros sofrem o dobro da violência policial e são 60% da população carcerária. Sabemos que apesar de revelar um racismo absurdo, estes dados oficiais não revelam a real proporção, uma vez que o Estado brasileiro omite essa proporção dividindo a população sob a alcunha racista de “negros diferente de pardos”.

Nos EUA, os índices oficiais de assassinato cometido pela polícia é menor, apesar dos protestos refutarem esses índices. Mas os índices da população carcerária revela que nos EUA o alvo da polícia é igualmente os filhos da classe trabalhadora negra.

Segundo a pesquisa do Pew Research Center “Em 2010, a taxa de encarceramento para homens brancos sob as jurisdições estadual, federal e local, foi de 678 presos por 100.000 residentes brancos nos EUA. Já para os homens negros, foi de 4.347 a cada 100.000. De acordo com o Bureau of Justice Statistics, os homens negros têm mais que seis vezes mais probabilidade de serem presos que os homens brancos”.

Os EUA têm a maior população carcerária do mundo, em suma maioria composta por jovens negros.

A polícia é racista e mata porque é capitalista

Em Baltimore, NY, Ferguson e em todos os EUA, a polícia é civil. Os policiais passam por um recrutamento oferecido pelos departamentos locais em nível municipal, estadual e federal. Em algumas regiões existe a eleição democrática para o Xerife local. Nada disso evita que a polícia dos EUA seja uma das mais racistas em todo o mundo, nem que sua população carcerária (a maior em todo o mundo) seja composta em sua maioria pela população negra, em um país de maioria branca.

Em North Charleston, local onde Walter Scott foi executado por um policial civil, que é a terceira cidade mais povoada da Carolina do Sul, tem 100.000 habitantes, 47% são negros e 37%, brancos. O departamento de polícia, entretanto, é composto em 80% por brancos, segundo os últimos dados do Departamento de Justiça, de 2007.

O maior controle democrático da polícia e sua desmilitarização no Brasil, são pautas defendidas desde ONGs como a Anistia Internacional, até organizações de esquerda como o PSOL e PSTU. Supostamente serviriam para diminuir ou atenuar o extermínio e perseguição da população negra, assim como a violência policial de maneira geral. Não é o que os dados e a luta dos negros norte-americanos revela.

Um olhar sobre o drama dos negros nos EUA, revela que a desmilitarização da polícia e sua “democratização” é na verdade um engodo.

Desde os movimentos por direitos civis nos anos 60-70 até a política neoliberal de “tolerância zero” nos EUA, onde a polícia mesmo sendo civil e com representantes democraticamente eleitos em pequenas cidades, seu caráter social racista e capitalista não muda.

Assim como nas eleições burguesas de maneira geral, o racismo impera pelo mesmo motivo do Brasil em toda a polícia nos EUA, pois: A polícia é um órgão do Estado capitalista. Como instrumentos da classe dominante, a polícia e os órgãos de Justiça arregimentam sua força contra a classe trabalhadora, em especial a juventude.

Neste sentido, o debate de democratização e reforma da polícia cria uma “ilusão cívica” de que é possível haver uma polícia não-racista no Brasil, civilizar o incivilizável: ensinar modos aos capitães-do-mato moderno e seus senhores capitalistas quatrocentões.

Desmilitarização versus autodefesa: Os negros no Brasil e nos EUA estão nos ensinando a lutar

O povo negro, por ter sido imposta sua situação de escravatura nas colônias da américa, estão hoje compondo a base da classe trabalhadora em nossos países onde o tráfico negreiro foi imposto pela elite branca.

A luta contra a violência policial ao povo negro deve ser uma bandeira de todas as organizações democráticas e de toda a classe trabalhadora branca.

Desde Baltimore, Ferguson e NY, até Paraisópolis, Alemão e Providência, os trabalhadores negros resistem à polícia com manifestações de massa, barricadas, paus e pedras. Em distintas situações se abre a necessidade da população criar organismos próprios para sua autodefesa contra a violência do Estado.

Podemos aprender um pouco mais com os negros dos EUA, desde os exemplos dos Panteras Negras, mas não com os Xerifes da “polícia civilizada”.

 
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