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40º ENCONTRO ANUAL DE ANPOCS
Análise sobre Conjuntura Econômica do país: Economistas defendem aprofundamento do ajuste e maiores ataques para classe trabalhadora
Nivalter Aires

O Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), que reúne grande parte da intelectualidade das áreas de Sociologia, Antropologia e Ciência Política do país, está acontecendo entre 24 e 28 de outubro na cidade de Caxambu – MG, esse ano na sua 40ª edição.

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[1] Think tanks significa organizações/instituições que atuam no campo dos grupos de interesse, produzindo e difundindo conhecimento (ideologia) sobre assuntos estratégicos, objetivando influenciar transformações econômicas, sociais, políticas, ou até mesmo científicas. Especialmente em temáticas que o senso comum não encontra de maneira fácil uma base para análises de forma objetiva.

No dia 26, segundo dia das mesas do Simpósio de Conjuntura da ANPOCS, focado na Conjuntura Econômica, foram convidados para falar sobre a situação econômica do país o Macroeconomista Luiz Fernando de Paula da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), e os microeconomistas Flávia Chein da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Marcos Fernandes da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), a coordenação da mesa ficou com responsabilidade de Cláudio Couto também da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). No dia anterior aconteceu a mesa de conjuntura política cuja análise está disponível para leitura nesse jornal.

As falas foram marcadas pela exposição de gráficos, tabelas, pressupostos de modelos, conclusões apontando para a emergência da necessidade do ajuste fiscal.

O primeiro a falar foi Luiz Fernando que se propôs a apresentar a política econômica adotada por Lula, Dilma e um esboço das que tem sido adotadas por Temer.

No que se refere ao período Lula ele destacou que o consumo interno puxou o crescimento econômico, associado ao importante papel do boom das commodities. Em termos de resultado viu-se aumento do nível de emprego, da renda das famílias e do consumo e uma redução da inflação.

No que se refere ao período Dilma, apontou que sua política econômica foi má coordenada, com uma matriz de política macroeconômica confusa. Viu-se uma rápida redução da taxa de juros, politica fiscal de desoneração de impostos a empresários. A partir de 2015 se viu de maneira geral uma tentativa do segundo governo de Dilma fazendo um ajuste naquele cenário complicado, de deterioração dos termos de troca, as investigações da Lava Jato, desvalorização cambial, aumento da inflação, entre outras.

Na aparente ingênua avaliação do governo Temer, é colocado que seu governo quer restaurar a confiança dos investidores. E concluiu a fala concordando com a necessidade do ajuste, mesmo que não nesse formato proposto pela da PEC 241.

A microeconomista Flávia Chein começou sua fala com uma pequena digressão onde fazia uma separação entre Economia (matemática) e Economia Política, ressaltando o caráter cientifico do uso de um aparato matemático e estatístico. Pode-se concluir que sua avaliação de ciência esta estreitamente ligada a dados numéricos, quanto as demais formas de fazer ciência ficaram sem resposta, praticamente relegadas ao campo da não ciência.

A partir daí centrou sua fala na necessidade imperativa de aumentar a produtividade no Brasil, e que a crise em grande medida tem sua explicação na baixa produtividade do trabalho.

Depois de apresentar um conjunto de dados sobre produtividade, muitas vezes confusos e sem muita relação com o segundo momento de necessidade imperativa do ajuste fiscal. Em sua perspectiva a PEC 241 não é o bastante, é preciso ainda um ataque maior, e um conjunto de reformas especialmente a da previdência.

Marcos Fernandes apresentou certa restrição em relação a PEC 241, em grande medida porque economistas insuspeitos são contrários, por economistas insuspeitos ele citou alguns claramente de direita, ou até mesmo ligados ao PSDB.

Mesmo com restrição a essa PEC, em específico, defendeu a necessidade de alguma PEC, defendeu a desvinculação da Educação e Saúde do Orçamento da União. Enfim, destacou, como seus colegas economistas antes dele, a emergência do ajuste, e de reformas.

Concluiu sua fala propondo que os economistas de esquerda reavaliassem seu modo de pensamento, talvez esteja propondo que se deixe de estudar relações sociais de produção para estudar as relações numéricas de lucro, não ficou bem claro isso.

A mesa foi bem alinhada à ideia de que se precisa com relativa urgência do ajuste. Surgiu do público uma questão sobre as possibilidades de Auditoria da Dívida, a resposta dada por Marcos Fernandes foi simples, questionou a necessidade de auditoria, visto que para ele está tudo transparente, basta ir consultar os dados, ou seja para que mexer no que está quieto.

Um elemento que apareceu também na mesa anterior foi o elogio à atuação da EMBRAPA como exemplo na elevação da produtividade na agricultura, ou seja, um elogio velado ao agronegócio.

Outro elemento comum com a mesa de conjuntura política é o foco, e dessa vez praticamente irrestrito aos problemas de natureza interna, desconsiderando e desdenhando dos efeitos da crise capitalista mundial muito menos a luta de classes.

A avaliação geral que se pode fazer das falas, e da passividade dos Cientistas Sociais ouvindo atentamente, é que essa intelectualidade está mais do que conformada e alinhada com a ideia de ajustes e reformas, sem uma avaliação critica do impacto dessas medidas conservadoras para a vida social no Brasil, mesmo para a Universidade e suas próprias fontes de financiamento.

Antônio Gramsci quando discute o papel dos intelectuais apresenta de maneira clara que os grupos sociais criam para si de maneira orgânica uma ou mais camadas de intelectuais que é responsável para lhes dar homogeneidade e consciência da própria função.

Nós do Esquerda Diário não esperávamos que uma instituição como ANPOCS, que agrega os Programas de Pós-graduação em Ciências Sociais de todo o país, realizasse um debate, em termos institucionais, sustentando posições políticas de esquerda, não somos utópicos, mas esta mesa demonstra algumas coisas:

A ausência, em sua composição, de uma pluralidade democrática mínima, nem mesmo no campo da direita, as falas estavam alinhadas e foram complementares no sentido de justificar o ajuste. Viu-se a unidade do think tank [1] no campo das diferentes frações de classes interessadas no ajuste. E como aconteceu na mesa de conjuntura política a luta de classes esteve completamente ausente em qualquer uma das apresentações.

Os economistas de maneira geral exercem esse papel organicamente ligados a defesa de interesse das classes dominantes, exaltando a necessidade de ampliação da produtividade e do lucro, que estão em grande medida associados a intensificação da exploração do trabalho.

Foi isso que se viu nessa mesa, os interesses de certos grupos, aparecendo matematicamente e numericamente como urgência para todos. Uma defesa clara de que os trabalhadores e mais pobres paguem pela crise capitalista.

 
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