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OCUPAÇÕES PARANÁ
Lições do PR: a apaixonante luta pelos que virão depois de nós
Iaci Maria
Ítalo Gimenes
Mestre em Ciências Sociais e militante da Faísca na UFRN

Uma semana pode ser muito tempo, pode ser pouco tempo. Depende de onde você está, o que você está fazendo, de como está se movimentando a conjuntura nacional. Para os secundaristas do Paraná, uma semana foi suficiente para passarem de 20 para 600 ocupações de escolas, e com duas semanas chegaram a mil. Para nós, uma semana junto com esses secundaristas foi suficiente para tirarmos profundas lições.

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Visitamos ao todo 10 ocupações, sendo oito na capital Curitiba e duas na região metropolitana. Se tem algo que essas ocupações tem em comum, é a disposição de luta. Aqueles estudantes sabem muito bem o que estão fazendo, estão bastante conscientes politicamente do que significa esse movimento que protagonizam. Eles sabem que estão fazendo história, e não querem fazer de qualquer jeito, estão utilizando o importante espaço que constroem nas ocupações para se formar cada vez mais. As ocupações são, além de um importante espaço de resistência, um contínuo espaço de formação política, cultural, humana.

Ao longo dos dias, em todas as escolas ocupadas, os estudantes contam com o apoio de professores, estudantes universitários, artistas, que se dispõe a ir até as escolas para oferecer oficinas. Lá eles se reúnem e fazem estudos profundos sobre os efeitos da MP 746/2016, da reforma do ensino médio, e também da PEC 241, a PEC do teto (ou PEC do fim do mundo, PEC da morte, adjetivos é o que não faltam), que congela os gastos em saúde e educação. Também discutem a conjuntura nacional, as opressões e como combatê-las, além de oferecerem e participarem de oficinas de teatro, dança, música, yoga, entre tantas outras. Além disso, em todas as escolas os estudantes estão oferecendo aulões sobre os temas do ENEM, cedidos por professores apoiadores, justamente porque não querem prejudicar os alunos dos últimos anos que farão o vestibular na próxima semana.

Mas como tudo na vida, como todo processo de luta, nem tudo são flores. Se fosse fácil, a luta não precisaria ser imposta. O governo do golpista Beto Richa e sua mídia manipuladora fazem de tudo para criminalizar o movimento, se utilizam de tragédias para forçar a desocupação, tentam colocar estudante contra estudante. A direita também está se organizando e tentando construir um movimento “Desocupa”, tendo o MBL a frente. Sim, aqueles moleques reacionários que tiravam selfie com o Cunha, se diziam apartidários mas foram candidatos nas eleições municipais pelo DEM, partido da base aliada do governo golpista. Tentam invadir as ocupações, criminalizar o movimento plantando provas, como pixações que os estudantes não fizeram, além de ir até as reuniões apenas para provocar e tentar criar fatos políticos, manipulam imagens para mentir que foram agredidos.

Ali em Curitiba vimos também que os estudantes já confiam em suas próprias forças e expulsaram as burocracias estudantis da UPES e da UBES de cada escola onde tentaram tomar a frente da luta, e dizem como muita clareza: UPES e UBES não falam em nosso nome. Por isso é fundamental que as mil escolas ocupadas no Paraná se articulem de maneira independente, através de um Comando Unificado de escolas ocupadas, com representantes eleitos em cada colégio.

Isso tudo nós vimos de perto e de dentro, tendo a incrível oportunidade de viver em uma ocupação por uma semana, e por isso podemos dizer com toda certeza: é urgente cercar a luta dos secundaristas paranaenses de apoio e solidariedade. Mais que isso, é urgente que o Paraná seja a faísca que incendeia o país inteiro, que em todos os estados as escolas sejam ocupadas e a luta contra o governo golpista seja uma só, que golpeie com um só punho.

Vimos naqueles jovens o brilho no olhar de quem não vai ser afetado pela reforma do ensino médio, já que muitos deles já estão concluindo o ensino, mas que não vão aceitar que os próximos sejam afetados. Não é por eles, não é por nós. É pelos que virão depois de nós que eles lutam, de maneira muito séria e organizada. É pelos que virão depois que eles cuidam das escolas, limpam, consertam, descobrem materiais escondidos, laboratórios inteiros trancados em salas sem uso. É pelos próximos que querem se organizar em grêmios, o que muitas escolas não possuem pois suas direções proíbem que eles se organizem de maneira independente, com seus próprios representantes.

E essa é uma das maiores lições que aprendemos com aqueles jovens, em seu feliz despertar para a vida política: lutaremos até o fim, gritaremos para sermos ouvidos, não vamos arredar o pé, pois podemos não sair vitoriosos, mas não descansaremos sem saber que tentamos, que é possível, que podemos tomar o futuro em nossas mãos e lutar não apenas em defesa da educação, mas pela construção de uma nova sociedade.

Sim, venceremos. Eles acabaram com a paz e fizeram como no Chile. Agora façamos nós como os secundaristas do Paraná.

 
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