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Estudantes do Paraná ocupam 600 escolas e dão aula ao resto do país
Iaci Maria

O jornal Gazeta do Povo é um dos maiores jornais do Paraná e, assim como as grandes e principais mídias em todos os Estados, destila reacionarismo em suas páginas, mostrando que “do povo” não tem nada. No momento, tem se ocupado em atacar os estudantes secundaristas que já ocupam mais de 600 escolas. Aqui, quero responder ao absurdo editorial dessa segunda, que busca virar estudante contra estudante e fazer passar a ideia de que a “primavera secundarista” é uma “primavera autoritária”. Autoritário é o governador Beto Richa, a Gazeta do Povo e o governo golpista de Temer que quer impor a Reforma do Ensino Médio e a PEC 241. Os estudantes são exemplos de democracia.

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O principal editorial da Gazeta do Povo, intitulado “As lições das ocupações”, é lançado justamente na mesma manhã de segunda em que passa a valer o decreto do governador Beto Richa, baixado ontem, em que declara recesso escolar de cinco dias apenas para as escolas ocupadas – ocupações que o documento chama de “invasões” a todo momento. Essa matéria gasta palavras para chamar os estudantes de autoritários e bagunceiros, na tentativa de virar estudante contra estudante, colocando que os ocupantes não se preocupam com a educação de todo corpo estudantil da escola. Pois bem, vamos por partes.

Lição “anticívica e autoritária” ou “cidadã coletiva e educativa”?

O editorial, logo no primeiro parágrafo, diz que a ação dos estudantes paranaenses é “anticívica”. Ora, vejamos, se a definição de “cívica” diz respeito àquilo que é cidadão, dos direitos e deveres civis do cidadão com a sociedade.

Como pode ser que uma luta em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade, que inclusive não diz respeito diretamente à educação desses estudantes, mas a educação das próximas gerações pelos próximos 20 anos – dado que tanto a reforma do ensino médio como o congelamento dos gastos não afetam imediatamente a população – seja considerando como uma ação que não é cidadã, ou seja, que não diz respeito aos direitos dos cidadãos? Muito pelo contrário, as ocupações de escolas paranaenses são exemplo de cidadania ação coletiva, de luta pelos direitos sociais e, porque não, são educativas, já que permitem que se construam espaços de debate e formação política. Educativa para, inclusive, questionar até o conceito de cidadania, já que ele mascara que existem classes sociais e que o o reconhecimento da cidadania pelo Estado é arbitrário no que diz respeito à garantia desses direitos.

Questões políticas se resolvem pela força: mensagem dos estudantes ou mensagem do governo golpista?

O jornal segue dizendo que os estudantes estão passando uma mensagem perigosa, de que as “questões políticas se resolvem pela força e pela chantagem”. Mas não foram os estudantes que passaram essa mensagem, foi o governo golpista quem impôs que seus interesses, os interesses dos empresários e do imperialismo, serão aprovados pela força. Foi esse governo quem violentamente deu um golpe e assumiu a presidência do país “pela força”. Foi esse governo quem impôs uma reforma do ensino médio através de medida provisória, por decreto, ou seja, “pela força”. É esse governo que quer impor o congelamento dos gastos por 20 anos, que quer acabar com os direitos trabalhistas, tudo isso “pela força”. Os secundaristas do Paraná estão apenas respondendo da única maneira com a qual conseguem ser ouvidos: tomando em suas mãos o controle do que lhe pertence, de suas próprias escolas.

E é aqui que a Gazeta do Povo decide que vai colocar estudante contra estudante. Passa a defender que o movimento bloqueia o direito à educação dos estudantes, impedindo principalmente os alunos do terceiro ano do ensino médio a terem acesso ao conteúdo que será cobrado no ENEM e demais vestibulares. Assim, esse pensamento também tem gerado um movimento de “contra-ocupação” entre estudantes, levando alunos a organizar mobilizações pra retomar as escolas ocupadas. Porém, basta alguns debates sobre os motivos da ocupação, que parte desse setor contrário passa a compreender e apoiar as ocupações. Os estudantes ocupados estão construindo um profundo processo de politização que é urgente frente à atual cenário da conjuntura nacional, em que a juventude rompe com o individualismo próprio de nossa época e decidem que perder algumas aulas formais para defender a educação dos próximos 20 anos é a melhor aula que eles podem ter e, inclusive, vem dando. Além disso, a programação das ocupações inclui aulas abertas de diversos temas, incluindo sobre os conteúdos cobrados no ENEM, mostrando justamente que sim, os estudantes ocupados possuem essa preocupação.

Os únicos que prejudicam um sem-número de estudantes e bloqueia-lhes o direito à educação são os governos de Beto Richa (PSDB) e do golpista Temer, que atacam a educação e reprimem professores, acabando não com a educação de alguns por passarem um período sem aula, mas com a educação pública de todos ao propor não investir em educação durante 20 anos.

UPES e a apropriação de uma luta que não lhe pertence

O editorial encaminha para o fim colocando como a União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (UPES) tomou a frente das ocupações que antes eram definidas como movimentos espontâneos dos estudantes e passaram a se colocar como interlocutores do movimento. Aqui o erro do jornal é acreditar nas manobras da burocracia estudantil e não procurar minimamente conhecer as ocupações, onde ao se passar por poucas já nota-se que sim, o movimento é espontâneo e independente, as burocracias estudantis da UPES, UBES e UNE já foram expulsas de diversas ocupações e os estudantes estão se organizando de maneira independente. Nós da Faísca - Juventude Anticapitalista e Revolucionária viemos, desde os ataques à educação geridos pelo PT, exigindo da UNE que deixasse de ser um obstáculo à luta dos estudantes em prol de suas regalias e cargos. Agora, pós golpe institucional, a UNE segue completamente estéril e busca recompor os cacos do petismo e mantém todos os seus acordos com os setores mais podres que dirigem a política. Saudamos a força da luta dos estudantes do Paraná e acreditamos que todas as entidades estudantis, independentes do governo e do petismo, devem estar a serviço de cercar de apoio e solidariedade essas lutas.

Por fim, Gazeta do Povo, a única bagunça que acontece por aqui é esse reacionário editorial, que atribui às ocupações a violência que na verdade vem dos governos. Os estudantes não usam a força sobre as negociações, e sim resistem frente aos ataques aos seus direitos e usam suas armas para serem ouvidos. O que esse jornal chama que “primavera autoritária” é sim a “primavera secundarista” – uma feliz iniciação política para tantos jovens

 
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