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Entregadores | iFood paga agências para criar páginas e perfis fake para atacar luta dos trabalhadores

Agências de publicidade a serviço do app de delivery criaram páginas e perfis falsos em redes sociais e infiltraram agentes em manifestações para desmobilizar movimento de entregadores. Esses casos escancaram o absurdo de empresas capitalistas como o iFood, que chega ao cúmulo de apelar para a criação de páginas e perfis falsos para disseminar uma ideologia reacionária nojenta e burguesa entre os entregadores em luta.

terça-feira 5 de abril de 2022 | Edição do dia

Imagem: divulgação/iFood

O iFood criou páginas falsas para tentar desmobilizar a luta dos entregadores, como foi o caso da página "Não Breca Meu Trampo", que criava postagens onde se atacava a esquerda e era contra as greves.

Estimulando a ideia liberal de que o entregador não é um empregado e sim um ’empreendedor’, a descrição da página dizia: “A gente quer melhorar de vida e ganhar mais. SEM patrão e salário mínimo. No corre bem feito a gente tira mais e não tem chefe pra encher o saco. A gente quer liberdade pra trampar pra quem a gente quiser!”.

“As páginas foram feitas para interagir com os entregadores, para entender eles. Mas também para ajudar o iFood no seguinte sentido: as pessoas querem fazer greve, mas o iFood não quer greve, então, ao invés de cancelar a manifestação e soltar um monte de fake news, nós usávamos a inteligência [digital] para entender como é que poderíamos esvaziar a narrativa da greve”, contou uma fonte a reportagem do Agência Pública, e que também afirmou ter trabalhado no projeto por meses.

A página "Não Breca Meu Trampo" buscou hostilizar a mobilização dos entregadores, acusando o movimento de “fazer politicagem”. Nos meses seguintes, além de atacar as manifestações, fez oposição a projetos de lei que visavam regulamentar o trabalho dos entregadores e previam benefícios para a categoria.

Quando a página foi criada, um grupo com o mesmo nome foi aberto por Moriael Paiva, também no Facebook. Ele é um marqueteiro conhecido no universo da propaganda política, e coordenou as campanhas de Gilberto Kassab em 2008 e José Serra em 2010. Em seu perfil no LinkedIn, descreve-se como consultor em gestão de crise e posicionamento digital.

Responsável pela página, a agência Benjamim Comunicação foi contratada pelo iFood pelo setor de políticas públicas da empresa, ao menos entre 2020 e 2021. Além da página “Não Breca Meu Trampo”, a agência teria coordenado a criação de outras duas páginas e ao menos oito perfis falsos.

Uma das outras páginas falsas criadas foi a ’Garfo na Caveira’ (ainda ativa), página de memes que propaga a ideologia meritocrática de exaltação do trabalho precário realizado pelos entregadores, com frases como "Não pare quando estiver cansado, pare quando estiver tudo feito".

Em junho do ano passado, as páginas “Não Breca Meu Trampo” e “Garfo na Caveira” teriam alcançado 3,16 milhões de pessoas, com 181 novos posts criados. A agência conquistou 21.029 novos seguidores no período.

Além de contar com o trabalho da equipe de cerca de 12 pessoas, os publicitários contrataram anúncios do Facebook para aumentar o alcance das páginas. Entre abril e agosto de 2021, foram investidos R$12.232,73 no impulsionamento de posts na plataforma.

Com o objetivo de esvaziar a narrativa das greves dos entregadores, as páginas e perfis fakes tentaram levantar como única reivindicação a vacinação, dizendo que ’brecar não está com nada. A gente quer vacina para trabalhar’ ou ‘a gente quer vacina para continuar trabalhando feliz’.

No dia 16 de abril de 2021, um funcionário da agência SQi, também contratada pelo iFood para desmobilizar o movimento, foi até a entrada do estádio do Pacaembu, ponto de encontro dos grevistas, durante uma paralisação. Fingindo ser um entregador, pendurou ao lado do ato uma faixa que pedia “Vacina para os entregadores de aplicativo já” e distribuiu adesivos com a mesma frase.

Durante os meses em que a SQi e a Benjamim produziram conteúdo não assinado para o iFood, foram criados perfis de usuários no Facebook e Twitter para engajar posts e repercutir narrativas. A criação de perfis falsos, que se passavam por entregadores, teria sido uma das estratégias usadas para aumentar o alcance da ideologia favorável ao iFood.

“Os app de entrega trouxe oportunidade de emprego e renda pra quem não tem trampo. Tuitar por breque vai contra nois motoca que precisamo levar o sustento pra casa.” Esse tuíte foi feito no dia 23 de julho de 2021, em resposta a um post que defendia o #ApagãodosApps — um boicote organizado pelos entregadores para pressionar as plataformas de delivery por melhores condições de trabalho.

Esses casos escancaram o absurdo de empresas capitalistas como o iFood, que chega ao cúmulo de apelar para a criação de páginas e perfis falsos para disseminar uma ideologia reacionária nojenta e burguesa entre os entregadores em luta, ao mesmo tempo que mostra o medo que os mesmos tem dos motocas, mostrando a potencialidade da luta dos entregadores, ameaçando os lucros dos patrões e seus interesses.




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