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REFORMAS DE TEMER | Após intervenção repressiva no Rio, jornais seguem exigindo a reforma

quinta-feira 22 de fevereiro de 2018 | Edição do dia

Na última segunda (19) o governo golpista de Temer retirou de pauta a grande reforma das reformas, a menina dos olhos do seu governo, o grande e principal plano golpista do empresariado, a famigerada Reforma da Previdência. Isso foi feito logo depois de sair com o decreto – rapidamente aprovado pelo Senado essa semana – de intervenção federal no Rio de Janeiro, em que permite que as Forças Armadas sitiem o estado, invadam casas, assassine sem pudor ainda mais a juventude dos morros, majoritariamente negra, com seus generais agora colocando as asinhas de fora para exigir que possam agir com a liberdade de não serem punidos por suas ações – ou seja, os assassinatos e torturas – com a criação posterior de uma nova Comissão da Verdade, que apurou os crimes cometidos durante a ditadura militar.

Essa é uma grande mudança no cenário político, que vem pautado pela destruidora reforma da previdência desde o golpe, passando pela aprovação da PEC 55 – aquela “do fim do mundo”, que congela investimentos em serviços básicos por 20 anos – e a reforma trabalhista, conhecida por destruir a CLT. A realidade é que Temer gastou milhões de dinheiro público tanto com propaganda enganosa, que não enganou a população que sabe que a reforma vai acabar com a aposentadoria, e também comprando deputados para votarem a favor, mas não conseguiu até sua data limite o número de votos suficientes para a aprovação. Mas Temer não quis sair por baixo e lançou um “plano B”, uma pauta de 15 pontos a serem votados que substituiria a reforma da previdência. Esses 15 pontos de Temer nada mais são do que a retomada de ataques que já vinham na pauta do dia, como a privatização da Eletrobrás que alguns meses atrás Temer foi até a China para vender.

Mas esse giro todo na política de Temer não agradou nada os empresários. Os editoriais de todos os grandes jornais dessa quarta se debruçaram em deixar bem explícito que não estão felizes com esse plano B. A começar pelo conhecido reacionário O Globo, do RJ, que sempre foi grande entusiasta das Forças Armadas e clamava pela licença para colocar o exército nas ruas fluminenses para matar. Os elogios à intervenção federal viraram críticas quando viram que essa era a justificativa de Temer para o recuo da pauta da reforma.

Em seu editorial “Nada substitui a reforma”, o jornal fluminense define como “desastrosa” a nova política de Temer, criticando que a reforma tenha saído de pauta devido à intervenção federal. O jornal insiste em defender que “É ilusório que o conjunto de propostas reunidas pelo governo compense as perdas com a inviabilização da PEC” devido à intervenção, e que foi a partir dos escândalos com a delação da JBS que “o governo perdeu as condições de executar a mais importante das reformas, sem menosprezar o teto dos gastos e a modernização da legislação trabalhista”. Isso mostra que toda exaltação que havia pelo O Globo pela intervenção das Forças Armadas no Rio em nada significava uma real preocupação com a segurança no Rio – que diga-se de passagem, não houve aumento da violência no carnaval – mas apenas o desejo de reprimir a juventude negra. Quando essa repressão se contrapõe ao desejo de atacar os direitos dos trabalhadores e aprovar o que nos fará trabalhar até morrer, o discurso muda de tom e eles agora gritam “queremos a reforma!”.

O Estadão e a Folha de S.Paulo também não ficaram atrás. Saíram com seus editoriais falando que a lista de 15 pontos não pode nem mesmo ser chamada de Plano B. Clamam pela reforma! São as vozes da burguesia entusiasta do golpe que fazem como uma criança mimada que se joga no chão do supermercado porque quer o brinquedo que tinha certeza que ganharia e agora se revolta contra o pai que negou o presente. Mas aqui o “pai Temer” não é aquele pai firme que simplesmente diz não. É o pai que quer sim dar ao filho tudo que ele quiser, a qualquer custo, e agora tenta de toda maneira justificar que simplesmente não consegue dar esse brinquedo nesse momento, “mas toma meu filho, todos esses outros brinquedos menores que consigo garantir agora”, todos outros ataques que podem aprovar. Mas a burguesia birrenta não quer um ou outro. Quer todos e quer agora.

Rodrigo Maia também não ficou feliz com essa mudança na pauta, e declarou o recuo da reforma e substituição pelos 15 pontos como algo desrespeitoso. O presidente da câmara dos deputados criou certa fissura com Temer e mostra seu grande sonho mesmo é aprovar a reforma da previdência. Por outro lado, o Ministro da Fazenda Henrique Meirelles se manteve lado a lado de Temer, saindo em defesa da nova pauta econômica, mas não por não querer destruir a previdência, e sim por saber que não havia nesse momento força suficiente para aprovar a reforma.

Temer fez uma manobra perigosa. A intervenção federal, colocar as Forças Armadas no Rio, dar a generais do Exército certos poderes políticos, foi uma jogada perigosa, que é terrível para os trabalhadores e a juventude negra dos morros fluminenses. “Guerra às drogas”, “combate à violência”, “preocupação com a segurança”, é tudo só discurso na boca de golpista, que sempre esteve na boca da burguesia mas que agora a própria burguesia prefere não defender se isso for às custas do recuo na necessidade de atacar os trabalhadores. Ou seja, não há preocupação, só desejo de repressão e ataque, hora mais um, hora mais o outro. A pauta primordial da vez é nos fazer trabalhar até morrer.

Temer tenta disfarçar, mas a manobra mostra sua debilidade

Essa nova manobra de retirar de pauta a reforma em nome de suposta preocupação com a segurança do Rio e substituir o ataque pelo seu plano B nem de longe significa real preocupação do governo. Expressa na realidade certa debilidade do governo, que tem um índice de rejeição de 70%, e aprovação de apenas 6% - praticamente a margem de erro. Temer vem adiando a grande reforma das reformas desde o golpe, passando na sua frente outros grandes ataques, mas justamente porque para esse grande golpe final não possuía votos suficientes ainda. Não foram suficientes as propagandas, não foi suficiente a compra de deputados. A população sabe que esse é um enorme ataque, e em ano eleitoral os parlamentares não estão suficientemente convencidos – ou bem comprados? – de serem aqueles que aprovarão tamanho ataque.

Apesar do recuo, outros ataques seguem em pauta e a reforma da previdência pode voltar a qualquer momento. O recuo deles não pode significar nosso recuo também. Mas infelizmente, para a burocracia sindical, é isso que significa.

O último dia 19 poderia ter sido de fato um dia de grandes lutas. Poderia ter sido um dia de greve geral. Um dia que fizesse a burguesia tremer mesmo e os golpistas sentirem a pressão da classe trabalhadora organizada. Mas primeiro se recuou de ser um dia de greve geral transformando em um dia de jornada de lutas. Depois, as centrais sindicais patronais e golpistas, como Força Sindical e UGT, diretamente traíram essa jornada. E a CUT, que esteve a frente de algumas paralisações que ocorreram pelo país e chamou manifestações, não travou um combate ferrenho pela greve geral, menos ainda chamou as demais centrais a organizarem a mesma.

Assim, toda uma raiva que se expressou tão politicamente no carnaval, justamente nessa época que setores conservadores insistem em chamar de “despolitizada”, não foi canalizada e organizada em forma de luta.

Mas o que a escola de samba Paraíso de Tuiuti mostrou, de maneira tão política e tão bonita, não pode ser apagado da memória do país. É ainda possível canalizar essa raiva, aproveitar o recuo da pauta e a debilidade de Temer para organizar desde a base os trabalhadores, em seus locais de trabalho, para barrar o avanço da reforma da previdência. E não apenas, se o país parar não haverá burguesia com força para aprovar e manter os ataques, e uma greve geral pode reverter a reforma trabalhista, denunciada pela Tuiuti como volta da escravidão, e também a PEC 55 e a terceirização irrestrita.

Não é hora das centrais sindicais cantarem a vitória dos recuos, pois essa batalha ainda não foi vencida. Por isso exigimos que se organizem assembleias de base em cada local de trabalho, que se crie um plano de luta contra os ataques e pela imediata retirada das tropas do Rio de Janeiro, um verdadeiro plano de lutas construído junto aos trabalhadores que seja parte do combate por uma greve geral que paralise o país e faça os empresários e golpistas sentirem que no país do carnaval, nem mesmo o carnaval passa por fora da força que tem os trabalhadores organizados.




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