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I Festival de Diversidades do ABC | Virginia Guitzel defende a independência política do Movimento LGBT frente a crise política no Brasil

Nesta segunda feira (28), começou o I Festival de Diversidades do ABC organizado pelo coletivo LGBT PRISMA UFABC. Com mais de 40 estudantes, os palestrantes discutiram os desafios do Movimento LGBT frente o conservadorismo e a profunda crise política e econômica que se encontra o país.

quinta-feira 1º de outubro de 2015 | 18:39

Com um debate caloroso entre os palestrantes e o público sobre o papel do PT na implementação dos ajustes ficais, Virgínia Guitzel desafiou a vereadora de Santo André e o pró Reitor de políticas afirmativas a demonstrar o progressismo do PT que em doze anos do governo aprofundou o trabalho precário, retrocedeu nos diretos das mulheres como no direto ao aborto e não conquistou uma lei sequer em defesa da população LGBT. Em defesa da independência política do Movimento LGBT se enfrentou com ambos que tentaram desfazer as críticas políticas utilizando de baixos debates morais sobre a juventude da travesti e chamando a de "idealista".

Abaixo reproduzimos a fala de Virgínia Guitzel da mesa de abertura cujo tema era “Desafios da Comunidade LGBT: Direitos, Conservadorismo e Homo-lesbo-bi-transfobia”.

“Para dar início, parece-me importante remarcar que adentramos ao oitavo ano de uma crise capitalista mundial comparada somente a crise dos anos 30, que começa agora a ter mais peso em nosso país. As eleições do ano passado expressaram por um lado a crise histórica que o Partido dos Trabalhadores se encontra, expressão da experiência dos últimos 12 anos onde muito pelo contrário de significar um governo dos trabalhadores ou um governo das mulheres com a chegada de Dilma, se manteve aliado ao grande capital, sendo parte ativa de incentivar a bancada evangélica a conquistar o enorme espaço político que hoje tem, que se expressa na retirada do debate de gênero e sexualidade em várias cidades por todo o país assim como a recente aprovação do reacionário Estatuto da Família.

O Brasil, como muitos sabem, é o país que mais mata LGBT no mundo. A cada 28 horas um homossexual é assassinado e 4 de cada 5 crimes transfóbicos que ocorrem no mundo, acontecem no Brasil. É sob um Estado que não reconhece nossa identidade de gênero que passamos profundas humilhações.

Por esses motivos que não é possível lutar por nossa emancipação ao lado deste governo que hoje claramente ataca os trabalhadores com as MPs, com a proposta da Agenda Brasil e tantos outros planos de ajuste que vem preparando. Porém não é verdade que quem não está com o governo está ao lado de Aécio, do PMDB ou de outras oposições burguesa. Por isso mais que nunca é preciso construir hoje uma alternativa independente dos trabalhadores e setores oprimidos.

Uma grande falácia falar de "golpe de direita" quando a direita é parte hoje do governo e de suas alianças, que dão base para sua sustentação. Muito longe de um golpe da direita está uma grande unidade burguesa pela efetivação da política de ajustes e um preparo para uma maior onda de exploração e miséria para as massas trabalhadoras.

Essa conjuntura tão dinâmica coloca a prova as estratégias no interior do nossos próprios movimentos: feministas, negro e LGBT. E colocam para os ativistas e para os oprimidos que sofrem cotidianamente com o sistema capitalista a ter de buscar novas perspectivas para fazer valer nossos sonhos e nossas angustias e assim colocar um basta ao genocídio que sofremos e as pequenas e já naturalizadas formas de opressão em todos os aspectos da vida, seja no âmbito da educação, seja no mercado de trabalho ou ainda na vida amorosa. Para isso é preciso recorrer a história, que tanto nos é negada, para que sejamos hoje um fio de continuidade dessas ideias, partindo dos erros e acertos destes movimentos para colocar de pé um verdadeiro movimento revolucionário que questione tudo e arranque nossos direitos rumo a nossa completa emancipação.

O surgimento do movimento pela libertação sexual é amplamente reconhecido pela revolta de StoneWall em 1969, quando as travestis negras foram de linha de frente junto as mulheres lésbicas e homens gay num enfrentamento de 3 dias e 3 noites contra a polícia que constantemente. O nascimento da identidade orgulhosa e do revide dos oprimidos deu, um ano depois, no surgimento da I Parada LGBT do mundo. Já no que ficou conhecido como Maio Francês em 1968 milhares de estudantes protagonizaram junto a outros milhares de trabalhadores um forte ascenso revolucionário, onde se questionava não apenas os problemas econômicos, mas também as profundas mazelas do capitalismo da opressão e da miséria da sexualidade. É frente um movimento internacional de questionamento a ordem capitalista que importantes organizações surgiram em todo, como foi o caso da FHAR (Frente Homossexual de Ação Revolucionária) na França e o grupo SOMOS no Brasil, primeiro grupo homossexual assumido pelos direitos da população LGBT.

A ousadia desses movimentos se dava em não apenas lutar pela inclusão dos LGBT na ordem capitalista ou no que hoje se tornou tão comum na defesa da "ampliação de cidadânia", mas de ter uma visão muito clara de que os trabalhadores são a única classe progressista nesta sociedade e por isso é ao lado deles que era preciso estar para poder lutar verdadeiramente pela libertação dos corpos e das identidades rumo a uma sociedade sem classes e sem opressão.

Porém os anos 90 tiveram um peso decisivo na história do movimento pela libertação sexual. Em primeiro lugar pelas derrotadas históricas impostas pelo stalinismo e toda a burocracia soviética contra os trabalhadores resultando na restauração capitalista na União Soviética e no leste Europeu, o que permitiu a falsa ideologia "de que o capitalismo venceu" tão propagandeada pela burguesia. É neste momento particular onde os movimentos sociais se divorciam da classe operária, este primeiro perdendo seu horizonte anticapitalista emancipador e o segundo, por responsabilidade de suas direções, se reduzem as lutas salariais e por melhores condições de vida, sem permitir dar vazão a força revolucionário dos que produzem o mundo e podem subvertê-lo com sua luta.

Combinado a esta profunda mudança mundial, o surgimento da AIDS completamente propagandeado como "câncer gay" obrigou os movimentos a se reorganizarem para garantir a sua sobrevivência. O surgimento das ONGS e das políticas assistencialistas dão um novo conteúdo para o movimento que junto ao neoliberalismo vai ganhando cada vez mais uma visão identitária e pós-moderna, alheia a luta de classes e as reflexões sobre a estratégia e a necessidade da superação do capitalismo.

E, hoje, o nosso atual movimento LGBT é produto destas derrotas históricas onde a luta pela libertação sexual e pela identidade de gênero não está mais associada diretamente a um enfrentamento anticapitalista.

Se o capitalismo não é capaz de resolver as mazelas que ele mesmo criou, então que morra”




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