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quarta-feira 20 de maio de 2015 | 00:01

A tendência a uma medicalização cada vez maior do parto leva a uma situação em que as mulheres perdem o protagonismo e se submetem à intervenções cirúrgicas que muitas vezes não são decididas por elas próprias. Como publicamos em uma nota anterior, a atual epidemia de cesáreas mostra como é imposta às mulheres práticas e intervenções em função de interesses que são alheios ao bem estar da mulher e do recém-nascido.

Uma definição geral de violência obstétrica seria a presença de atos físicos ou psicologicamente violentos no contexto da gravidez, trabalho de parto, parto e pós-parto. Esta definição engloba, por sua vez, várias omissões: de informação, das particularidades, respeito a características culturais, que violam o exercício de liberdade e autonomia das mulheres sobre seus próprios corpos. É uma forma de violência naturalizada, incorporada a práticas cotidianas, que se transforma em parte do “normal” e deixa de ser identificada como violência.

Uma das formas mais brutais dessa violência é a despersonalização da mulher. Tratá-la como uma criança sem capacidade de decisão, ignorando seus sentimentos e vontades. Uma prática frequente em muitos consultórios de obstetrícia, que vai tirando da mulher a capacidade de decisão sobre seu próprio corpo e sua própria gravidez.

Existe também uma repreensão à sexualidade das mulheres. “Aguenta, aguenta, na hora de fazer não reclamou”, “se na hora gostou, agora aguenta”, são respostas frequentes à dor do trabalho de parto.

Outra forma da violência obstétrica é o incentivo do medo e da culpa. É criado um sentimento de incapacidade absoluta na mulher grávida, fomentam seus piores medos e alimentam medos novos, tudo para que abaixe a cabeça e aceite qualquer procedimento que o médico propõe. As informações são escondidas e as vezes mentem na cara. Ou por acaso qualquer médico (não um obstetra, mas qualquer médico) não sabe que o parto com a mulher deitada é para comodidade do médico?

Será que os médicos não sabem que a cesariana é um procedimento que deve ser realizado em casos de exceção e não de forma rotineira? Como podemos explicar que 80% dos partos no setor privado de saúde são cesarianas? Isso é violência, uma violência exercida cotidianamente sobre as mulheres grávidas.

E um ato tão humano como nascer, se desumaniza. Desumaniza-se quando se transforma em um negócio, quando a diferença entre o faturamento de um parto natural e da cesárea pesa mais do que o bem-estar da mulher e do recém-nascido. Se desumaniza quando o que importa é respeitar a agenda do obstetra, e que o horário do parto não se sobreponha com o do consultório. Desumaniza-se quando as mulheres se transformam em atores passivos de seus próprios partos.

A humorista Marcela Pichot, mostra todo esse cenário com uma honestidade brutal em um de seus vídeos. É terrível para os que trabalham na área da saúde ter que reconhecer que as cenas mostradas não são exageros, mas que sim situações que são cotidianamente vividas por mulheres de carne e osso, que sofrem em seus próprios corpos essa violência machista.




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