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JUVENTUDE | Vem aí uma nova juventude anti-capitalista, revolucionária e rosa-choque

Vem aí uma nova juventude. Não seremos a juventude do “menos pior” ou da reforma domesticada, nossos objetivos e audácia são muito maiores. Nossa juventude luta e sonha pela revolução, e não pela miséria do possível.

Isabel Inês São Paulo

sexta-feira 4 de março de 2016 | 00:00

“Vamos ser a juventude do sensível e dos grandes debates, nossa radicalidade está em tomar as coisas pela raiz, em relação a todos os problemas desde a sexualidade, nossos corpos, a educação e as lutas. Queremos convergir com a espontaneidade da juventude queimando pneus e cortando rodovias, mas também inovando profundamente, sendo criativa e flexível, com um conteúdo revolucionário e anticapitalista.” Fala de Vitória membro da minoritária da gestão do Centro Acadêmico de Ciências Humanas da Unicamp.

Vem aí uma nova juventude. Não seremos a juventude do “menos pior” ou da reforma domesticada, nossos objetivos e audácia são muito maiores. Uma tarde de sábado, meio nublada em São Paulo, foi o palco de discussões e paixões que confluíram para se lançar uma nova juventude, dezenas de estudantes universitários e secundaristas se colocaram nessa tarefa de construir uma agrupação de juventude que tenha como sentido de existência emergir como sujeito político ao lado da classe trabalhadora desafiando tudo que é estático e moralista com a ambição de querer dar uma resposta revolucionária à crise social e política que vive o país hoje.

Buscar fazer emergir uma juventude com independência política dos setores burgueses é, em si, uma luta política contra tendências governistas, mas também contra juventudes da esquerda que, seja pelo eleitoralismo ou pelo sindicalismo, não conseguem dar uma alternativa política à crise nacional. Daqui algumas semanas já esta marcada mais uma marcha da direita, dia 13 de março, nesse ano convocada diretamente pelos partidos mais reacionários como PSDB e DEM, eles buscam canalizar o descontentamento com o governo para uma saída mais à direita, defendendo o impeachment, que na pratica é uma manobra reacionária por dentro do estado burguês que busca girar a conjuntura no Brasil para passar ainda mais ataques.

A grande questão é que essa semana o governo Dilma, ao fazer um acordo com José Serra (PSDB), que permitiu a aprovação no Senado de um projeto que facilita a entrega do pré-sal, somado aos ajustes e à reforma da previdência, mostrou a completa disposição do governo petista de entregar a Petrobras para o imperialismo, e girar ainda mais à direita, em troca da governabilidade e para atender as pressões de ajustes e privatizações, tudo isso com o medo do impeachment.

Esse claro giro ainda mais à direita mexeu na base sindical do governo, e em vários setores petistas que passaram 2015 defendendo o “menos pior” e os avanços da década petista. As burocracias estão tendo que se desdobrar em dois para aparecer mais de esquerda do que o governo que defendem, o Levante Popular da Juventude precisa criticar a entrega da Petrobras, mas continua seguindo com eixo no debate da onda conservadora. Enquanto isso esse discurso do “menos pior” vem caindo por terra.

Superar a separação da crise política com as lutas é uma ideia profunda e necessária para responder a essa situação, é parte de romper com toda a lógica rotineira e sindical. A crise política que está aberta consegue seguir relativamente independente dos processos de luta, justamente porque essas burocracias governistas agem no sentido de manter as lutas nos marcos econômicos e não deixar que rompam à esquerda com o governo. Nós, por outro lado, queremos nos jogar em cada luta para mostrar que os trabalhadores e os jovens podem dar saída a cada problema do país (e que isso é uma necessidade para impedir que o descontentamento com o governo fortaleça a direita) ao mesmo tempo que queremos que surja uma alternativa politica da juventude e dos trabalhadores, frente a esse regime podre. É uma grande responsabilidade pela qual a juventude está sendo chamada.

As juventudes da direita, com figuras como Kim Kataguiri, estão longe de responder ao anseio por liberdade que essa nova geração quer. Sua “liberdade” é na verdade expressão do mais puro liberalismo, ou seja, mais e mais capitalismo. A ambição de responder aos grandes problemas do país não é vista na juventude governista, já que claramente precisam conter todo ímpeto por mudança, justamente para manter o que está. Mas também nos setores que estão à esquerda do governo, PSOL e PSTU, cada um ao seu modo, acabam caindo em um ou outro lado das tendências burguesas e não conseguem se ligar ao espontâneo e original da juventude, fenômeno aberto desde as jornadas de junho de 2013. Infelizmente não vimos um parlamentar do PSOL colocando sua bancada para dar voz aos trabalhadores demitidos da GM, MABE e diversas montadoras, tão pouco aos secundaristas do Rio de Janeiro ou mesmo a dezenas de estudantes que estão sofrendo com falta de política de permanência estudantil frente aos cortes milionários.

Esse eleitoralismo adaptado que a juventude do PSOL apoia, enquanto dirige entidades estudantis da forma mais rotineira possível, levantando pautas que não se enfrentam com o governo nem com o regime universitário. O problema é que essa esquerda que quer “fazer do capitalismo um lugar um pouco melhor”, não anima nem tão pouco consegue responder a um problema pela raiz. E por outro lado o PSTU tem como eixo da sua política nacional o “Fora Todos” e eleições gerais, se aproximando objetivamente da oposição burguesa e seu impeachment. Falam de greve geral, mas onde dirigem e sofrem um brutal ataque com 517 demissões, como na General Motors de São José dos Campos, não organizam sequer uma campanha séria contra as demissões.

Quando discutimos que queremos construir uma esquerda que emerja na luta, em nenhum momento é uma lógica lutista, pelo contrario, é parte da luta política com a esquerda que passa por fora dos principais processos por estar adaptada a anos de atuação na passividade sindical e parlamentar.

A nova juventude que queremos impulsionar sabe que as mudanças podem ser de um dia para o outro, e que por baixo, no subsolo da consciência de cada jovem está fervendo o espírito da revolução completa desse sistema e da vida. As ações espontâneas que voltamos a ver na juventude do Rio de Janeiro é parte dessa politização e desse espírito. Essas ações é o que vemos de um setor social com maior potencialidade de ruptura com o petismo e suas burocracias. Assim, confluindo com esse processo de forma consciente, é que a juventude pode cumprir um papel político de contribuir pra entrada em cena do movimento operário, dos grandes batalhões desta gigante classe que ainda é, na maioria das vezes, amortizada pelas burocracias sindicais. Esta é a tarefa que nos colocamos e é por isso que sempre estamos de forma tão apaixonada em cada luta, em cada fábrica e em cada local de trabalho. Faz parte da nossa estratégia.

Começamos a lançar uma forte campanha contra o projeto de lei de José Serra, aprovado no Senado com o aval da presidente Dilma que facilita a entrega do pré-sal para o imperialismo. Defendemos uma Petrobras 100% estatal e sob controle dos trabalhadores, essa luta que já começou expressa no muro do escritório de José Serra em São Paulo, é justamente uma pequena mostra da possibilidade da juventude ter política para as grandes questões nacionais, sobre um tema que é crucial, em relação à defesa da empresa, dos postos de trabalho e dos recursos naturais frente ao imperialismo.

A luta por educação pode mostrar a força da juventude

Mais uma vez o ano mal começou e são diversos processos de luta em defesa da educação, então resta uma questão: porque não se unificam em um grande processo político de combate aos ajustes? Como já colocamos, as principais responsáveis são as direções adaptadas ao corporativismo que conscientemente impedem que esses processos se unifiquem. Enquanto isso corta-se milhões de bolsas na UFPE, os professores da UERJ já entraram em greve, os alunos continuam a 150 horas em greve de fome por moradia na Paraíba, a EACH-USP segue em luta por vale transporte e bolsas, e podemos elencar mais diversos exemplos.

O processo que emerge no Rio de Janeiro pode ser um ponto de apoio para unificar todas essas lutas. Confluem nesse estado uma divida à la Grécia, greve de professores da rede pública e universitários com uma juventude secundarista fazendo atos todos os dias e mostrando, como em São Paulo, seu poder explosivo. Pela confluência de juventude com a greve de trabalhadores e a crise no estado coloca-se a possibilidade de um processo ainda mais profundo que em São Paulo.

Enquanto os secundaristas lutavam em São Paulo, a esquerda e suas entidades seguiram religiosamente seu script, nada de unificar, seguiram o corporativismo eleitoral. Nós queremos criar uma nova tradição de movimento estudantil, que rompa o corporativismo e qualquer script dentro das entidades que fazemos parte na USP, Unicamp e UERJ. Queremos organizar os estudantes para fazer emergir uma grande luta por permanência, cotas, se enfrentando contra o regime universitário, como parte da luta nacional contra os ajustes do governo, unificando cada processo de defesa da educação e colocando a necessidade de uma greve nacional por educação. É preciso enfrentar os ajustes no Rio de Janeiro, na Paraíba, em São Paulo, em todos os estados exigindo o não pagamento da dívida pública para que esse dinheiro seja destinado à educação.

Juventude rosa choque

Essa nova juventude vestida e pintada de rosa choque, veio para chocar, nas palavras de André, estudante de Letras da USP e coordenador do CAELL "A conclusão que eu cheguei foi que a Juventude Às Ruas não tem medo de se sensibilizar, como o Mundo Grande de Carlos Drummond de Andrade, preciso de todos, ’porque meu coração não é maior que o mundo, é muito menor [...] por isso me dispo, por isso me grito!’ A Juventude Às Ruas não para de mudar porque não tem medo de ser sensível às demandas que aparecem".

Essa força sensível é parte do espírito da juventude que quer dar grandes objetivos à sua própria vida, e quando se vê como sujeito percebe que a vida é bonita demais para se viver sem paixão. Esse choque de ideias com as ideias dominantes abre espaço para todas as expressões de libertação sexual e moral, e queremos nesse 8 de março defender o direito ao aborto, o fim dos assassinatos de LGBT e a liberdade sexual de toda a juventude.

Nosso anti-capitalismo radical é o chamado que fazemos a todos jovens que curtiram o corte de rua em solidariedade à ocupação da MABE, que dançaram junto a Lucy frente aos reacionários “bolsomitos”, que viram entidades estudantis organizando calouradas políticas e se enfrentando com o regime privatista da universidade organizando mesas e festas libertárias. E queremos ir por mais, lançando uma nova juventude anti-capitalista e revolucionária, que tire a palavra liberdade da boca da direita, e construa uma grande organização consciente de que para acabar com toda a miséria deste mundo cruel, dos empresários e capitalistas que transformaram o mundo em uma “suja prisão”, onde crianças morrem afogadas, onde mulheres sofrem as consequências do zika vírus, onde a juventude negra é assassinada todos os dias, para lutar contra tudo isso é preciso colocar fim a este sistema capitalista. Nossa juventude luta e sonha pela revolução, e não pela miséria do possível.




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