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UNICAMP | Unicamp expulsa estudante, sua inclusão é demagógica

Depois de lutar para entrar na universidade, estudante que recorreu ao PAAIS (Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social) da Unicamp é expulso em seu terceiro ano de graduação.

Guilherme RequenateMembro do Núcleo de Consciência da Unicamp e militante da Faísca, juventude Anticapitalista e Revolucionária!

quarta-feira 16 de março de 2016 | 23:11

Paulo Rufino é um estudante do terceiro ano do curso de Geografia na Unicamp. Estudante, anteriormente, de escola pública, ele concluiu o último ano do Ensino Médio através da prova do ENEM. Fez dois anos de cursinho e furou o filtro social do vestibular, passou na Unicamp. E, como tinha de trabalhar como faxineiro de escola pública para poder estudar, recorreu ao PAAIS (Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social) para conseguir auxílio da universidade. Quase não consegue, por não ter sido matriculado na 3ª série do Ensino Médio em escola pública. Entra na justiça e ganha o caso. Dois anos depois, é desligado da Unicamp devido a um recurso requerido pela universidade.

Regras para utilização do PAAIS

Neste próprio documento de recurso, a procuradora afirma que a universidade goza de autonomia. Autonomia inclusive para decidir como será o vestibular. Por que então a Unicamp não decide pela inclusão de Paulo? A inércia e maquinaria burocrática dominam o caso e engolem a suposta proposta do Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social. Deixam evidente que uma universidade democrática e que inclua os jovens e trabalhadores não é o projeto da reitoria.

Documentação do processo e recursos do caso, disponibilizados por Paulo

Extrapolando ainda o caso, vemos que os diversos problemas da moradia estudantil superlotada; a falta de bolsas de auxílio; ausência de COTAS raciais; obrigatoriedade de trabalho em contrapartida de bolsa são outros elementos que distanciam os setores sociais menos favorecidos da universidade, mostrando mais desse projeto da reitoria e desmascarando seu discurso demagogo.

Fica evidente que parte da luta pela democratização da universidade é a luta pela permanência e matrícula de Paulo, além da necessária radicalização do acesso através das cotas e fim do vestibular. Nós estudantes do coletivo Juventude às RUAS e da chapa Sobre Jandiras e Simones da gestão proporcional do CACH estamos nessa luta! Que a universidade não seja para poucos e sim para a juventude e trabalhadores que nela queiram estar! É preciso combater a reitoria e a burocracia contra seu projeto elitista, para que o conhecimento seja realmente público, sem recorte de classe ou raça, eliminando por fim esse filtro social que se soma as diversas barreiras que impedem milhares de jovens e trabalhadores de terem acesso ao ensino superior.

Abaixo depoimento de Paulo sobre o caso:

Olá, meu nome é Paulo Roberto da Silva Rufino e minha história começa com 2 longos anos de cursinho pré-vestibular , com a sorte de ter uma bolsa de 90% pois não podia pagá-lo, trabalhando de dia e estudando a noite pra poder passar no tão sonhado vestibular da Unicamp.

Eis que no ano de 2014 consigo essa façanha. E na quarta dia 12/02 depois de quase uma hora de espera, quando sou atendido a moça fala que existe um problema com minha documentação e me manda para a Diretoria Acadêmica (DAC) para que lá tudo seja acertado.

Chegando lá a outra atendente me fala que como optei pelo PAAIS e tenho o certificado de conclusão do ensino médio através do ENEM, minha matrícula poderia não ser aceita e eu teria que fazer uma solicitação por um protocolo online para que deixassem que a matrícula pudesse ser aceita, ali já fiquei muito apreensivo, pois, era somente no dia 12 que eu poderia fazer a matrícula, e a moça me falava naquele momento que eu NÃO poderia completá-la até que meu pedido fosse analisado pela DAC.

No dia 13/02/2014 recebi um e-mail me explicando em poucas palavras que meu pedido estava sendo "atenciosamente" indeferido, ou seja, negado!
Olha, realmente não queria acreditar que depois de tanto sofrimento, sono perdido, noites e madrugadas lendo e estudando, essa vaga que por direito adquirido deveria ser MINHA, ia passar assim voando perto das minhas mãos e tão longe do meu futuro currículo acadêmico.

Pois bem, depois de uma briga judicial, e quase um mês depois uma medida liminar em mandado de segurança foi concedida e eu pude fazer minha matrícula no curso de Geografia na Unicamp. Foram 2 longos anos de estudos e dificuldades, pois como eu trabalhava e morava sozinho era difícil conseguir conciliar as coisas, mas deu certo. Em 2015 consegui bolsa trabalho, moradia e alimentação, o que tornou muito mais fácil meus estudos e minha permanência, e pude então sair do meu emprego, que era de faxineiro em uma escola municipal, para pode me dedicar somente aos estudos.

Porém, no dia 24/02/2016, numa fatídica quarta-feira, eu fui excluído de todas as bolsas e tive minha matrícula cancelada na Unicamp sem nem mesmo ter sido comunicado pela Unicamp.

Hoje, depois de dois anos de vivenciar um sonho realizado, me encontro na situação de sem um lugar pra morar, sem uma renda e sem poder me alimentar, pois fui alijado de todos os benefícios e direitos aos quais eu havia tanto batalhado e usufruído nesse pequeno tempo em que pude alcançar um sonho simples e importante pra mim. Apenas dar continuidade aos meus estudo em uma instituição de ensino superior.




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