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II ENCONTRO ESTATAL DA NHTQP | Uma nova frente anticapitalista e de classe senta suas bases no Estado Espanhol

Com a presença de mais de 120 pessoas, se realizou em Madri, o II Encontro Estatal da “Não há tempo a perder” (No Hay Tempo Que Perder- NHTQP). Um novo passo para a formação de uma frente anticapitalista e de classe.

terça-feira 5 de abril de 2016 | Edição do dia

O encontro, realizado no Salão do Albergue São Fermino, do bairro operário de Orcasur, surgiu de uma primeira reunião realizada em Málaga, no fim de novembro, quando participaram militantes de diversas organizações políticas de esquerda como Classe contra Classe, Izar, Ação Anticapitalista e o grupo de Comunistas Internacionalistas, assim como ativistas críticos do Podemos e da Esquerda Unida (IU, na sigla em espanhol). Esse encontro se pôs como objetivo avançar na construção de um novo espaço anticapitalista e de classe que se estruture como alternativa às variantes neorreformistas do Podemos e da Esquerda Unida.

Desse primeiro encontro, surgiu uma convocatória de um II Encontro em Madri e uma comissão que elaborou uma proposta de programa. Desde então se tem levado à cabo apresentações do projeto em diferentes cidades como Alméria, Barcelona, Burgos, Granada, Madri, Málaga, Sevilla, Vigo e Zaragoza, com a participação de mais de 200 pessoas. Esses encontros foram a preparação para esse segundo encontro, chave na construção de uma nova alternativa anticapitalista.

A apresentação do encontro esteve a cargo de Lucia Nistal, ativista antirrepresiva, e Yolanda Lusa, ativista feminista. As representantes do comitê do “No Hay Tempo Que Perder” explicaram as pautas para o funcionamento do encontro e deram as boas vindas aos mais de 120 participantes, que vieram da Andaluzia, Aragão, Catalunia, Galícia, Castilha e León, Valência e Madri.

A mesa que presidiu o encontro foi composta por representantes territoriais: Yolanda Lusa, de Madri; Santiago Lupe, de Barcelona; Antea Izquierdo de Burgos; Ángel Carrique, de Sevilla; Sara Povo, de Zaragoza y Javier Castillo, de Granada. Os seis coordenaram os debates sobre programa, organização e resoluções políticas durante uma longa jornada de mais de 10 horas, que foi transmitida por streaming e seguida por dezenas de pessoas em distintos territórios.

Um programa anticapitalista para dar uma saída operária para a crise

O primeiro ponto da agenda foi a apresentação do documento programático, a cargo de três representantes da comissão redatora, que abriram o debate sobre a situação política e a dinâmica de construção da iniciativa nos meses que antecederam a realização do Encontro. A discussão sobre o documento foi acompanhada da apresentação de mais de 50 emendas de distintos militantes de todos os territórios, que foram apresentadas e debatidas uma a uma em uma intensa seção.

As emendas foram organizadas em relação às oito partes do documento e em um bloco especial de emendas relativas a questões de gênero, um aspecto central junto com o debate sobre as demandas democráticas, e a utilização da consigna da “Assembleia Constituinte” dentro de um programa anticapitalista, foram dois dos pontos mais intensos em discussões.

O debate culminou com a aprovação definitiva do documento político programático da iniciativa. Um programa que em suas distintas partes concentra tanto uma caracterização da crise capitalista e do Regime de 78, assim com um balanço da esquerda reformista (Podemos e IU), desde o 15M ao 20D, para defender um sistema de reivindicações programáticas que dêem “uma saída operária e popular à crise capitalista e do regime político” retomando uma “estratégia baseada na mobilização social com a classe trabalhadora à frente”. Com essas bases programáticas, nos propomos a erigir uma nova frente política anticapitalista, antipatriarcal, internacionalista e classista.

Um grande passo adiante até a construção de uma Frente Anticapitalista e classista em todo o Estado

A sessão prosseguiu com a discussão da resolução organizativa apresentada conjuntamente pela Classe contra Classe e Izar, as duas organizações mais importantes que promoveram a iniciativa. A resolução, aprovada por unanimidade, afirma que, em muito pouco tempo, o “No Hay Tempo Que Perder” deu passos importantes "unindo distintas organizações políticas anticapitalistas e revolucionárias de diferentes regiões do país, junto às companheiras e companheiros ativistas independentes".

Essa é a base, sustenta a resolução, para “continuar avançando mediante a experiência militante comum e a verificação, pela prática diária do programa e dos acordos políticos alcançados”. Por isso, o “No Hay Tempo Que Perder” dá um “novo passo adiante e se estrutura territorialmente para desenvolver uma prática militante comum na luta de classes e na intervenção política entre as organizações e ativistas independentes que o conformam, impulsionando em nossos respectivos territórios Comitês da “ No Hay Tempo Que Perder” até a construção de uma Frente Anticapitalista e classista que se converta em uma alternativa política ao reformismo e à crise do Regime de 78”.

Com esse objetivo, o Encontro resolveu convocar um “terceiro encontro Estatal fundacional”, a realizar-se no mês de outubro, quando se adotará, definitivamente, o nome da Frente. Como parte da resolução organizativa, se resolveu também um sistema provisório de organização territorial com uma coordenação nacional eleita federativamente, assim como um sistema de comunicações internas e públicas.

Resoluções políticas

Até o final do Encontro, que durou mais de 10 horas, se abordaram uma série de resoluções e campanhas políticas e de intervenção na luta de classes, que a jovem organização se propõe a levar adiante desde já.

Entre elas, a resolução sobre a “intervenção na luta de classes”, coloca que a “No Hay Tempo Que Perder” em converter-se em uma ferramenta forte para intervir na luta de classes. Uma Frente desde a qual coordenar nossa atividade no movimento operário e de juventude, com atividade própria e com capacidade de dar respostas na prática às tarefas que os e as anticapitalistas e revolucionários temos a frente nesse período”.

Com esse objetivo, a resolução adianta uma série de objetivos e tarefas concretas, entre as quais se destacam a agitação do programa da “No Hay Tempo Que Perder” entre os trabalhadores, as mulheres e a juventude, em combate com as direções políticas e sindicais reformistas. Também se decidiu uma intervenção comum nas “grandes mobilizações e nas lutas setoriais do mundo do trabalho, movimento estudantil, feminista etc.”, como, por exemplo, o 1 de maio ou as Marchas da Dignidade, no próximo dia 28 de maio.

Para aprofundar o debate, se deliberou a organização de umas “jornadas de debate políticos abertos” em Madri para “discutir durante um fim de semana sobre a situação política e social atual, economia, política internacional, assim como sobre debates teóricos e estratégicos para as e os revolucionários anticapitalistas da atualidade”.

Outra resolução destacada adotada pelo Encontro foi a referida a uma “possível antecipação eleitoral”, na qual se resolveu que a “No Hay Tempo Que Perder” “explore as possibilidades concretas de impulsionar uma candidatura unitária, anticapitalista e classista, sobre a base do programa aprovado no II Encontro Estatal”, abarcando todos os setores que defendam a mesma perspectiva política.

A questão de gênero, muito presente nas discussões do programa, também teve sua expressão como resolução política com a aprovação de um chamado apresentado por duas militantes do Pão e Rosas (Pan y Rosas) a colocar em pé “um grande movimento de mulheres antipatriarcal e anticapitalista” que permita “impulsionar a organização, a mobilização e a luta das mulheres com a perspectiva de acabar com esse sistema de exploração e fixar as bases para a completa emancipação das mulheres”.

Finalmente, o Encontro adotou duas importantes resoluções internacionalistas. Por um lado, levar a cabo uma “grande campanha internacionalista contra a guerra, a xenofobia e o racismo”, que parte do repúdio ao pacto da União Européia com a Turquia para a expulsão de refugiados e imigrantes, um acordo que a resolução denuncia como “xenófobo, racista e criminoso”. A resolução exige plenos direitos para os imigrantes e refugiados, o fechamento dos Centros de Identificação e Expulsão (CIE), a abolição das restrições fronteiriças e a liberdade plena de movimento para todas as pessoas. As mesmo tempo, denuncia a ingerência imperialista na África e no Oriente Médio e repudia “os métodos reacionários de Daesh [conhecido no Brasil por Estado Islâmico]”, assim como “toda tentativa de instrumentalizar os atentados para redobrar as medidas repressivas e a restrição das liberdades democráticas”.

No Hay Tempo Que Perder

Depois de uma intensa jornada de debate político, que culminou com todos os presentes cantando o hino da Internacional, os mais de 120 participantes do II Encontro Nacional do “No Hay Tempo Que Perder” se foram com a viva sensação de que “temos deixado de perder tempo”, como dizia um participante a um correspondente do Esquerda Diário, e que o esforço tem valido a pena para fixar as bases da construção de uma grande frente anticapitalista e das trabalhadoras e trabalhadores no Estado Espanhol.

Tradução: Mauro Sala




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