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NACIONAL | Uma alternativa de esquerda contra os ajustes do governo Dilma, o PT e a direita

Está colocado construir, frente a estes dois atos, ações independentes da esquerda e dos trabalhadores que possam aparecer verdadeiramente independente do governo como uma alternativa dos trabalhadores, que não permita que a insatisfação popular seja capitalizada pela direita mas que dialogue com todo o descontentamento frente à crise do governo e do PT.

Diana AssunçãoSão Paulo | @dianaassuncaoED

Felipe GuarnieriDiretor do Sindicato dos Metroviarios de SP

sexta-feira 31 de julho de 2015 | 13:24

As duas paralisações nacionais convocadas pelas centrais sindicais neste ano mostram com urgência a necessidade de um polo classista, anti-governista e anti-burocrático. As ações que ocorreram nos dias 15 de abril e 29 de maio infelizmente não se configuraram como inflexões na luta operária no Brasil, e tampouco as organizações da esquerda anti-governista conseguiram aparecer para as massas trabalhadoras como uma alternativa independente frente ao PT mas também aos setores da direita.

Naquele momento nós já alertávamos para a necessidade de não misturar as bandeiras classistas com as bandeiras da burocracia sindical da CUT, CTB e outras centrais. Isso porque, se estava correto atender ao chamado às paralisações contra os ataques específicos, era necessário atender a este chamado de maneira crítica. As centrais sindicais governistas não tinham o objetivo de organizar verdadeiramente a luta contra os ajustes, tinham como objetivo atender a uma pressão da base – que expressa a insatisfação popular com o governo Dilma – e ao mesmo tempo “blindar” o governo de qualquer tipo de enfrentamento direto, sempre tentando fazer com que as paralisações e atos unificados terminassem sendo em defesa da “democracia”, ou seja, defendem diretamente o governo de Dilma e os empresários corruptos.

A questão é que passado menos de dois meses, a CUT, com quem vários setores da esquerda buscaram “unidade na ação” passou a implementar diretamente parte dos ajustes do governo Dilma. Através de importantes sindicatos que dirigem, estão implementando o Plano de Proteção ao Emprego (que na verdade protege os empresários) mas foram derrotados por ampla maioria dos trabalhadores em algumas fábricas. Em nota a CUT cinicamente diz que sua bandeira histórica é pela redução da jornada sem redução salarial, porém “autoriza as Confederações Nacionais da área da indústria a negociar com o governo uma proposta experimental e limitada no tempo (1 ano) de PPE”. E finalizam, apesar disso que “a posição da CUT continua sendo contra a política econômica recessiva implementada pelo ajuste fiscal do Ministro da Fazendo, Joaquim Levy”. Ou seja, a CUT não cita a presidente Dilma justamente pra tentar salvá-la frente a sua baixa popularidade e os debates sobre impeachment.

Diante deste cenário é urgente a criação de um polo classista, anti-governista e anti-burocrático que possa se dirigir e influenciar as bases dos grandes bastiões operários da classe operária brasileira, ainda sob direção da burocracia. Consideramos que o 2º Congresso da CSP-Conlutas poderia ter sido um importante momento de organização deste polo pensando políticas concretas. Entretanto, a direção do PSTU, que é maioria na CSP-Conlutas, insistiu na consigna de “greve geral já” sem um debate concreto de como prepará-la e qual relação de denúncia e exigência haveria com as centrais sindicais governistas. O resultado é que o conjunto dos lutadores e lutadoras de todo o país que estiveram neste Congresso acabam ficando desarmados frente a atual situação.

No I Congresso do MRT votamos um chamado a toda a esquerda pra construir um polo classista, anti-governista e anti-burocrático a nível nacional. Consideramos que a CSP-Conlutas, as Intersindicais e todos os sindicatos e oposições dirigidos pela esquerda, juntamente com os parlamentares do PSOL, poderiam se constituir como um polo que possa exigir que as direções das centrais sindicais rompam com o governo Dilma e se integrem a um plano de luta efetivo pra enfrentar os ajustes. Esse polo também poderia se dirigir aos batalhões da classe trabalhadora brasileira, que ainda são dominados pelas burocracias sindicais, chamando a que contestem suas direções na luta pra que os trabalhadores não sejam obrigados a pagar pela crise.

A conformação deste pólo não se dará por fora de qual postura a esquerda deve ter frente aos atos que já voltam a ser convocados nacionalmente e que têm marcado profundamente o cenário político nacional desde março. Muitos setores da direita vieram construindo atos, com apoio tímido da oposição ao governo Dilma, para buscar canalizar o descontentamento e insatisfação popular exigindo um impeachment da presidente. Em resposta a isso as centrais sindicais e estudantis atreladas ao governo buscam organizar atos em defesa da "democracia" e contra a "onda conservadora" (ajustes fiscais, pautas conservadoras no Congresso) englobando toda a esquerda nesta "frente-única". Não à toa a paralisação do dia 29 contou com um chamado de Vagner Freitas, presidente da CUT, para que todos os trabalhadores paralisassem em apoio à "agenda positiva de Dilma".

O fato é que já há uma nova manifestação de setores da direita no dia 16 de agosto. A diferença é que esta manifestação irá ocorrer no momento em que a popularidade de Dilma chegou na porcentagem mais baixa com 7,7% ao mesmo tempo em que contará com o apoio oficial de Aécio Neves e do PSDB, que irão pagar tempo na TV e Rádio pra convocar tais manifestações. Não está descartado que este ato possa canalizar "pela direita" parte da insatisfação popular com o governo. Será claramente um ato da oposição burguesa e da direita. Devemos denunciar firmemente esta manifestação que dá uma resposta pela direita pra crise que vivemos no país. Devemos convencer os trabalhadores a não embarcarem nesta alternativa de direita.

Ao mesmo tempo, como resposta a este ato começa a se articular uma manifestação no dia 20 de agosto com o nome "Tomar as ruas por mais direitos, liberdade e democracia". O ato, originalmente convocado pelo MTST, já está sendo divulgado a partir da CTB (ligada ao PCdoB, partido da base governista) e pela UNE. A CUT ainda não se pronunciou oficialmente. Mas diferente das paralisações do dia 15 de abril e 29 de maio, esta ação do dia 20 de agosto não se trata de uma convocatória unitária das centrais sindicais contra os ajustes. O conteúdo do chamado não cita a presidente Dilma, e não é à toa. O MTST apesar do importante poder de mobilização e organização em especial em São Paulo, tem buscado ser a ponte entre a esquerda anti-governista e os setores ligados ao governo, unificando todos na luta contra a "onda conservadora" e em "defesa da democracia", o que termina impedindo o surgimento de uma terceira alternativa independente dos trabalhadores, da juventude e do povo pobre. Mesmo que em declarações de Guilherme Boulous, liderança do MTST, ou em textos em sua página ele denuncie o governo, o fato é que o ato do dia 20 tem tudo pra ser uma manifestação em defesa da governabilidade de Dilma, em que pese as corretas pautas contra os ajustes e as medidas conservadoras do Congresso Nacional.

Sendo assim, mais ainda está colocado construir, frente a estes dois atos, ações independentes da esquerda e dos trabalhadores que possam aparecer verdadeiramente independente do governo como uma alternativa dos trabalhadores, que não permita que a insatisfação popular seja capitalizada pela direita mas que dialogue com todo o descontentamento frente à crise do governo e do PT. Um pólo classista, anti-governista e anti-burocrático poderia fazer um chamado concreto a atos, paralisações, panfletagens, piquetes e cortes de rua, chamando o MTST a romper as manifestações unificadas com CUT, CTB e UNE, e se aliarem à esquerda anti-governista, fortalecendo as manifestações com toda sua luta por moradia popular e seu poder de mobilização. Em São Paulo, este pólo poderia se concretizar com ações coordenadas do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Sindicato dos Trabalhadores da USP, Oposição da APEOESP e todos os sindicatos e oposições dirigidas pela CSP-Conlutas e Intersindicais. Ações independentes, que se dêem o objetivo de influenciar na base das centrais sindicais, poderia aparecer nacionalmente como uma terceira voz que não seja nem a direita, nem a defesa do governo e das burocracias que implementam os ajustes. Uma saída dos trabalhadores e pela esquerda.

Hoje o Espaço Unidade de Ação, que tem se mostrado ainda insuficiente frente a necessidade atual, fará uma Plenária aberta pra debater a luta contra o PPE. Acreditamos que é importante participar desta iniciativa com o objetivo de lutar por esse polo classista, anti-governista e anti-burocrático. Poderiamos a partir daí agitar um programa operário pra enfrentar a situação, contra o PPE, as MP´s 664 e 665 e contra o PL 4330, que dfenda a redução da jornada de trabalho sem redução salarial, a abertura dos livros de contabilidade de todas as empresas que ameaçam fechar ou demitir, a efetivação de todos os trabalhadores terceirizados sem necessidade de concurso público ou processo seletivo, exigindo o salário mínimo do DIEESE. Um pólo que lute pra coordenar as lutas em curso se colocando ativamente em solidariedade às greves. Um pólo que possa se concretizar em cada cidade ou estado. Ao mesmo tempo um pólo como esse poderia se colocar a tarefa de responder também os grandes problemas políticos nacionais como a enorme corrupção que atinge dezenas de empresas, como a Petrobrás, lutando por uma Petrobrás 100% estatal administrada democraticamente pelos trabalhadores como única forma de acabar com a corrupção e gerir racionalmente estes recursos.

Fazemos o chamado a conformação deste pólo pois os trabalhadores devem ser sujeito da sua própria luta, sem defender este governo e sem cair nas variantes de direita que estão sendo apresentadas. Os trabalhadores não podem pagar pela crise!




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