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LUTA CONTRA AS OPRESSÕES | Um relato sobre o tratamento governista da questão das opressões na Semana de Ciências Sociais da UNESP Araraquara

A Semana de Ciências Sociais da UNESP Araraquara deste ano, ocorrida entre 5 e 9/10, sintetizou a postura governista da Chapa Dialética, atual gestão do Centro Acadêmico, atendo-se à defesa do governo em discussões acadêmicas que não propuseram discutir as pautas reais dos estudantes e o contexto de ataques à educação.

quarta-feira 21 de outubro de 2015 | 00:51

Dentro dessa caracterização, aqui dialogamos com a lógica que se evidenciou especificamente na mesa intitulada “Negação dos direitos humanos, instituições e violência do Estado”, que contou com a presença do militante de direitos humanos e ativista LGBT Julian Rodrigues.

Respaldado num discurso altamente populista e partindo de uma ampla caracterização de um ascenso da direita em período de crise, Julian defende o fim dos discursos de ódio à presidenta e chama a esquerda a se colocar em favor de Dilma, alegando que a derrocada do PT representa a derrocada da própria esquerda.

Em suas aparições como figura pública, Julian clama “fascismo não passará” se abstendo de apontar que o próprio governo coloca seu suposto “projeto democrático e progressista” (que teria se iniciado com Lula em 2002) em detrimento de constantes alianças com os setores mais reacionários para garantir governabilidade, ou, em outras palavras, que a própria postura do PT favorece o crescimento da direita.

Num contexto de “ofensiva golpista”, Julian parece propor – sempre utilizando seu discurso populista e pitoresco de que a escalada conservadora destruirá o PT e, por consequência direta, toda a esquerda – que a esquerda se esqueça por um momento das “escolhas ruins” do partido e se coloque em defesa de um “projeto de país com liberdade e igualdade”. Nessa lógica, diante da debilidade do governo em unificar uma base social a seu favor, essa é a alternativa real que a esquerda tem, caso queira impedir que o fascismo ascenda de fato. Portanto, Julian afirma que a organização da esquerda, para impedir a capitalização da crise pela direita, deve se dar essencialmente defendendo o projeto PTista. De fato, ele fala na conformação de um polo de esquerda e progressista EM DEFESA DE DILMA, vislumbrando a possibilidade de retomar a fase inicial e “próspera” do lulismo.

A contradição do discurso de Julian fica ainda mais latente quando dá destaque ao movimento LGBT, do qual é porta-voz, como setor importante na defesa do governo. De boca cheia, relembra toda uma agenda de políticas públicas que teriam avançado efetivamente no “reconhecimento da cidadania LGBT”. Em nenhum momento, porém, problematiza de fato o envolvimento do PT com setores fundamentalistas, quiçá os ataques que o próprio PT orquestra. Julian simplesmente menciona que ocorre uma pressão que ocasiona uma série de recuos. Entende que os ataques a direitos trabalhistas, o veto ao kit anti-homofobia, o pacto Brasil-Vaticano, a Cura Gay, o Estatuto da Família, o Estatuto do Nascituro, entre outras pautas absurdas, ocorrem na esteira da emergência de setores reacionários que colocam em cheque a agenda dos anos dourados do início do lulismo. Em resumo, os setores historicamente oprimidos, ao questionarem o governo, estariam pecando numa análise conjuntural mais precisa. Partindo de um discurso abstrato e rebuscado de que “o buraco é mais embaixo” e de que é necessário manter-se tranquilo – leia-se: PASSIVO – em meio ao turbilhão da crise, Julian propõe aos LGBT – e, na verdade, a todas as mulheres, negros e trabalhadores – uma saída que pressupõe a defesa do mesmo governo que rifa seus direitos.

Mas não, não seremos apoio ao governo. O governo Dilma não pode falar em nosso nome! Nós, LGBT, mulheres, negros e negras não veremos nossas pautas revertidas em postura passiva de blindagem ao governo. Se o fortalecimento da direita no contexto de crise é uma questão importante colocada para a esquerda nacional – e de fato é –, é necessário que esta se organize de forma independente, rompendo com o governismo. Mesmo as conquistas de igualdade na lei estão longe de se traduzir em igualdade na vida. Vale lembrar que entre 2003 e 2007 (portanto, antes da crise 2008) os crimes homofóbicos aumentaram em 117% no Brasil. A própria agenda de direitos prometida com o lulismo é, desde o começo, uma falácia, o que reitera a importância de uma perspectiva revolucionária na conformação de verdadeiros pólos anti-burocráticos, organizando a esquerda na atual conjuntura.

A mesa em questão da Semana de Ciências Sociais foi uma expressão clara da postura governista de um Centro Acadêmico em período de cortes, falta de RU e reestruturação da educação: a restrição da discussão à pura blindagem ao governo, ignorando os reflexos da crise nas vidas de estudantes e trabalhadores inclusive dentro da universidade, ainda que tentando dar um acabamento democrático às discussões. Nós estudantes da UNESP Araraquara não podemos mais aceitar essa lógica. Não podemos permitir um CA que, entregue a sua lógica de passividade, abstém-se de tratar estruturalmente das pautas estudantis, discutindo opressões, permanência e democratização da universidade. Não podemos ter ilusões em respostas burocráticas a nossas próprias demandas. Não podemos admitir que a discussão de opressões seja posta de lado em favor de um debate acadêmico estéril , num dos eventos mais importantes para os estudantes, que é a Semana de Ciências Sociais! Não é possível lutar por nossas demandas ao lado do governo!

Assim, portanto, respondemos à Chapa Dialética e a Julian: NÃO NOS MANTEREMOS TRANQUILOS! Nesse contexto de crise, é ao lado dos setores mais frontalmente atacados com os ajustes do governo Dilma que a luta pela emancipação e livre determinação dos corpos e das sexualidades deve estar. Devemos nos apropriar do exemplo do SINTUSP, que encampa a luta dos LGBT no sentido de destruir as relações de opressão, em defesa de uma sociedade livre e igualitária. Em 2014, os trabalhadores metroviários de São Paulo se colocaram em apoio a Danilo, metroviário vítima de agressão homofóbica, na contramão da maior parte do movimento LGBT atual, institucionalizado e distanciado da luta contra as opressões.
Sigamos esses exemplos! A luta deve ser travada ao lado dos professores em luta contra o desmonte da educação pública, ao lado dos carteiros e dos bancários!




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