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ELEIÇÕES 2016 | Um posicionamento de classe frente às eleições municipais

Chegamos à reta final de um processo eleitoral relâmpago, com apenas 45 dias de campanha legal, com mil e uma restrições à liberdade de expressão da classe trabalhadora e da juventude. Uma campanha marcada por um salto de qualidade na censura à esquerda e aos trabalhadores.

sexta-feira 30 de setembro de 2016 | Edição do dia

A “contrarreforma” eleitoral imposta pelo então todo-poderoso Cunha, aprofundou o caráter restritivo e antidemocrático de todo o processo, aproveitando o contexto geral do golpe judiciário-parlamentar. Como resultado, favoreceu ainda mais os poderosos de sempre, representados pela direita tradicional e seus partidos, pequenos e grandes.

Comparado aos dias em que se consumou o impeachment, o clima político entre as massas na campanha municipal é morno. Algo dessa indiferença carrega o potencial de uma indignação surda que não encontrou válvula para se expressar. Mas o resultado imediato é que, por ora, quem está tirando o maior proveito da crise do PT é a direita burguesa; em primeiro lugar PSDB e PMDB, além de outros partidos reacionários menores, mas funcionais à perpetuação do engano do povo.

Rechaçar a direita conservadora e reacionária, recusar a demagogia petista

Ainda não há vencedor claro, mas já há o grande perdedor provável: o “Partido dos Trabalhadores”. O desgaste do PT entre as massas não vem apenas, nem fundamentalmente, da enorme operação midiática-judicial para demonizar o partido. Existia base material para essa campanha emplacar: o estelionato eleitoral e a aplicação de duros ajustes contra os trabalhadores por parte de Dilma, a corrupção assimilada com esmero dos governos capitalistas anteriores, e o seu papel ímpar na contenção da luta de classes, para não seguir numa lista infindável. Tudo isso resultou não apenas na consumação do impeachment, mas levou o PT a lançar este ano menos da metade das candidaturas que teve em 2012.

Em diversos artigos no Esquerda Diário, e pela voz de nossas candidaturas em São Paulo, Rio de Janeiro, Contagem, Santo André e em Campinas, temos travado um forte combate para que não se votem nos candidatos dos partidos da ordem, com artigos e denúncias que chegaram a algumas centenas de milhares de leitores.

Denunciamos o caráter capitalista, direitista e reacionário de candidatos como Doria, Russomano e Marta em SP, de Crivella e Pedro Paulo no RJ, ou Jonas Donizette em Campinas, e todos os seus pares em cada cidade e Brasil afora. Representantes diretos dos exploradores e dos golpistas, hipócritas cobertos de denúncias de corrupção não investigadas por um poder judiciário a serviço dos ricos; inimigos dos direitos democráticos das mulheres e da juventude, esses candidatos são a expressão de como o processo eleitoral distorce os interesses da imensa maioria trabalhadora.

Em vários casos, e nisso o tucano João Doria em SP é só um exemplo, os candidatos patronais tentam “driblar” o desgaste dos políticos ante as massas, vestindo pele de cordeiro, apresentando-se como “gestores”, ou até como “gente comum”, de fora da política. Outros, como Marta, tentam investir num perfil “popular” apoiando-se em redes clientelistas nas periferias e bairros pobres. Formas da demagogia mais sinistra, que só pode causar repulsa nos trabalhadores conscientes.

Mas também colocamos abertamente nossa denúncia dos candidatos do PT, como Haddad em SP, ou Carlos Grana em Santo André, ou mesmo Jandira Feghali do PCdoB no Rio (e Carlin Moura em Contagem-MG, do mesmo partido), remarcando que esses candidatos, representantes do fracassado projeto de aliança com a burguesia, encabeçado por Lula e Dilma, não são nenhuma alternativa frente aos candidatos da direita golpista.

Em todos esses anos, o PT e seus satélites têm governado de mãos dadas com os empresários, em troca de escassas concessões ao povo pobre, obtidas em negócios sempre muito mais vantajosos para os grandes capitalistas (bancos, empreiteiras, industriais e agronegócio). Enquanto isso, no controle dos principais sindicatos, bloqueiam as lutas dos trabalhadores. Alimentaram os golpistas com seus conchavos, e tentaram transformar o movimento Fora Temer em instrumento para a volta eleitoral do PT, e agora na campanha eleitoral amargam a decepção popular com seu projeto fracassado de dar um rosto mais humano ao capitalismo brasileiro.

Por um voto crítico nas candidaturas do PSOL independentes dos partidos patronais

Nós do MRT, que apresentamos nossas candidaturas anticapitalistas através da filiação democrática pelo PSOL em diversas cidades, nos colocamos lado a lado com todos os trabalhadores, jovens, mulheres, negros e negras e LGBTs, dispostos a lutar por outro tipo de sociedade, de fato democrática e livre. Lutamos por um governo dos trabalhadores de ruptura com o capitalismo, e nossas candidaturas nessas eleições buscaram avançar na construção de uma força social e política a serviço dessa perspectiva estratégica.

Essas eleições municipais se dão sob o governo reacionário de Temer, que já vem anunciando ataques brutais aos direitos trabalhistas e à aposentadoria, e por isso apresentamos nossas candidaturas também como um ponto de apoio para a luta contra esses ataques do governo e dos patrões capitalistas.

Seria muito importante se tivéssemos nessas eleições uma alternativa de independência política dos trabalhadores, de combate ao capitalismo, em todas as principais prefeituras. O exemplo da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT) na Argentina, mostra que é possível.

Uma alternativa desse tipo seguramente despertaria o entusiasmo de um vasto setor de trabalhadores e da juventude. Mas a tarefa de construir algo semelhante no Brasil segue pendente.

Na ausência dessa alternativa, um setor de massas irá expressar esse potencial de forma distorcida votando nas candidaturas do PSOL que aparecem independentes tanto da direita quanto do PT. É evidente que isso não vale para os lugares onde existem candidatos do PSOL que contrariam a resolução do próprio partido e se coligaram a direitistas, assim como também rechaçamos o arco de alianças que a mesma resolução autorizava, e que incluía possíveis alianças com “PV, PCdoB, PDT, PSB, PT, REDE e outros”.

Por isso, chamamos a votar criticamente nas candidaturas do PSOL, exceto ali onde o PSOL se coligou com partidos burgueses (como Luciana Genro em Porto Alegre e Edmilson Rodrigues em Belém), ou onde apresentou candidatos cuja trajetória passa por governos e partidos burgueses (Erundina em São Paulo). Nestes casos, votaremos nulo.

No caso de Marcelo Freixo no RJ, consideramos que a existência de qualquer pacto com Jandira Feghali ou com Molon da Rede, tal como o próprio PSOL noticiou em junho, e que Freixo negou de maneira ambígua durante a campanha, impediria sua candidatura de expressar esse sentido de independência não só da direita golpista, mas também do PT. Por isso apontamos a necessidade da ruptura de todo e qualquer pacto com esse conteúdo.

Por fim, vale resgatar que, em eleições anteriores, chamamos um voto crítico nas candidaturas operárias e socialistas do PSTU, apesar das diferenças de estratégia e de programa que temos com esse partido. Porém não achamos viável repetir essa política no atual contexto, pelo papel que o PSTU cumpriu em todo o processo do golpe institucional, aplaudindo os panelaços da direita pró-impeachment, e fornecendo uma “cobertura de esquerda” funcional aos golpistas.

No caso particular dos candidatos do MAIS, que romperam com o PSTU justamente pela atitude frente ao golpe, mas estão usando a legenda do partido nas eleições, apoiamos essas candidaturas como parte do mesmo combate para expressar uma defesa das posições de classe, apesar de nossas divergências políticas.

Nossa batalha é pela independência de classe numa perspectiva anticapitalista e revolucionária

Para além de alguma eventual surpresa, as eleições municipais apontam para o fortalecimento dos partidos da direita tradicional, capitalizando a bancarrota do PT. Mas esse resultado não muda o fato de que há uma percepção generalizada que todo o sistema político está podre.

Em várias cidades, as candidaturas do PSOL conseguiram angariar parte dos votos dos setores à esquerda que não confiam mais no PT. Contudo, seu discurso não chegou a empolgar como uma alternativa contra o sistema, e ao manter-se neste espectro político da gestão municipal “responsável”, abriu espaço para o fortalecimento do “voto útil” em candidatos do espectro petista como Haddad e Jandira, ou ainda Raul Pont em Porto Alegre.

Em pequena escala, as candidaturas anticapitalistas do MRT pelo PSOL mostraram que é possível criar uma onda de entusiasmo a partir de ideias simples, que condensem o enfrentamento ao sistema político, a defesa dos setores mais oprimidos e o combate à exploração e miséria do capitalismo.

A única forma de superar a experiência do PT de maneira consistente é conhecer e rejeitar o caminho de experiências eleitoralistas fugazes, que rapidamente se adaptaram aos capitalistas, como é o caso do Syriza na Grécia e do Podemos no Estado Espanhol. Essas experiências “neorreformistas”, para além das boas intenções (reais ou supostas), ao se proporem a tarefa de administrar o capitalismo, terminam sendo responsáveis pela aplicação das mesmas políticas antipopulares que diziam combater, e assimilando os métodos corruptos de funcionamento desse sistema.

Uma verdadeira esquerda revolucionária só poderá surgir da superação da experiência de conciliação de classes promovida pelo PT, tanto quanto da crítica a essas experiências neorreformistas no plano internacional, e por isso o exemplo positivo da Frente de Esquerda (FIT) argentina nos parece tão relevante.

Temos que partir da luta imediata contra o governo golpista e seus ataques à aposentadoria, aos direitos trabalhistas, à educação e em todos os âmbitos, porém ligando todas essas batalhas a uma perspectiva clara de ruptura com o capitalismo. Chamamos a todos a fortalecer as vozes anticapitalistas que levantamos nessas eleições municipais, a colaborar com o Esquerda Diário – que acaba de bater as 600 mil visitas mensais–, e sobretudo chamamos a contribuir para a construção de uma verdadeira alternativa de esquerda para as massas trabalhadoras desiludidas com o PT.




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