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TROCA DE MINISTROS | Um "novo Ministério" à imagem e semelhança de Levy

Ao empossar os ministros Nelson Barbosa (Fazenda), e Valdir Simão (Planejamento), a presidente Dilma Rousseff afirmou que a tarefa dos novos titulares é "ir além do corte de gastos". Segundo Dilma, a mudança na equipe econômica não altera os objetivos do governo de retomar com urgência o crescimento.

quarta-feira 23 de dezembro de 2015 | 00:00

Os petistas esperavam mostrar a "nova figura" de Nelson Barbosa como um alteração à esquerda na condução do Ministério da Fazenda, no lugar de um alto funcionário do Bradesco em que o mesmo PT apostou para dar o curso inicial dos ajustes. Entretanto, na cerimônia de investidura para assunção do cargo, o novo ministro da Fazenda Nelson Barbosa deixou claro ser o "sucessor legítimo" de Levy, pois este e os ajustes que dirigia nada mais eram que produto da política de ataques do PT.

Barbosa declarou que "apesar das turbulências, investidores internacionais e nacionais podem continuar confiantes no Brasil". Uma mudança de figura para manter o conteúdo central da política econômica de Levy.

Tanto assim que as principais cadeiras continuarão com as pessoas convocadas pelo ex-ministro Levy. Barbosa informou que os secretários da Receita Federal, Jorge Rachid, da Secretaria de Acompanhamento Econômico, Paulo Corrêa, e de Assuntos Internacionais, Luis Balduíno, permanecerão no cargo. Marcelo Saintive, do Tesouro Nacional, também ficaria caso não tivesse negado o convite de permanência.

Essa resposta veio para sanar as dúvidas dos mercados, que lucraram tanto na década anterior sob os governos de Lula e Dilma, e que manifestavam receios sobre um relaxamento no ajuste fiscal e uma maior receptividade de Barbosa ao "intervencionismo" do governo. Fruto disso, o dólar subiu ontem pela primeira vez acima de quatro reais, e as bolsas brasileiras tiveram índices de queda.

Dilma e seus ministros foram taxativos em afirmar que a substituição de ministros tem como base a continuidade do ajuste fiscal, aliado com discursos sobre "crescimento econômico" que eram ausentes na boca de Levy.

"Perseguimos em 2015 uma estratégia de estabilização fiscal que continuará nos guiando nos próximos anos com metas realistas e transparentes. Precisamos, contudo, ir além da tarefa de cortar gastos e colocar as contas em dia, estabelecendo prioridade também para a retomada do crescimento e a construção do ambiente de confiança favorável à criação dos investimentos e à criação dos empregos," disse Dilma.

Durante a posse, Dilma lembrou que ainda faltam medidas fundamentais para o equilíbrio das contas, como a reforma da Previdência e a reforma do PIS/Cofins. "Precisamos aprovar reformas como aquela na área da Previdência, cujo objetivo é assegurar a sustentabilidade no médio e no longo prazo do patrimônio dos trabalhadores," deixando explícito o conteúdo do "crescimento econômico" que o PT tem em mente: um ataque em regra à aposentadoria.

Para que ficasse clara a continuidade da linha de austeridade contra os trabalhadores, Dilma aproveitou para agradecer e elogiar o ex-ministro Joaquim Levy, que estava presente na cerimônia. "Minhas primeiras palavras são de agradecimento ao ministro Joaquim Levy. Sua presença a frente do ministério da Fazenda foi decisiva para que fizéssemos ajustes imprescindíveis. Sua dedicação, assim como seu trabalho, ajudaram na aprovação da legislação fiscal mesmo em um ambiente de crise política".

O canto de sereia dos ajustes combinados ao "crescimento"

A continuidade com a linha de Levy é inquestionável e até mesmo os setores mais receosos do capital financeiro já diminuíram grandemente seus temores. Também não convencem os trabalhadores de qualquer mudança na linha geral dos ajustes, que terão de se enfrentar num grande movimento nacional para barrar estes ataques.

Dilma e o PT ensaiam pela enésima vez a combinação inusitada de draconianos ajustes fiscais e ilusões de "crescimento econômico". O objetivo é ocultar por trás do discurso de "crescimento" a realidade dos ajustes, para solidificar bases firmes que fortaleçam o governo contra o processo já bastante debilitado de impeachment. Como dissemos, o governo conseguiu êxitos consideráveis na semana passada, tendo o STF assegurado que a decisão do impeachment fica sob jurisdição do Senado, logo após as manifestações governistas terem superado em número as manifestações pró-impeachment da direita.

Entretanto, a verdade é que todos os indicadores e previsões, até mesmo do governo, indicam que a recessão deve continuar no próximo período. Uma situação econômica que combina grande inflação, queda no índice de empregos e recessão econômica, com mais de 40% do orçamento nacional se esvaindo em pagamento de juros da dívida, fica impossível pensar qualquer recuperação econômica.

Da nossa parte, seguimos insistindo na fortaleza da política de uma política independente, que só pode ser dizendo: nem impeachment, nem “fica Dilma”, nem eleições gerais que mantém as regras do jogo, nem a constituinte de 88 que foi tutelada pelos militares, por uma nova constituinte imposta pela força da mobilização.




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