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PERSEGUIÇÃO POLÍTICA | Um capitão do Exército infiltrado entre os presos no CCSP

Dentre os presos arbitrariamente antes da manifestação do último domingo (04) em São Paulo estava um infiltrado do Exército. Os demais jovens presos notaram o tratamento diferenciado e denunciaram suas suspeitas, que agora se confirmam.

sábado 10 de setembro de 2016 | Edição do dia

Nas redes sociais, William Pina Botelho fingia ser de esquerda e utilizava o nome falso de Baltazar Nunes, ou Balta. Ele buscava contato com mulheres de esquerda pelo Tinder para se aproximar dos grupos. Segundo relatos dos jovens que foram presos no CCSP, foi ele quem sugeriu que o local de encontro fosse lá no domingo.

William foi levado pela PM em viatura exclusiva, nunca chegou na delegacia para onde foram os demais presos e enquanto eles estavam impedidos até mesmo de falar com seus advogados, "Balta" lamentava em seu Facebook ter perdido o ato, sem comentar nada sobre as prisões ocorridas mais cedo. Com as denúncias dos manifestantes presos, um jornalista do portal Ponte tentou contato com ele e, mesmo se identificando, Balta o acusou de ser policial e se esquivou de conversar. Em outras redes sociais como Skoob, ele aparece com o nome verdadeiro, mas sem barba e com os cabelos aparentemente mais curtos. Todas as redes sociais com o nome falso foram desativadas.

Embora o coronel Dimitrios Fyskatoris tenha afirmado em entrevista coletiva na última segunda-feira (05) que a ação no CCSP foi "por acaso", pois a PM estaria passando por lá e percebeu o grupo em "atitude suspeita", relatos e imagens logo desmentiram a versão. Os jovens que foram presos perceberam que havia um grande aparato repressivo, com muitas viaturas, um ônibus e um helicóptero da PM. Os flagrantes forjados também demonstram que o grupo não teve nenhuma atitude suspeita, tendo a polícia que plantar provas contra eles.

Como o caso tem repercutido bastante, conhecidos de William da cidade de Lavras (MG) o identificaram. Ao pesquisar seu nome verdadeiro, as suspeitas sobre ele ser infiltrado se confirmaram: William é capitão do Exército, bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar de Agulhas Negras e mestre em Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. Atua no setor de inteligência pelo menos desde 2013, quando publicou um artigo sobre "A inteligência em apoio às operações no ambiente terrorista" na revista da Escola de Inteligência do Exército A Lucerna.

Cai por terra definitivamente o que foi dito pelo coronel na coletiva de imprensa de segunda-feira. A ação da polícia foi uma emboscada para amedrontar os manifestantes e desmobilizar os milhares que se revoltam contra o governo golpista. Reprimir o protesto contra Temer antes mesmo que ele começasse, em uma mega operação envolvendo inclusive a inteligência do Exército, em colaboração com a PM de São Paulo.

Além da repressão do dia a dia nos locais de estudo e trabalho, nos piquetes, nas manifestações, da perseguição da direita na internet, das barreiras do sistema eleitoral anti-democrático que impedem a participação da esquerda, o cercamento ocorre também nas redes sociais, até mesmo as mais pessoais como o Tinder.

Este caso traz à tona uma tática muito utilizada pela repressão em tempos de regimes ditatoriais, que não parece ser obsoleta na democracia: voltar agentes à atividades de esquerda para mapear e levantar informações. Neste caso, a ação parece ter sido mais no sentido de amedrontar e desmobilizar massivamente um movimento crescente, com uma ofensiva de repressão e prisões arbitrárias, do que de mapear e levantar informações de grupos e lideranças. William sumiu depois de ser descoberto, mas com o pretexto do combate ao terrorismo, não se pode descartar outros tipos de atuação como essa por parte das forças de repressão.




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