×

A UM ANO DAS ELEIÇÕES DE 2014 | Um ano atrás Dilma era eleita com discurso contra o retrocesso, a culpa pelo estelionato eleitoral não é só do PT

Neste longo ano de 2015 com sua interminável saraivada de tenebrosas notícias econômicas aos trabalhadores, um sem-fim de escândalos de corrupção e idas e vindas sobre o impeachment, nem parece que só faz um ano que Dilma vencia as eleições no segundo turno.

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

quarta-feira 28 de outubro de 2015 | 00:00

Foi a vitória mais apertada em toda a história do país. Parte importante do respiro além do que havia conquistado no primeiro turno e que permitiu ao PT vencer Aécio e o PSDB foi um discurso “contra o retrocesso”, contra os neoliberais e uma militância jovem que foi às urnas cheia de medo de um suposto “mal maior”, exemplo deste clima se via em pichações que apareceram no Rio que diziam “não confunda meu voto contra o Aécio em um voto em Dilma”. Mas este não era o único clima daqueles que mudavam de voto no segundo turno, havia uma extremamente infundada esperança que o segundo mandato da presidente seria mais à esquerda que o primeiro.

Esta esperança era alimentada por interessado e mentiroso marketing petista que derivou em um imenso estelionato eleitoral. Mas não só o petismo tem culpa nesta operação e precisa se explicar passado um ano que “a vaca tossiu”.

Importantíssimas figuras do PSOL como Jean Wyllys e Marcelo Freixo não só chamaram voto em Dilma mas fizeram discursos e apareceram no horário eleitoral petista (caso de Wyllys).

Wyllys e Freixo não fizeram nenhum balanço público de suas posições de um ano atrás. Ao contrário estão juntos a quase todo o PSOL na mesma posição que estavam doze meses atrás, abraçando o PT em uma frente dita “Povo sem Medo” junto a MTST, MST e a CUT.

É interessante voltar a aqueles argumentos usados por Freixo e Wyllys porque eles jogam luz sobre a frente permanente com os braços do PT nos movimentos sociais (CUT, MST, UNE, e em outra medida MTST) que o PSOL embarcou nas últimas semanas.

O PT estava e está de nosso lado na luta de classes?

Freixo esteve em um ato de rua próximo a UERJ onde tomou o microfone e declarou em alto e bom que “do lado de cá tinha diferenças” [com Dilma] mas que “do outro lado [Aécio] estava a luta de classes”. Em 2014, os bancários, petroleiros, trabalhadores dos correios, já sabiam que do lado de Dilma, Lula e PT também já estava a luta de classes, o patrão, e mais ainda sabiam os operários de Jirau que Dilma havia enviado as tropas de segurança nacional para reprimir. Também o sabiam a população indígena de Belo Monte, os manifestantes de Junho de 2013. O PSOL surgido de uma reforma da Previdência de Lula em 2003 que retirou direitos do funcionalismo deveria saber de que lado da luta de classes estava o PT. Mas pulemos o que já se sabia e Freixo ignorava, permitamos o direito a amnésia nos outubros de anos pares, o que dizer hoje de tal afirmação?

Está do nosso lado da luta de classes um governo que dificultou o acesso ao seguro desemprego, realiza imensos cortes na saúde e educação, promove um salto no desemprego? Está do nosso lado o braço do governo no movimento sindical, a CUT, que faz os trabalhadores engolirem o Plano de Proteção ao Emprego (PPE) que corta salários, que trai as greves dos correios e dos bancários? Se não está como se justifica a Frente do Povo sem Medo?

Apoiando Dilma contra a repressão a movimentos sociais?

Jean Wyllys engajou-se com tudo na campanha eleitoral. Não só concedeu entrevistas e fez discursos no Rio como Freixo, foi a comício em São Paulo, apareceu no horário eleitoral, dedicou sua coluna na revista Carta Capital a explicar seu voto, enfim chegou até a ser cotado ministro.

Em sua coluna na Carta Capital ele dizia que Aécio representava “um retrocesso: conservadorismo moral, política econômica ultraliberal, menos políticas sociais e de inclusão, mais criminalização dos movimentos sociais, mais corrupção (sim, ao contrário do que sugere parte da imprensa, o PT é um partido menos enredado em esquemas de corrupção que o PSDB), mais repressão à dissidência política e menos direitos civis.”

A realidade mostrou de forma escancarada o nível de entrelaçamento do PT, tal como os outros partidos do regime à corrupção, a política econômica é de deixar qualquer neoliberal orgulhoso, e hoje, no dia que vai a votação no Senado um projeto de lei que tipifica qualquer interrupção de rua em manifestação como terrorismo, um projeto de autoria do executivo, ou seja Dilma e o PT, parece absurda a afirmação de Wyllys um ano atrás.

Mas mais absurda é que os argumentos errados de um ano atrás é manter uma aliança hoje “contra o retrocesso”.

O retrocesso está só em Cunha e Aécio?

O argumento que exime o PT de sua responsabilidade e joga a culpa em seus aliados é um velho argumento para justificar as ações do governo. Sob uma lógica de que haveria um governo em disputa há mais de 12 anos o PT paralisa um setor dos trabalhadores e da juventude. Hoje o PSOL como um todo se enreda nesta vereda que um ano atrás Freixo e Wyllys já haviam se metido. Fazer isto vai na contramão de dizer a verdade, não houve kit educativo anti-homofobia pois Dilma vetou, o PL 5069 não é só de Cunha mas também de um deputado do PT, presidente estadual do partido em Rondônia, a “política econômica neoliberal” não é um ente abstrato mas uma política aplicada por Dilma e aprovada por Lula, como ele deixa claro em vários discursos.

“Lutar contra o retrocesso” em 2015, tal como em 2014 só pode ser feito contra o PT, Dilma e Lula, sem dar este combate, que hoje passa no mínimo por romper com a Frente do Povo sem Medo, não é possível combater a influência que setores de direita buscam criar nos setores populares. Só assim haverá uma resposta classista a crise política nacional.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias