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Essa terça-feira, dia 22/06, o Conselho Universitário da Universidade de São Paulo aprovou a adesão parcial ao ENEM e ao SISU como forma de ingresso. Das 11.057 vagas abertas anualmente, 1.499 delas serão selecionadas através da prova do ENEM a partir de 2016. Quais os fundamentos para medidas como essa? Quais as consequências?

terça-feira 23 de junho de 2015 | 23:31

Tal medida foi introduzida discretamente na pauta do C.O. pela reitoria da Universidade nessa terça-feira. O resultado definido por ampla maioria (90 votos a favor, 10 contrários e uma abstenção) decidiu que a partir de agora cerca de 13% dos estudantes da USP serão selecionados pelo ENEM e não mais pela FUVEST. Não apenas pouquíssimos estudantes e funcionários sabiam dessa novidade, como ainda fica a dúvida sobre se trata-se de um passo adiante na democratização do acesso ou algo diferente. Pois vamos aos dados e ao debate.

As vagas destinadas aos vestibulandos que se utilizarão do SISU (Sistema de Seleção Unificado) já foram pré definidas pelas unidades sem a discussão com o conjunto dos estudantes, funcionários e professores. Todos os dados podem ser buscado aqui.

Mas os critérios de seleção mudam de unidade para unidade. Existem basicamente três critérios que determinam a ocupação das vagas: por "ampla concorrência" (o que significa que qualquer um que tenha prestado o ENEM possa entrar na USP), por critério social (apenas estudantes de escola pública que prestaram o ENEM) e racial e social (estudantes de escola pública auto-declarados pretos, pardos ou indígenas). Cada unidade decidiu qual critério adotaria e se adotaria de toda maneira.

Observando mais atentamente os dados, percebe-se que a larga maioria dos cursos que adotaram o último critério estão na EACH, junto do IP, IRI e Nutrição. O restante dos cursos se dividiram entre os dois primeiros critérios, de ampla concorrência e social. Fazendo as contas, com a nova medida adotada, apenas 2% das vagas da USP estão destinadas à população negra e indígena. Se tirarmos a EACH da conta, esse número cai para 0,2% da reserva de vagas.

Unidades como a FFLCH destinaram 20% de suas vagas para estudantes de escola pública, mas sem o recorte racial, ao passo que unidades como a ECA, FEA, Medicina e FAU decidiram manter a FUVEST para 100% de seus ingressantes.

Enquanto a larga maioria dos diretores de Unidade e representantes de Congregações votaram pela adesão à medida, todos os representantes dos funcionários e alguns dos estudantes (exceto a USPInova que deu as mãos para o reitor, como sempre) votaram contra. Um professor, do Instituto de Relações Internacionais, que também se posicionou contrariamente, chegou a argumentar que a medida era xenófoba, pois a média de pontuação dos estudantes do Norte e do Nordeste se encontra abaixo da média dos do Sul e do Sudeste, privilegiando os últimos e mantendo o caráter elitista da USP.

Mas a problemática está menos na medida em si do que em todo o processo de discussão e a maneira de encaminhá-la. Há anos dentro da Universidade se discute formas alternativas de ingresso que prezam pela democratização e pela ampliação das vagas. Elas vão desde cotas raciais para negros e indígenas até o próprio fim do vestibular, pela compreensão de que ele se configura como um filtro de exclusão social e racial. Mas nenhum desses debates foi considerado. Mesmo após toda a movimentação em defesa das cotas raciais que explodiu dentro da USP este ano, a reitoria decidiu fechar os ouvidos e aplicar as suas pautas de maneira totalmente antidemocrática.

Bruno Gilga, um dos representantes dos funcionários no C.O. diz, "Ao contrário do que se disse no Conselho Universitário, esse não é um passo em direção a implementação de políticas de inclusão como as cotas. Na verdade é uma forma de a reitoria e o próprio C.O. evitarem, como têm feito há anos, a discussão das cotas raciais e sociais na Universidade. Trata-se de uma medida que não dá resposta à enorme tensão social produzida pelo reconhecimento público e muito amplo do caráter estruturalmente elitista e racista da Universidade de São Paulo".

Como se isso não bastasse, aos que se colocam contra as medidas da reitoria, sobra repressão. Enquanto a reitoria fecha os olhos e ouvidos para as reivindicações históricas dos estudantes, perseguem politicamente os estudantes do DCE e diretores do SINTUSP que se manifestaram favoravelmente às cotas raciais nos últimos meses.

Diante de tudo isso cabe a nós, estudantes e trabalhadores da Universidade, voltarmos aos nossos cursos discutir tudo isso com nossos pares. Muitos de nós estamos descobrindo essa novidade agora, pois a reitoria decidiu esconder ao invés de discutir amplamente. E isso não podemos aceitar.




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