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CALOURADA NA LETRAS USP | USP: Centenas de Estudantes da Letras são recebidos com arte e política

Com o tema “Ocupar e ReExistir – façamos como os secundaristas”, a calourada do curso de Letras da USP recebeu grande parte dos 850 ingressantes do curso em 2016. Grandes mesas de debates sobre a crise econômica, política e seus reflexos na educação brasileira, e aulas sobre o papal da Universidade e da arte fizeram parte da "Calourada".

quarta-feira 17 de fevereiro de 2016 | 03:10

Rompendo a antiga tradição de trotes das universidades de elite do Brasil, o Centro Acadêmico de Letras da USP realizou a recepção com uma nova perspectiva: no lugar dos trotes como pintura coerciva, pedágios em semáforo e brincadeiras de ridicularização, uma forte política pela integração sem opressão incentivando que os próprios ingressantes que quisessem se pintassem, e aproveitam a festa com os veteranos em igualdade, e buscando esclarecer dúvidas dos estudantes e pais.

Uma recepção "à altura dos desafios que 2016 nos apresenta"

Pensada a partir do mote “Ocupar e ReExistir – façamos como os secundaristas”, a calourada retomou o exemplo dos estudantes que ocuparam suas escolas e venceram Alckimin, buscando repensar a própria universidade. Desde a matrícula a atual gestão "Por Isso Me Grito" buscou uma experiência profundamente diferente das recepções anteriores, além do forte discurso contra qualquer tipo de opressão e violência, a recepção não furtou apresentar aos calouros a atual conjuntura de crise da USP, ligando à situação de crise geral que os ingressantes traziam de bagagem. No primeiro dia de ingressada, parte dos calouros acompanhou o processo de luta das trabalhadores terceirizadas da universidade, uma experiência prática com parte da realidade existente na "Universidade de ponta".

"Temos que recepcionar os ingressantes da forma mais calorosa, com conversa, diversão, fazer muita arte, poesia, e não decepcionar quem esperou tanto por isso, mas ao mesmo tempo não é possível fechar os olhos pra realidade que nos cerca. Nossa calourada é também política, e precisa estar à altura dos desafios que 2016 nos apresenta, e fizemos questão de estar junto aos professores e trabalhadores, que encararão essa situação ao nosso lado.", contou a estudante do 5º ano e diretora da entidade Jéssica Antunes.

Crise política e na educação

Na segunda-feira (15), após apresentação das entidades de auto-organização da universidade, os ingressantes participaram de uma mesa bastante lotada intitulada "Crise política e na educação: os secundaristas mostram o caminho”, que contou com a participação dos Professores Plínio Arruda Sampaio Jr. (Economia/Unicamp), que saudou de início a atividade organizada, Jorge Luís Grespan (História/USP), Daniel Puglia (Letras/USP), a estudante secundarista Luana (ocupante da E.E. Fernão Dias), os funcionários da USP Patrícia Galvão (FFLCH/Secretaria da Mulheres do Sintusp) e Marcelo Pablito (Bandejão/Secretaria de Negras, Negros e combate ao racismo do Sintusp).

Os debates atravessaram as origens da crise econômica mundial que em 2015, provou ser muito mais estrutural do atual modelo econômico do que a “marolinha" que defendiam Lula e PT, seus agravamentos em 2016 e suas consequências à classe trabalhadora e a juventude, principalmente na situação de calamidade na qual se encontra a Educação. Os juros extorsivos pagos aos bancos e as metas orçamentárias por eles impostas, por exemplo, sobrevivem à base de mais endividamento do Estado, sobrando nenhuma autonomia para decidir os rumos da própria economia e muito pouco para as políticas sociais, como educação e saúde, levando à casos escandalosos como o Zika Virús.

A crise da USP, os cortes nos direitos da comunidade universitária frente aos privilégios da burocracia e a política repressiva da Reitoria, como no processo à Marcello Pablito e estudantes em luta pelas Cotas Raciais, também foram centro do debate, que longe de desanimar os calouros, buscou colocar grandes objetivos para além, e que se somam, de todo o conhecimento que o estudo teórico na sala de aula propicia. Uma luta política decidida como a dos secundaristas de São Paulo contra Alckmin, em defesa do direito a educação de qualidade, inovando os métodos históricos de luta, como os atos de rua e ocupações, somado à auto-organização através de um órgão central que congregava representantes votados e revogáveis de cada escola em luta, para condensar as experiências de cada frente preparar os próximos passos articulados do movimento, foi o caminho apontado pela atividade frente a todo o cenário debatido.

A soma das lutas de secundaristas, universitários, professores e funcionários, todos personagens fundamentais da educação do país se somou a inúmeras intervenções dos "calouros" que mostraram estar preparados para todo o debate, e mais ainda, para serem sujeitos das importantes mudanças que devem ser feitas não só na Universidade ou na Educação, mas no conjunto da sociedade.

No período da tarde, a Letras foi ocupada por arte e cultura, com um sarau que reuniu cerca de 150 estudantes que fizeram música, declamaram poesias de grandes poetas e apresentaram a seus colegas suas próprias criações, mostrando que além de leitores e críticos haverá também grandes artistas no curso. Essa é uma importante iniciativa para tornar vivo o espaço da universidade, que tanto faz para podar o impulso criador da juventude que muito tem a dizer, e minar qualquer política de socialização e expressão coletiva.

Universidade pra que(m)?

Na terça-feira (16), uma importante conversa sobre o combate às opressões precedeu a aula pública inaugural do curso, cujo tema “Universidade para que(m)? O papel da produção do conhecimento e da arte” foi debatido pelos professores Maria Silvia Betti (Letras/USP) e Roberto Zular (Letras/USP) e os militantes indígenas Givanildo e Sassá Tupinambá.

"A discussão sobre o caráter da Universidade, a quem serve sua produção intelectual e o papel que cumpre, ou deveria cumprir, na sociedade é fundamental para que os estudantes possam de fato pensar e construir um novo modelo de educação e de sociedade, possam disputar todo esse conhecimento produzido aqui.", disse Flávia Toledo, diretora do Centro Acadêmico e militante do coletivo Juventude às Ruas.

Algo inédito foi a presença de indígenas na aula inaugural, apresentando questões que a universidade não aborda, devido ao seu caráter de instituição racista e elitista, o embate e o encontro entre as visões de dentro e de fora da Academia foi potente para aproximar a universidade do restante da sociedade, gerando reflexões e desejos de que algo novo surja na Universidade de São Paulo e consciência do que isso pode significar para o conjunto da sociedade.

Durante a tarde, diversas oficinas e rodas de conversa deram uma nova vida ao prédio normalmente pouco ocupado. Oficinas de produção de zine-poesia, maracatu, entre outras ocorreram durante a tarde, com destaque para a "Lip Sink For You - Jesus Usava Chanel". Entre as rodas de conversa houveram temas como "Pra onde vai o Capitalismo", a questão feminista, o machismo no esporte e acesso e permanência, o destaque ficou para a roda de conversa sobre a Representatividade Indígena na Produção Acadêmica e Literária, chamada pelo grupo de estudos Ayreni.

Cotas Já!

Na quinta-feira, o Centro Acadêmico realizará com os ingressantes um ato em denuncia ao racismo e elitismo, exigindo a implementação das cotas raciais na universidade. A ação irá ocorrer em frente ao prédio da FUVEST, ao lado do Portão 1 da Universidade.


Temas

Caell    USP    Juventude



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