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UNIVERSIDADES PRIVADAS E A REFORMA TRABALHISTA | UNE deve convocar um plano de luta para enfrentar a reforma trabalhista nas universidades

Virgínia GuitzelTravesti, trabalhadora da educação e estudante da UFABC

terça-feira 2 de janeiro de 2018 | Edição do dia

Os ataques a educação são recorrentes e se intensificaram desde o golpe institucional. A PEC 55, que congela por 20 anos os gastos do governo com saúde e educação e esse ano já mostrou suas garras com o sucateamento de diversas escolas além dos postos de saúde, a reforma do Ensino Médio, que propõe um estudo tecnicista para criar mão de obra barata e desestimular o desenvolvimento da juventude, cortando as matérias que desenvolvem o senso critico fazendo coro a outro ataque do governo , o Escola Sem Partido que já ameaça professores e estudantes críticos, os cortes dos Prouni, Fies e bolsas de incentivo a pesquisa Somados a todos esses ataques diretos a educação vemos agora a reforma trabalhista atacando também as universidades que já somam mais de 400 demissões fruto da “reestruturação” das universidades.

Frente a crise internacional das universidades, o Banco Mundial já manifestou seu apoio em acabar com a universidade pública e cobrar mensalidades, é preciso erguer um movimento estudantil combativo e independente do PT para defender uma educação a serviço da classe trabalhadora.

Em São Paulo são já pelo menos 5 universidades privadas que tem seus professores demitidos por perseguição política e para "reestruturar" o ensino à serviço do lucro dos tubarões do ensino. Mais de 7 instituições privadas - Estácio, Metodista, Mackenzie, Casper Libero, Anhambi Morumbi, São Judas, ESPM - se apoiam na Reforma Trabalhista aprovada por este Congresso de privilegiados para descarregar sob os estudantes e trabalhadores a crise econômica.

Se o ensino superior já vinha numa crise anunciada com a grande expansão das universidades privadas ao longo dos governos petistas, hoje os dados demonstram as contradições entre os interesses dos estudantes trabalhadores e os grandes monopólios como Kroton-Anhanguera. De cada quatro estudantes de graduação, três frequentam uma instituição privada. A média nacional é de 2,5 alunos da rede privada para cada um da rede pública. No entanto, em São Paulo, chega a ser o dobro: para cada aluno de rede pública, existem cinco na particular.

Mas mais preocupante é saber que de todos os alunos que ingressaram no ensino superior em 2010, cerca de metade (49%) abandonaram os cursos até o quarto ano, em 2014. O que revela um alto índice de desistência, de inadimplência e obstáculos para garantir o direito a educação. Se contarmos que 62% dos alunos da modalidade presencial estudam à noite, veremos que a realidade é de uma inserção precária da classe trabalhadora ao ensino superior.

Todavia a maioria das instituições de ensino superior no Brasil pertence à rede privada. Enquanto 87,5% delas são particulares, apenas 12,5% são públicas. Entre as instituições privadas, predominam os centros universitários (94%) e as faculdades (93%). Considerando apenas as públicas, 40,7% delas são estaduais, 36,3% são federais e 23% são municipais. Entre essas instituições públicas, o formato que predomina são as universidades, que são as mais completas estruturas de ensino superior oferecidas no país. De todas as 195 universidades brasileiras, 54,9% são públicas.

Como então podemos lutar por uma educação pública gratuita e de qualidade, senão pensamos na luta por uma educação a serviço da classe trabalhadora? Como sermos sérios em defender os estudantes, se a UNE não olha para as imensas universidades privadas e em seus congressos não debate como organizar desde a base a resistência aos ataques a educação?

As primeiras vitórias da Estácio no Rio de Janeiro e a universidade UniRitter em Porto Alegre que conseguiram, por hora, barrar as demissões de seus professores mostram um caminho. Mas esse processo que está apenas começando concentra uma ideia fundamental: qual resposta será dada para a enorme crise e como podemos atuar por uma educação que esteja a serviço da classe trabalhadora, na sua produção científica, acesso e para a luta de classes.

Sucateamento, altos valores: universidade para poucos. A crise revela um projeto de educação em disputa

A reforma trabalhista que entrou em vigor no dia 11 de Novembro já está a todo vapor. Há tempo os empresários queriam colocar essa reforma para aumentar sua exploração sob a classe trabalhadora, em especial a juventude. Enquanto as LGBT, a juventude negra e as mulheres ocupam a maioria dos trabalhos precários, os patrões buscam igualar por baixo todos. Em outras palavras, isto é, os grandes tubarões de ensino acharam uma forma para lidar com a queda do investimento público dentro das universidades privadas. Essa forma é um projeto de reestruturação que vai precarizar ainda mais o ensino, tornando o mercado do ensino mais lucrativo. Se ao longo dos últimos 10 anos, os tubarões de Ensino receberam milhares para salvar sua crise econômica, o que foi vendido pelo PT como "democratização do ensino", e endividou milhares de jovens - muitos que inclusive sequer terminaram suas graduações - hoje esta crise que já era anunciada, encontrou novamente uma saída contra os estudantes e trabalhadores. Na forma da reforma do ensino, da lei da mordaça e na reforma da trabalhista, os tubarões do ensino encontraram saídas para manter seus lucros, enquanto oferecem um ensino sucateado com a única intenção para além de encher seus bolsos, de formar mãos de obra barata para suprir as necessidades dos fluxos de trabalho.

Parte da responsabilidade por esses ataques passarem sem qualquer resistência é da direção da UNE (União Nacional dos Estudantes), que há anos vem imobilizando as entidades estudantis e defendendo a manutenção do projeto petista de educação que garantiu a formação de grandes monopólios internacionais, como a Kroton-Anhanguera, sem desenvolver nenhum questionamento ao capital privado e a precarização do ensino.

O futuro da juventude brasileira é assustador, se não construirmos uma resposta à esta grande crise que invade a vida e a esperança de milhares de jovens. Eles se organizam com seus partidos, com o dinheiro público, nós enquanto juventude devemos nos organizar também, ser linha de frente contra as reformas e lutar por uma educação acessível a todos, que responda as pautas dos trabalhadores.




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