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CRISE CAUSA DOENÇAS MENTAIS | Trabalhadores estão sofrendo mais casos de transtorno de ansiedade devido à crise

De acordo com dados fornecidos pela Secretaria da Previdência, nos últimos quatro anos os casos de afastamento do trabalho com auxílio-doença em decorrência de transtorno de ansidedade cresceram 17%, passando de 22,6 mil em 2012 para 26,5 mil em 2016.

segunda-feira 26 de junho de 2017 | Edição do dia

Atualmente no país os casos de afastamento por ansiedade já chegam a um quinto do total de afastamentos em decorrência de doenças mentais, atrás apenas da depressão, que corresponde a três em cada dez afastamentos.

Do ponto de vista do governo, que quer acabar com a aposentadoria e a previdência e já vem endurecendo as concessões de auxílio-doença e aposentadorias por invalidez, deixando milhares de pessoas sem alternativa de renda, o aumento desse número só importa pelas suas cifras: ao longo desses quatro anos R$1,3 bilhão de reais foram gastos com o auxílio.

Contudo, outros setores vem chamando a atenção para o significado do aumento. Para a defensora pública Isabela Simões, que há nove anos trabalha na área previdenciária, o aumento é alarmante e demonstra a gravidade para a saúde dos trabalhadores. “Antes, o número de ações por causas ortopédicas era absurdo. Agora, o de ações por transtornos mentais tem crescido, a ponto de ser quase já a metade.”

A insegurança, o desemprego, o assédio moral são fatores que agravam e desencadeiam o aparecimento da doença. Em tempos de crise, em que os patrões estão cada vez mais atacando os direitos dos trabalhadores, a ocorrência de casos de ansiedade é muito maior.

E muitas vezes, por orientação do governo que quer cortar os benefícios previdenciários, as licenças médicas e auxílios não são concedidos mesmo quando há um caso de doença. O fato de que as doenças psíquicas não tenham como ser comprovadas por nenhum tipo de exame ajuda o governo a orientar o corte de benefícios aos que são atingidos por essas enfermidades.

Atualmente as doenças mentais são a terceira maior causa de afastamentos do trabalho, perdendo para lesões e doenças do sistema osteomuscular. A maioria destas é causada pelo próprio trabalho. No caso das doenças mentais, contudo, é mais difícil a comprovação e, portanto, a responsabilização do empregador.

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Casos como o do bancário Welbert Maciel, de 28 anos, são comuns. “Comecei a ser muito pressionado, e quando vi, estava doente”, relata. “Tinha pânico de sair de casa. Passava cinco dias sem dormir e comecei a desmaiar. Fui suportando, suportando, e quando vi, estava com depressão profunda.”

A doença de Welbert foi desencadeada pelo assédio moral no ambiente de trabalho, algo que acomete os bancários pressionados por metas e produtividade, levando a que muitos nessa profissão adoeçam nesse ambiente de constante assédio.

O caso do bancário é um dos que mostram como é difícil conseguir o direito ao afastamento: ele possuía laudo de três médicos e dois psicólogos diferentes, mas mesmo assim foi obrigado a recorrer à justiça para que o INSS reconhecesse que a doença estava relacionada a seu trabalho.

Além disso, em muitos casos os trabalhadores são obrigados a tentar esconder e aguentar a doença causada pelo trabalho pelo medo de serem demitidos.

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