Uma das imagens mais emblemáticas do golpe de Estado foi o voo dos Hawker Hunter, que bombardearam o palácio presidencial de La Moneda na manhã de 11 de setembro de 1973. Como diria Patricio Manns, na canção “O Corvo”, de 1982, “chegou voando o corvo sobre meu solo para semear as ruínas e o desamparo”.
Ana Lopez@analopezd | Historiadora | Argentina
terça-feira 12 de maio de 2015 | 00:00
O avião Hawker Hunter era um caça britânico, que foi utilizado durante décadas pela Royal Air Force e por exércitos de outros países. Entre eles, Chile, para bombardear o La Moneda – que ardeu durante hora em decorrência do bombardeio – a cada de Tomás Moro, na qual residia Allende, a Rádio Magallanes e outras rádios próximas ao governo.
Apesar do silêncio que se instaurou sobre o fato, algumas investigações assinalam que os pilotos desses aviões foram Eitel Von Mühlenbrock, o tenente Gustavo Leigh Yates, Ernesto Amador Gonzáles Yarra e Fernando Rojas Vender. No ano de 2011 foi realizado um processo pela morte de Salvador Allende, no qual foram revelados os nomes destes pilotos.
Não Passarão
No ano de 1974 os motores dos aviões Hawker Hunter foram enviados a uma cidade escocesa, à fábrica da Rolls Royce, para serem consertado. No entanto, os trabalhadores da empresa, ao saberem sua origem, se organizaram para boicotar o serviço e, dessa maneira, repudiar a ditadura pinochetista, solidarizando-se, assim, com suas vítimas e com os trabalhadores chilenos, seus irmãos de classe.
Um dos trabalhadores recorda que em uma assembleia, na qual participaram 4000 trabalhadores, se votou não trabalhar com esses motores. É que a essa altura, as imagens do La Moneda em chamas e os relatos dos exilados sobre as torturas e desaparecimentos promovidos por Pinochet já circulavam por todo o mundo.
O cineasta Felipe Bustos, que é filho de um exilado chileno, realizou o documentário “Não Passarão” sobre esta história, entrevistando os trabalhadores que fizeram esse boicote. O gesto dos trabalhadores escoceses não foi o único. Nos dias posteriores ao golpe foram feitas algumas manifestações na Argentina repudiando Pinochet. O mesmo ocorreu nos Estados Unidos, quando os trabalhadores da AFL-CIO ameaçaram com um boicote internacional o Chile, pelas condições trabalhistas que viviam nos anos 1970.
O documentário retrata o testemunho de alguns desses trabalhadores, como Bob Fulton, Robert Somerville e John Keenan. Sommerville participou também de um Comitê de Solidariedade ao Chile, em uma época em que o repúdio internacional à ditadura era amlo, e também a solidariedade aos exilados e presos políticos. Os motores dos Hawker Hunter nunca foram consertados, até que um dia – quatro anos depois de chegar à fábrica – desapareceram sem deixar rastro.
O lema “Não Passarão” foi muito utilizado na guerra civil espanhola, como um símbolo de luta contra o franquismo.
O documentário foi apresentado no ano de 2014 no Festival Internacional de Documentários, Fidocs.
O trailer pode ser assistido em: https://www.youtube.com/watch?v=GgSaxhKKcAM
Para ver a ficha técnica do documentário: http://www.fidocs.cl/peliculas/n-pasaran/
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