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RACISMO LATAM | Trabalhador que denunciou racismo na Latam foi excluído das empresas da aviação e do mercado de trabalho

Já imaginou ser demitido e excluído do mercado de trabalho por denunciar casos de racismo? Isso aconteceu com José Roberto, funcionário demitido da Latam. Como é possível lutar contra essa situação?

sábado 22 de maio de 2021 | Edição do dia

Já imaginou ser demitido e excluído do mercado de trabalho por denunciar casos de racismo? Isso aconteceu com José Roberto, funcionário demitido da Latam. Ontem foi divulgado que após alguns anos a empresa Latam foi condenada pelo Estado por omissão, frente a casos de racismo sofridos por José Roberto. Isso não aconteceu porque a justiça brasileira deixou de ser racista, mas sim porque a luta de classes por todo o mundo, com o exemplo do Black Lives Matter, educa através do exemplo. Com medo de que aconteça aqui o que aconteceu lá, a justiça usa ações como essa para tentar institucionalizar e desviar o sentimento de indignação frente aos casos mais extremos de racismo que trabalhadoras e trabalhadores sofrem cotidianamente.

Por exemplo, no caso de José Roberto, a Comissão processante da Secretaria Estadual de Justiça de São Paulo condenou a LATAM Linhas Aéreas a pagar multa no valor entre R$ 14 mil e R$ 28 mil, no entanto, Roberto não fica com absolutamente nada desse valor. Ao ser totalmente direcionada ao Estado, a multa indica um apagamento da figura de Roberto, que foi justamente o trabalhador que sofreu racismo dentro da Latam. Como se o racismo não fosse contra um indivíduo, a quem a Latam deve ressarcir e restituir seu posto de trabalho, mas sim contra o Estado. Ou seja, apesar de abrir um precedente jurídico fundamental para outras ações contra mais empresas que perpetuam o racismo, a ação de condenação da Latam perpetua também em si mesma o próprio racismo.

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Além disso, Roberto foi demitido, excluído nas seleções das empresas de aviação e posteriormente de outras empresas, como a rede Magazine Luiza. Roberto hoje trabalha como porteiro, uma área distante da que tinha quando exercia seu trabalho na aviação, trabalho do qual foi demitido por não aceitar ficar calado frente aos absurdos casos de racismo que sofreu. Fica claro que as empresas não querem que ele volte porque na verdade não se importam com a luta contra o racismo. Fica claro também o quão falacioso são prêmios como o “Camélia da Liberdade” e a demagogia com o turismo LGBT da Latam, que são na verdade medidas midiáticas ligadas apenas a interesses de mercados da companhia (e inclusive de todas as outras empresas).

Como lutar contra isso?

O caso é tão absurdo quanto emblemático porque leva à reflexão sobre o quê fazer frente a tamanho problema. Podemos começar pelo caminho de que para os empresários e capitalistas o racismo potencializa seus lucros. Por isso, não agrada aos donos das empresas de aviação que trabalhadores se coloquem contra as humilhações diárias, e especialmente as humilhações racistas, que sofrem para que trabalhem sempre de cabeça baixa e aceitando todos os mandos e desmandos do regime de trabalho que essas empresas utilizam. Para isso querem sempre desmoralizar cada trabalhador super explorado pelo trabalho precário nos aeroportos, e isso é particularmente forte contra os trabalhadores e usuários negras e negros. É assim que age a covarde elite brasileira, desde os tempos dos quilombos e desde quando se deu conta de que uma revolta negra como a da independência do Haiti no Brasil seria imparável.

O racismo é especialmente interessante para os senhores modernos porque nos nossos dias o contingente da classe trabalhadora é ainda mais poderoso, multiétnico e que unificado torna impossível o controle de um pequeno grupo parasita - que é o que realmente representa a classe capitalista quando concentram toda a riqueza produzida por bilhões de trabalhadores ao redor do mundo na mão de algumas poucas famílias imperialistas e colonialistas -, como demonstra o Black Lives Matter, maior movimento de massas de toda a história dos Estados Unidos.

Por isso, os capitalistas querem que trabalhadores reproduzam o racismo para se dividirem e se transformarem em presas nas mãos dos poderosos sedentos por lucros. É isso que querem governos como o do racista Bolsonaro. E como querem toda a repugnante elite brasileira, inclusive a mídia capitalista que grita palavras ao vento de democracia enquanto faz de tudo para mentir, enganar e derrotar lutas dos trabalhadores, como as do metrô de SP, empresários, castas políticas, proprietários de terra herdeiros da escravidão. Setores dessa elite a quem não podemos ter nenhuma ilusão de que podemos nos aliar.

No Brasil apenas à classe trabalhadora interessa o fim do racismo. E por isso a primeira coisa que as organizações de trabalhadores como os sindicatos, na sua maioria dirigidos pela CUT, mas também as outras centrais, sindicato de aeronautas, de aeroportuários, deveriam fazer seria uma campanha pela readmissão imediata de José Roberto ao seu trabalho, com o pagamento de todos os dias em que ficou afastado de seu trabalho como restituição frente a absurda demissão e a conivência da Latam com o racismo que sofreu enquanto trabalhador da empresa.

Mas não apenas isso, é fundamental que dentro dessa campanha exista espaço para a mais ampla e democrática organização dos próprios trabalhadores. Hoje as grandes centrais e os sindicatos são dirigidos por grandes burocracias que não convocam assembleias democráticas onde os próprios trabalhadores possam se expressar e decidir através de propostas e votos dos próprios trabalhadores. As burocracias sindicais fecham as portas para qualquer espaços e comitês para organizações de luta das trabalhadoras e trabalhadores negras e negros. Mas, na verdade apenas através da ação conjunta das e dos trabalhadores organizados, tendo as negras e negros a sua frente pode-se criar verdadeiras ações de combate antirracista, com comitês de educação e conscientização verdadeiramente anti-racistas, organizados pelos próprios trabalhadores, junto a estudantes, professores, intelectuais, de forma a combater de verdade o racismo dentro da classe trabalhadora, especialmente no setor da aviação. Outro poderoso fruto deixado pelo Black Lives Matter floresce no impulso dos operários da Amazon, em sua maioria negros, fundarem sindicatos para lutar.

A reincorporação de José Roberto ao seu trabalho seria uma forma exemplar de mostrar que é possível lutar contra o racismo independentemente, com os métodos de luta da própria classe trabalhadora, que pode envolver inclusive greves para reincorporação de trabalhadores demitidos injustamente - uma tradição na luta da classe trabalhadora esquecido pelas atuais direções sindicais burocráticas.

Essa luta deve se estender muito além disso, como a demanda de igualdade salarial entre brancos e negros, com o fim da terceirização, iguais salários e iguais direitos para iguais trabalhos, com a incorporação dos terceirizados às companhias aéreas. Lutar com essa perspectiva é só o começo para muito do que a classe trabalhadora pode fazer para uma ação antirracista e revolucionária.

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