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8 de março | Todes à plenária de preparação do 8M em Natal! Pelo direito ao aborto e revogação das reformas!

Nesta quarta-feira, dia 08/02, será realizada uma plenária, para preparar e construir o ato do 8 de Março, Dia Internacional das Mulheres, às 17h, no auditório do Sindsaúde.

Camila CampeloMestranda em Psicologia pela UFRN e militante da Faísca Revolucionária

segunda-feira 6 de fevereiro de 2023 | 22:08

Esta plenária vem após o governo reacionário, misógino e lgbtfóbico de Bolsonaro, responsável por legitimar violências absurdas que saem do esgoto da extrema direita brasileira. Ao mesmo tempo, é fundamental refletir a entrada em um governo de aliança com a direita e os patrões que desfere golpes sistemáticos contra a classe trabalhadora que recaem fortemente contra mulheres negras e pessoas trans. Tudo isso em um cenário de luta de classes internacional no Peru e na França, em que mulheres e LGBTQIAP+ são linha de frente, assim como na luta de meses contra o governo no Irã, em que as mulheres foram a faísca da revolta contra o fundamentalismo.

O dia histórico do 8 de março remonta às lutas das trabalhadoras de uma fábrica têxtil de Nova York, em 1857, em que as operárias declararam greve contra jornadas extenuantes de trabalho de 12 horas e os míseros salários que recebiam, sendo fortemente reprimidas pela polícia. Em 1909, 140 jovens morreram queimadas, também em uma fábrica têxtil, sendo este um ano em que outras 30 mil operárias têxteis nova-iorquinas instauraram greves que, embora brutalmente reprimidas pela polícia, receberam apoio de estudantes, sufragistas, socialistas e diversos setores da sociedade. Em 1910, Clara Zetkin - dirigente do partido Social-democrata alemão que lutou contra a direção do partido que decidiu apoiar os créditos de guerra na Primeira Guerra Mundial - propôs a data do 8M como Dia Internacional da Mulher, resgatando o legado daquelas que organizaram ações das trabalhadoras contra os capitalistas.

Mas afinal, o que isso tem a ver com o 8M em 2023? Este resgate não é em vão, nem serve apenas para rememorar as lutas das mulheres do passado. Esse resgate precisa ser estratégico se vivemos no capitalismo que segue explorando e oprimindo brutalmente as mulheres e LGBTQIAP+, junto ao povo negro e povos originários. Em um cenário de feminismo liberal que estabelece parâmetros de vida meritocráticos, instaurando objetivos para as mulheres ocuparem cargos de poder e seguirem explorando outras, é urgente romper com qualquer caminho de aliança com a direita e a burguesia que apenas renova suas formas de arrancar nossas vidas em detrimento de seus lucros.

Veja mais em: Pão e Rosas – Identidade de gênero e antagonismo de classe no capitalismo (3°Edição)

Em 2022, vimos o levante das iranianas diante do assassinato de Mahsa Amini pela polícia moral do Irã, acusada de não usar o véu, que provocou protestos em todo país em que as mulheres queimaram seus véus em praça pública! No Peru as mulheres fazem um combate frontal contra o governo golpista da Dina Boluarte e na França, contra a reforma da previdência de Macron. No Brasil, vimos os protestos da categoria da enfermagem, em sua maioria mulheres, organizadas na luta pelo piso salarial. Ao longo do ano passado acompanhamos a luta das professoras em MG, PI e RN, das terceirizadas reivindicando seus salários nas universidades federais e internacionalmente. Nos últimos dias nos deparamos com o assassinato brutal de Janaína dentro da UFPI, mesmo estado em que o judiciário está proibindo uma criança estuprada de abortar. Ainda em 2022, Ester, Estefani e tantas outras mulheres trans e travestis foram assassinadas no RN, estado que recebe o prêmio de melhor destino para turistas LGBTQIAP+.

O reacionarismo de Bolsonaro e Damares legitimado pelo seu conservadorismo religioso é responsável! O alívio diante de sua derrota eleitoral é sentido, mas não podemos fechar os olhos para a extrema-direita institucionalizada e para a verdadeira face dos ditos nossos aliados. Bolsonaro atacou veementemente as mulheres e suas ideias seguirão firmes com os militares na política, junto ao neopentecostalismo e o agronegócio que destrói desde a ditadura militar a terra indígena Yanomami, por exemplo, que apesar do território demarcado, não há garantia contra a invasão do garimpo já que não houve combate frontal contra o agronegócio. A presença de Damares segue como herança dos absurdos que cometeu, como expôr uma menina de 11 anos estuprada e mobilizar sua base religiosa contra o aborto da criança.

Quando defendemos uma luta independente dos governos e dos patrões é também para atentar para o cenário em que estamos de um novo governo Lula, agora junto a Alckmin, que de novo não apresenta nada, ainda que leve para o palco da posse as representações dos povos oprimidos, mas na verdade demonstra o aprofundamento das alianças com setores reacionários, inclusive aliados de Bolsonaro na câmara dos deputados e no senado, Arthur Lira e Pacheco, que carregam nas mãos o sangue de milhares de trabalhadores e povo pobre por suas alianças com o ex-presidente. Ao lado de Lula também estão José Múcio, que foi integrante do ARENA na ditadura militar, Daniela do Waguinho que tem relação com a milícia carioca e Juscelino Filho (União Brasil), exímio apoiador das reformas que compõe a Frente Parlamentar Contra o Aborto. Nesse 8M completam 10 anos de Marco Feliciano na comissão de direitos humanos do governo Dilma (PT), um governo que selou acordos com a Igreja e, mesmo com 13 anos do partido no poder, não legalizou o aborto. No Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT) dá continuidade à linha do partido ao aplicar as reformas no estado, precarizando ainda mais as trabalhadoras, e se aliar à oligarquia dos Alves.

A UNE, que é dirigida pelo PT e PCdoB, junto com as centrais sindicais da CUT e CTB, dirigidas pelos mesmos partidos, precisam romper sua inércia e sua política de alianças com a direita e a burguesia para defender efetivamente os interesses das mulheres trabalhadoras e da juventude, desenvolvendo assembleias em cada local de trabalho e estudo para lutar por nossas demandas, já que somos maioria entre informais, desempregades e famintes no mundo inteiro, assim como maioria na classe trabalhadora mundial.

Diante de tanto rebaixamento de expectativas, o que resta para a luta das mulheres? Qual a hora de lutar pelo direito ao aborto? Qual o momento de impor justiça por Janaína e por todas as trans e travestis assassinadas no país? Em que momento batalhar pela revogação de todas as reformas que precarizam diariamente a vida das mulheres?

Nós do Pão e Rosas defendemos que não podemos rebaixar nossas bandeiras, já que as consequências disso mostraram o avanço da extrema-direita mais nojenta que não acabou com as eleições e segue assombrando nossas vidas. Nos inspiramos nas argentinas que arrancaram o direito ao aborto com a maré verde em 2020, construindo um 8 de março decidindo democraticamente os rumos da batalha contra o patriarcado que assassina e explora diariamente as mulheres, pela legalização do aborto, contra o Estatuto do Nascituro, em defesa das tantas que morreram pela clandestinidade, e pela revogação das reformas que intensificam ainda mais a exploração capitalista sobre as mulheres.

O patriarcado é um dos pilares de sustentação do capitalismo e por isso só a destruição da exploração capitalista é capaz de colocar na lata de lixo da história o patriarcado. O exemplo da grande Revolução Russa de 1917 mostrou a imposição dos avanços para a vida das mulheres pelo Partido Bolchevique, com o direito ao aborto, ao divórcio e à socialização do trabalho doméstico, junto à participação na vida política.

Porque a classe trabalhadora é uma só e sem fronteiras, só nossos métodos de luta são capazes de derrotar efetivamente a extrema-direita e todos os ataques que nos oprimem e exploram. Como dizem Diana Assunção e Letícia Parks no prefácio do livro “Nós Mulheres, o proletariado”:

Quando pensamos na palavra “proletariado” o que vem à nossa mente? Na maioria das vezes, uma imagem de operários brancos de macacão. Em alguns outros momentos, a famosa frase de Karl Marx que finaliza magistralmente o Manifesto Comunista com “proletários de todo o mundo, uni-vos”. Mas e se esse imaginário começar a ser invadido por operárias fabris da China ao México, por trabalhadoras da saúde da Alemanha à África do Sul, por empregadas domésticas negras do Brasil às Filipinas, por professoras dos Estados Unidos à França? Quem é esse rosto feminino que em pleno século XXI sacode o imaginário de todos? Somos nós, mulheres, o proletariado.

Para que não rebaixemos nossas bandeiras, convidamos todes a participarem da plenária que será nesta quarta-feira, às 17:00, no SINDSAÚDE Cidade Alta.




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