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UNESP RIO CLARO | Tiros no Santander da Unesp de Rio Claro na última sexta-feira

Na manhã da última sexta-feira (6/08), dois indivíduos adentraram o campus com a intenção de tomar posse do dinheiro da agência do banco Santander localizada dentro do campus da Unesp de Rio Claro, no interior de São Paulo. Após reação de um funcionário houveram tiros no local. Ao tentarem fugir os dois se atrapalharam e bateram o carro em um poste, em seguida roubaram uma moto e fugiram com ela. Haviam câmeras no campus. Em Março deste ano houve um caso semelhante no banco deste mesmo campus, naquela ocasião os seguranças da Unesp foram recebidos com tiros de fuzil.

quarta-feira 12 de agosto de 2015 | 00:16

Para que(m) servem as câmeras na universidade?

Estes não são os primeiro e nem devem ser os últimos relatos deste tipo. Ainda que os dados não tenham sido divulgados oficialmente pela Unesp, o Esquerda Diário fez uma breve pesquisa* de casos similares no período recente, e desvendamos o quão comum são as histórias como esta na Unesp. Seguem alguns exemplos.

Ao dia 14/11/2014 dois homens armados tinham como alvo o banco no campus da Unesp de Presidente Prudente, houve rendição de funcionários. Haviam câmeras de segurança no campus. Em 13/10/2014, três funcionários e dois estudantes foram feitos de reféns na Unesp de Rio Preto em investida no banco dentro do campus, também haviam câmeras nesta unidade. Ainda no ano de 2014, em Agosto vigias e funcionários foram rendidos no campus de Assis, foram levados 115 mil reais, apesar da presença de câmeras.

É emblemático o caso da Unesp de Araraquara, na qual, segundo relato de estudantes, já foram mais de 7 casos de ocorrência nos bancos nos últimos anos, com explosões, armas de fogo e funcionários feitos reféns. Para citar alguns mais recentes, em 09/04/2014 seguranças foram rendidos, os reféns ficaram amarrados.

Já haviam câmeras no campus na ocasião, contudo, o assalto justificou o investimento em novas câmeras de última geração. Segundo relato de estudantes, os funcionários que foram reféns foram obrigados a trabalhar no dia seguinte como se nada tivesse acontecido, pagando do bolso equipamentos danificados. Um mês depois, em 04/05/2014 ocorre novo caso no mesmo banco, com rendição de vigias. Em novembro do mesmo ano a história se repetiu. Não para por aí a história recente: com as câmeras em perfeito funcionamento, o ano de 2015 já começou com novo caso de incursão no banco da Unesp de Araraquara, no dia 05 do mês de fevereiro.

Além destes há muitos outros registros, como em Araçatuba, e Guaratinguetá. Em quase todos os casos evidenciamos o risco aos funcionários e estudantes, bem como, é presença comum as câmeras de vigilância nos campi.

Para que(m) servem as câmeras instaladas nos campi da Unesp?

Há poucos meses foram instaladas câmeras no campus da Unesp de Marília com grande resistência dos estudantes, como relatamos aqui. As câmeras foram instaladas “sem que qualquer discussão democrática fosse realizada com a comunidade, sem qualquer aviso prévio, sem divulgação acerca de seus objetivos, sem avisos afixados nas paredes para que as pessoas saibam que estão sendo filmadas, sem divulgação sobre o número de câmeras, sobre os gastos, e sobre quem tem acesso às imagens”. Pressionado pela mobilização dos estudantes, os representantes da direção do campus disseram que se trata de um projeto milionário da Reitoria de instalação de câmeras em diversos campi da instituição.

A direção deu o argumento da “segurança” como justificativa para instalação das câmeras, tendo como exemplo “assaltos” e “pichações”. Contudo, os fatos narrados acima demonstram a fragilidade deste argumento, uma vez que mesmo com a presença de câmeras as incursões à mão armada com risco a funcionários e estudantes tem sido até intensificadas no último período na Unesp. Fica a pergunta, de que serviram as câmeras, se estes casos continuam ocorrendo frequentemente?

Para segurança, nestes inúmeros casos, não serviu. Mas para algo serviu: as câmeras forneceram imagens aos dossiês de criminalização do movimento estudantil. A presença de câmeras vigiando o dia a dia é “arma” na mão do inimigo dos estudantes e trabalhadores que lutam por uma universidade a serviço da classe trabalhadora. Por exemplo, a reitoria anexou imagens retiradas de câmeras de vigilância de estudantes em manifestação no dossiê de perseguição aos lutadores de 2013. Aquele processo sindicante arbitrário, que em parte foi derrubado pela justiça comum, suspendeu 95 estudantes por 60 dias por lutarem para políticas para que estudantes pobres possam permanecer na universidade, e por lutarem contra o programa racista do Pimesp, processo que descrevemos aqui. Em Araraquara, não impediu a entrada de homens armados, mas serviu também para punição à expressão artística de estudantes, gerando sindicância com base nas imagens de estudantes.

Em relação à “segurança”, a primeira pergunta neste tipo de debate é: segurar o que de quem? É para proteger os setores que são historicamente oprimidos? Com certeza não. Como desenvolvemos aqui, a Unesp institucionalmente reproduz o racismo e as opressões. Em uma universidade historicamente branca, estudantes negros, como dos cursinhos, passam a ser suspeitos em potencial.

As câmeras não tem evitado as práticas machistas e homofóbicas. Como mencionamos aqui, todos os anos nos trotes ocorrem casos de opressão, e para averiguação e punição as câmeras também praticamente não têm servido. Quem está do lado de lá das imagens? Em uma sociedade profundamente machista, câmeras instaladas em locais públicos levaram a casos escandalosos, como dos funcionários que davam zoom no “decote” de garotas na cidade de Araraquara. Então, quem é protegido, e quem é vigiado? Será que a criação de um “Big Brother” na Unesp é a solução para a “segurança”? Ou é um ótimo material de repressão, e até de opressão? A resposta destas perguntas depende da ótica, do ponto de vista do governo, dos bancos e dos patrões, ou dos estudantes lutadores, setores oprimidos e explorados?

Em uma universidade com imenso número de sindicados a partir de um regimento herdado da ditadura militar, que diz estar proibido “ferir a moral e os bons costumes”, e se “organizar politicamente”, estas câmeras tem uma serventia clara. O fato de não ter sido oficialmente divulgado quem têm acesso às imagens, associado ao fato de haver diversos indícios de espionagem aos lutadores, retoma um contexto de perseguição política dos tempos de ditadura militar.

A verdade é que a Reitoria tenta tapar o sol com a peneira, em vez de contratar mais funcionários para dar conta da segurança do campus, congelam as contratações, deixam número reduzido de trabalhadores no período noturno, nos campi que possuem agências bancárias lotadas de dinheiro. A iluminação em locais escuros é outra medida que não é tomada. Por outro lado, parte das câmeras é instalada em locais sem sentido, como por exemplo, bem de frente ao posto de trabalho de determinados funcionários – mostrando que é para vigiá-los, não protegê-los.
Os diversos casos acima narrados mostram o principal alvo dos homens armados: os bancos! Os funcionários e estudantes ficam em risco pela presença destes bancos. Os lutadores nunca reivindicaram bancos na Universidade. As parcerias da Unesp com o Santander, por exemplo, são nefastas. Financiam projetos e desta forma passam a influenciar politicamente as políticas da Reitoria. Sabemos que o Santander é um dos defensores do Ensino à Distância em detrimento da abertura de vagas presenciais. É com estas parcerias que a Unesp vai sendo privatizada “por dentro”. Na Unesp de Araraquara, após tantos casos de funcionários feitos reféns, a reivindicação passou a ser pela retirada dos bancos da universidade! Esta reivindicação deve se generalizar! Pela retirada e fim das parcerias com estes sanguessugas que “arrancam o coro” dos trabalhadores com suas cobranças altíssimas, e que recebem tanto dinheiro do governo retirado de nossos impostos! Estes a quem só interessam os lucros, que interesses “nobres” podem ter na educação e na produção científica, a não ser os de voltá-las aos benefícios da exploração e do grande capital?

Com o mesmo tipo de argumentação para implantação das câmeras, recentemente voltou à tona no governo de São Paulo e nas reitorias de USP, UNESP e UNICAMP a defesa da Polícia Militar http://www.esquerdadiario.com.br/Mo.... Dado o histórico de presença da política na universidade, de perseguição, e contra a liberdade de reflexão e pensamento, os trabalhadores e estudantes da USP já mostraram o caminho contra essas políticas reacionárias: deve ser a luta independente para barrar a PM no campus!

*Foram utilizadas notícias nos sites g1.com , r7.com e sites de diários locais das cidades mencionadas.




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