×

Na semana passada, após repercussão, o blog "Tio Astolfo" foi retirado do ar. O blog, ambiente repugnante de machismo, misoginia, lesbofobia e pedofilia, trazia um extenso conteúdo de apologia a diversas formas de violência contra a mulher e crimes de ódio, inclusive um manual de iniciação à prática do estupro na Universidade. Um dos textos ainda revela que o autor do manual "testou" suas "dicas" no Institutode Química da UNESP Araraquara.

segunda-feira 10 de agosto de 2015 | 11:49

Na semana passada, após a rápida repercussão com os 14 mil compartilhamentos no Facebook, o blog “Tio Astolfo” levou a uma abertura de inquérito na Polícia Federal e no Ministério Público. Retirado do ar nos últimos dias, o blog, ambiente repugnante de machismo, misoginia, lesbofobia e pedofilia, trazia um extenso conteúdo de apologia a diversas formas de violência contra a mulher e crimes de ódio, inclusive um manual de iniciação à prática do estupro na universidade. Sem meias palavras, os autores, ainda não identificados, defendiam que “assediar menores de idade do sexo feminino não é pedofilia, pois elas vieram ao mundo pra isso” e que “mulheres gostam de apanhar”. Um dos textos ainda revela que o autor do manual “testou” suas “dicas” no Instituto de Química da UNESP Araraquara.

Exemplos como o do “Tio Astolfo” mostram que a apologia ao machismo e a crimes de ódio ocorre na esteira de uma ideologia que naturaliza e banaliza as opressões. No espaço universitário não é diferente: o machismo estrutural encontra respaldo numa burocracia passiva no que diz respeito a essas questões. A reitoria, que persegue e pune com vigor aqueles que lutam pela universidade pública, cala-se e procura encobrir os vários casos de estupro e opressões; o caso da Faculdade de Medicinada USP é apenas uma expressão do posicionamento conivente das direções.

Desde o ingresso na universidade, a lógica do trote naturaliza relações de submissão e opressões de que se vale a própria burocracia para construir espaços cada vez mais elitizados. As expressões de machismo, racismo e LGBTTfobia são inúmeras, abarcando toda a gama de relações sociais e atingindo estudantes, funcionários e professores. A reitoria trata os casos de expressão do machismo estrutural – e das opressões em geral – de forma isolada, eximindo-se da responsabilidade na constituição de espaços opressores, enquanto terceirizadas, negras e pobres são invisibilizadas e marginalizadas, professoras são submetidas à hierarquia masculina de cargos e estudantes são constantemente assediadas e violentadas. As comissões instauradas para averiguar os casos nem de longe dão uma saída efetiva para essas questões, apenas incentivando as práticas ao escancarar a impunidade.

A resposta, portanto, não pode vir da burocracia. É necessário que as expressões do machismo estrutural, inclusive o asqueroso “Tio Astolfo”, sejam combatidas através da organização independente dos setores oprimidos, em união com demais estudantes, trabalhadores e professores, trazendo à luz essas questões para toda a comunidade universitária, contra a postura das reitorias de varrê-las para debaixo do tapete ou de propor saídas vazias. As entidades estudantis devem se posicionar ferrenhamente contra a violência e cumprir a tarefa de defesa dos estudantes oprimidos, alçando-se desde as ingressadas a apresentar recepções alternativas à lógica dos trotes, a exemplo do CACH-Unicamp. Na UNESP de Marília, os estudantes também construíram uma Ingressada Independente, pautando o trote e o caráter antidemocrático da universidade, e questionando sua lógica. Além disso, o Cursinho Alternativo da UNESP de Marília (CAUM) vem dado importantes exemplos de luta ao oferecer aulas de sexualidade e gênero, apostando no papel da educação para tratar estruturalmente e politicamente as questões de opressão.

Somente organizando uma grande campanha contra a violência dentro da universidade, a exemplo dos trabalhadores da USP contra os estupros e assédios da FMUSP, é que podemos combater tios Astolfos que se valem da concepção de espaço universitário vazio e hostil. Somente a organização independente das mulheres, como linha de frente, juntamente aos CAs, DCEs, sindicatos e coletivos, atuantes dentro da universidade, é possível travar um combate efetivo, lutando por direitos e contra a violência machista que emana do Estado.

É com isso em mente que chamamos à construção de um grande encontro de mulheres e LGBTs, organizado pelo Pão e Rosas para o dia 29 de agosto , como passo inicial que articule a luta contra a opressão a esses setores, avançando na organização para derrubar cada expressão da opressão e da exploração diária diante das quais as burocracias, reitorias e patrões se mostram impassíveis, isso quando ainda não as aprofundam em favor de seus próprios interesses.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias