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POLÊMICA | Temos uma enorme tarefa como estudantes da UFABC: no ligar a imensa classe operária do ABC

A partir da assembleia extraordinária do dia 11/10 pós primeiro turno das eleições manipuladas, se abriu uma enorme politização entre os estudantes da UFABC para que pensemos a melhor forma de lutar contra o avanço da extrema direita e a candidatura do Jair Bolsonaro. Queremos com este artigo, debater com os companheiros da gestão atual do DCE que lutam seriamente contra tudo o que isso representa e com o conjunto dos estudantes, sobre os encaminhamentos da nossa assembleia e demonstrar as diferenças estratégicas que se apresentam hoje no movimento. Esperamos que esta polêmica fraterna, permita uma ampla discussão que nos leve ao caminho que possa vencer.

Virgínia GuitzelTravesti, trabalhadora da educação e estudante da UFABC

segunda-feira 22 de outubro de 2018 | Edição do dia

A denúncia do Caixa 2 organizado por empresários que violam lei com doação não declarada e financiam R$ 12 milhões de reais na campanha eleitoral de Jair Bolsonaro (PSL) com a conivência do Judiciário é mais um capitulo das eleições manipuladas. Com o silêncio da Globo e Record, são a demonstração do enorme pacto para eleger Bolsonaro para que aplica as reformas de forma ainda mais violenta que o golpista Temer. Por isso, não temos outra opção, se queremos derrotar Bolsonaro, os golpistas e as reformas, senão confiar em nossas próprias forças.

Apesar da continuidade do golpe institucional estar apoiado por uma ampla unidade burguesa, a juventude e os trabalhadores tem se organizado e apontando um caminho para enfrentar a ameça que significa um governo herdeiro e orgulhoso da ditadura militar. São pelo menos 27 universidades que já organizaram assembleias e comitês de mobilização para enfrentar o avanço da extrema direita.

Nós da Faísca - Anticapitalista e Revolucionário estamos colocando todas nossas energias para fomentar a auto-organização dos estudantes em comitês democráticos de base, como discutimos em nossa declaração. Como defendemos na nossa assembleia, acreditamos que os Comitês precisam de reuniões diárias, que possam ajudar a incorporar centenas de estudantes, que organizem outras centenas em suas salas de aula, e assim, permitir que o conjunto dos estudantes que se colocam em luta possa elaborar e decidir os rumos do movimento, desde as decisões sobre aonde panfletar, até mesmo quais medidas de radicalização podemos tomar.

Além disso contribuímos na visibilidade destas lutas em curso, através do Esquerda Diário que atingiu um recorde de 4 milhões de Acesso em um mês, fruto de expressar as lutas na Unicamp, UFMG, UFRJ, UFJF, UFRGS, UFRN, na PUC-SP e na FAPSS São Caetano.

Na UFABC, participamos da assembleia e nela propusemos além dos comitês de auto-organização, uma carta de exigência as centrais sindicais. Infelizmente, com muito atraso quase uma semana após a assembleia e faltando uma semana e meia para o segundo turno, a Comissão Executiva da Gestão do DCE "Toda as vozes" publicou uma carta que não correspondia a proposta aprovada. Queremos com este artigo apontar que o não cumprimento da resolução aprovada, não é apenas parte de uma confusão que surgiu nos encaminhamentos, mas é fruto de uma divergência estratégica, da qual os estudantes precisam estar conscientes e na nossa opinião, é mais que urgente, superá-la.

Muitos estudantes podem não conhecer, mas certamente o Partido Comunista Revolucionário (PCR), a maioria da Comissão Executiva da atual gestão do DCE sabem que nós do MRT históricamente nos comités regionais de luta, assim como hoje em meio a este processo de fortalecimento da extrema direita, nos empenhados em batalhar em cada universidade, escola e local de trabalho para que aprovemos exigências às direções do movimento de massa. Isto é, exigir das centrais sindicais e as entidades estudantis nacionais, ambas controladas pelos partidos de Haddad (PT) e Manuella Davilla (PCdoB) que convoquem assembléias e comitês de base, que são as ferramentas históricas da classe trabalhadora, para lutar efetivamente através da luta de classes. Essa exigência não surge do nada. Ela tem o histórico, que ajuda a explicar também, como chegamos nessa situação da possibilidade de um país de Bolsonaro.

Podemos falar do papel das centrais sindicais ao longo dos 13 anos de governo petista, onde diziam aos trabalhadores que não era mais preciso lutar, mas "aguarda gradualmente os avanços que viriam dos governos do PT". Mas não precisamos ir tão longe, é possível ver a inação destas mesmas centrais quando ocorreu o golpe institucional em 2016, com as reformas do golpista Temer, deixando ser aprovada a Reforma Trabalhista, e na continuidade do golpe com a prisão arbitrária de Lula, em sua proscrição eleitoral e demais medidas arbitrárias do judiciário que retirou das massas o direito de votar em quem quiser, além de cancelar 600 mil títulos eleitorais, especialmente do nordeste. Senão recuperamos o papel de traição destas direções da classe trabalhadora com o cancelamento da greve geral após a poderosa força expressa do dia 28 de Abril, não se explica que Bolsonaro não caiu do céu, mas é resultado da aposta institucional feita por estes partidos que nada mais fizeram do que frear os poderosos bastiões operários de entrar em cena.

(Ato do dia 28 de Abril de 2017 na Av. dos Estados).

DCE na luta contra o Bolsonaro: Auto-organização X Centralismo burocrático

As entidades estudantis sempre tiveram um papel fundamental na organização da luta dos estudantes. Foi assim na época da ditadura, quando se podia dizer que a UNE (União Nacional dos Estudantes) era perigosa. Todavia, com a redemocratização pactuada que perdoou os torturadores e manteve a propriedade privada intocável na Constituição de 88, as entidades estudantis também dirigidas pelo PT e PCdoB tornaram-se extremamente burocráticas, tendo um papel nefasto nos principais processos de luta de classes. Negociaram nas cotas dos estudantes em Junho de 2013 e fizeram igual nas ocupações das escolas em 2015, chegando a ser expulsos de muitas das ocupações pelo movimento secundarista. Este processo de burocratização das entidades contribuiu para que o movimento estudantil perdesse diversos aspectos de sua tradição combativa, como a auto-organização, sua aliança estratégica com o movimento operário e sua batalha para emergir um movimento estudantil no cenário nacional que fizessem pesar na realidade.

Na nossa opinião, o papel do DCE nas mobilizações deve ser de estimular e fomentar a auto-organização, isto é, a participação ativa dos estudantes na elaboração da política e nas decisões da luta. Isto não se resume a convocar uma assembleia a cada quadrimestre, ou passar nas salas consultando sobre as decisões da diretoria. Mas significa colocar de pé, comitês de base, com reuniões cotidianas que permitam deliberar sobre os rumos do movimento. Essas reuniões poderiam não apenas reunir mais estudantes para as panfletagens que já acontecem, como garantir a ida nas fábricas, e ser uma importante preparação para enfrentar o próximo governo, que independente de quem assuma, não resolverá a enorme crise política que está o país hoje. É para esta situação, onde a extrema direita se organiza de forma militante, precisamos estar bem organizados e a cada dia que não começamos a construir estas ferramentas, Bolsonaro se fortalece com nossa desorganização.

A enorme concentração de todas as resoluções no DCE levou a uma série de problemas, inclusive este sobre a resolução 7. Enviar uma carta às centrais sindicais exigindo formas de mobilização e organização contra o fascismo. Além da demora, que segundo a Presidenta do DCE era por estarem sobrecarregados, o não comprimento da resolução fruta das diferenças políticas com o conteúdo aprovado é resultado deste centralismo da entidade, que quer organizar toda a luta por um grupo do whatsapp.

O problema mais profundo é que se queremos enfrentar seriamente Bolsonaro, é preciso partir de questionar a estratégia petista de conformar apenas comitês eleitorais, que busquem "virar votos", apostando novamente nas urnas e não na luta de classes. Enquanto Haddad já demonstra aliar-se ao mercado e rifar os direitos das mulheres para conquistar o apoio da Igreja, paralisam as ações da classe trabalhadora, depositando toda nossa energia numa saída impotente eleitoral. O PCR, a frente do DCE acaba por trabalhar para esta estratégia, mesmo que faça críticas ao PT e seus governos. Pode-se ver claramente isso já que até agora o DCE sequer propôs quais fabricas o movimento deveria ir, dispersando toda a energia que se expressou na nossa assembleia na busca de votos, e não em organização capaz de enfrentar os desafios que estão por vir.

Nós do MRT dizemos à todos os estudantes que querem votar contra Bolsonaro, que nós estaremos com vocês, votando no Haddad criticamente. Mas o fazemos, não por confiar no PT, mas porque queremos trazer esse rechaço e essa energia de combate para a luta de classes. Senão desenvolvemos um movimento estudantil fortalecido pelas suas ferramentas tradicionais, massivo pela sua capacidade organização e pela democracia de base, não podemos enfrentar a burocratização que estão nossas entidades nacionais como a UNE, UBES, e superar esta estratégia que está predominando no movimento contra a direita.

Aliança estratégica com a classe trabalhadora X Apoio as suas direções tradicionais

A carta publicada pelo DCE de "Chamamento as centrais sindicais" teve o tom cordial com qual tem o PCR (e que se impõem ao conjunto da gestão, já que sua corrente estudantil, A Correnteza, é majoritaria na Comissão Executiva) com as centrais sindicais e com a própria reitoria, que foi convidada para estar na mesa da abertura do I Congresso de Estudantes da UFABC.

Lê-se:

"Pensando nisso, um dos mais importantes encaminhamentos da Assembleia Geral de Estudantes está em torno de demandar o levante das forças e centrais sindicais para organizar a classe trabalhadora em luta, que mais será afetada pelas políticas reacionárias de Bolsonaro, para assim derrotarmos o fascismo não somente nas urnas, mas nas ruas e na verdade. É preciso derrotar Bolsonaro e seus aliados nessa eleição para que seja possível recuperar a dignidade de quem trabalha com liberdade de organização e luta."

O que isso implica na nossa vida? Porque este debate não é apenas uma "briga entre as forças de esquerda", mas sim representa um debate vital para aqueles que querem lutar seriamente contra a extrema direita e o golpismo em nosso país. Pois, isto se trata da independência de classe, cujo é decisiva para garantir a vitória de uma mobilização contra os nossos inimigos de classe.

Nos explicamos. Quando dizemos nas assembleias que precisamos da maior unidade possível para lutar contra a extrema direita e sua tentativa de descarregar a crise econômica em nossas costas, estamos dizendo que é preciso erguer uma frente única que unifique os distintos sindicatos do país, as entidades estudantis e a partir de reunir dezenas de milhares de pessoas em luta, podermos debater qual a melhor estratégia para enfrentar nossos inimigos. Nada é mais impotente do que a "unidade das direções", que seria uma grande reunião de burocratas que há anos não trabalham ou estudam, mas estão encastelados nas entidades por benefícios próprios ou partidários. A única forma de mobilizar os milhares de trabalhadores e jovens que estão abaixo destas direções, é contribuir para aumentar a desconfiança e o questionamento sobre o que estão fazendo para representar os nossos interesses.

Por isso, a carta de exigência as centrais sindicais fez tamanho sentido na assembleia e conseguiu ser aprovada com uma diferença de 18 votos (30 votos pela supressão contra 48 pela proposta de carta). Mas também pode demonstrar as diferenças estratégicas entre os grupos que atuam, uma vez que a maioria das correntes de esquerda como PCR, PCB, Levante Popular da Juventude votaram contra esta proposta, como se não fosse urgente construir uma aliança com a classe operária da região do ABC, tão reconhecida pela sua enorme força na luta contra a ditadura, e ao mesmo tempo a tarefa de quem se dizer revolucionário, de superar as direções pelegas do movimento operário e estudantil para avançar numa perspectiva anticapitalista.

Temos uma enorme tarefa como estudantes da UFABC: no ligar a imensa classe operária do ABC

Nesta nota, nos dirigimos ao DCE, pois sabemos que há muito setores sinceros e de luta com qual partilhamos hoje a luta pelas cotas trans e com quem queremos seguir um dialogo para pensarmos como podemos superar os erros e avançar em nossa mobilização. Também dialogamos com a ampla maioria dos estudantes que não estão hoje no grupo de Whatsapp que se tornou a "única forma de organização da luta contra a direita na UFABC". Nós confiamos na força dos estudantes em aliança estratégica com os enormes batalhões da classe operária do ABC e apostamos no enorme desafio que temos pela frente, em romper os muros da universidade e o corporativismo, e construir essa aliança transmitindo nossa energia que não carrega nas costas o peso do passado e das traições das centrais sindicais, para cada trabalhador que queira lutar e hoje não possa contar com seu sindicato, que sequer assembleia ainda chamou.

Aos que consideram, como nós, que a estratégia eleitoral petista já demonstrou seu fracasso desde o golpe de 2016, aos que apostam na luta de classes e que concordam que é necessário nos ligarmos a imensa classe trabalhadora da nossa região, chamamos a batalhar conosco por esta perspectiva. É com esta perspectiva, que nós do MRT hoje atuamos na FAPSS São Caetano e atuamos na APEOESP em Santo André para organizar os professores.


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UFABC    Juventude



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