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CONCHAVOS DE UM FUTURO GOVERNO | Temer articula composição de Ministério

Antes mesmo de votado o impeachment, o vice Michel Temer já articulava a composição de seu ministério. Alguns obstáculos já tem se colocado em seu caminho para consolidar um ministério forte e consolidar o governo que os patrões desejam.

quarta-feira 20 de abril de 2016 | Edição do dia

A primeira dificuldade que Temer enfrenta na composição de seu ministério é a recusa de Armínio Fraga para aceitar a pasta da economia. O ex-presidente do Banco Central e responsável pelo programa econômico da campanha presidencial de Aécio Neves era o primeiro candidato na lista de Temer, mas sua recusa não causou grandes comoções: a preocupação do peemedebista é de colocar à frente da economia um nome bem aceito pelo mercado e que sinalize um governo com política econômica ortodoxa, pronto a fazer os ajustes necessários para salvar os lucros dos patrões e descarregar os custos da crise sobre os trabalhadores, a juventude e os setores explorados e oprimidos. Por isso, o futuro governante já cogita Henrique Meirelles como número dois da lista.

A justificativa ofical de Fraga para recusar o cargo foi a de que está ocupado com o comando de sua empresa de consultoria, a Gávea Investimentos, mas disse que está disposto a ajudar Temer e indicar nomes. De acordo com relatos, na conversa entre Temer, Aécio Neves e Fraga, o ex-presidente do BC disse que a situação da economia do país era “gravíssima” e defendeu medidas de austeridade: metas de superávit primário (acúmulo de reservas cambiais, o que significa corte em gastos) e o estabelecimento de um teto para a dívida pública. Na prática, já sabemos que essas metas significam em mais ataques aos trabalhadores e a direitos sociais.

A difícil situação econômica do país, que foi uma das principais responsáveis por levar Dilma a tomar medidas de austeridade e desgastar rapidamente sua aprovação, é uma preocupação central do novo governo, já que esse terá que se responsabilizar por passar segurança rapidamente para a burguesia nacional e o capital imperialista, que, como expressa a reação da imprensa estrangeira, viu no golpe institucional do impeachment uma manobra arriscada da oposição de direita ao governo petista.

Por isso Temer procura o conselho de especialistas em atacar os trabalhadores, como o ex-ministro de Lula e da ditadura, Delfim Netto, cujo nome só não é cogitado para comandar a economia devido à sua idade avançada e saúde debilitada. Outros economistas, como Marcos Lisboa e Murilo Portugal, estão na agenda ocupada de encontros de Temer nos próximos dias.

PSDB fica de fora, mas Serra quer entrar

Contudo, quem está de olho no cargo é José Serra, amigo e conselheiro pessoal de Temer. O PSDB, partido de Serra, disse que irá ficar de fora do governo e não vai aceitar cargos. Por trás da decisão do PSDB há o interesse de manter uma certa distância com vista a poder compor uma candidatura própria para 2018, mas também o receio do julgamento do TSE sobre a impugnação da chapa Temer/Dilma, ainda que essa possibilidade se torne cada vez mais remota dentro do acordo firmado pela oposição e caso o governo de Temer se mostre uma opção viável para aplicar os ataques exigidos pela patronal e pelo imperialismo.

Mas a decisão do PSDB deixa abertura para que seus membros ocupem pastas como uma “decisão individual”, e o interesse de Serra na pasta da Economia é justamente o de projetar seu nome e viabilizar sua candidatura ao planalto em 2018. Já Temer quer Serra na pasta da Saúde, cargo que ocupou durante o governo de FHC. Serra é um nome de pouca aceitação pelo mercado, questão cara ao novo mandato do peemedebista.

Outros ministérios

Outras pastas do governo já tem destino certo na negociata de Temer. Os colegas de PMDB Eliseu Padilha e Moreira Franco serão alocados nas pastas de ministro-chefe da Casa Civil e Secretaria Geral da Presidência. Nelson Jobim – que já ocupou o cargo de Minstro da Defesa do governo Lula – também é um nome certo, mas ainda sem destino atribuído.

Outra preocupação de Temer é o de arregimentar um nome forte no judiciário, como um ex-presidente do STF, para tentar “limpar a cara” de seu governo, que toma posse após um impeachment que já foi amplamente denunciado na imprensa internacional como um golpe orquestrado por corruptos e desferido da maneira mais deplorável, como puderam ver todos os olhos na transmissão da votação do impeachment no último domingo. Ayres Britto é cotado para cumprir esse lamentável papel e deixar claro, se é que já não está o suficiente, que o judiciário não tem nenhuma isenção no golpe institucional do impeachment.

O Ministério da Agricultura, como não poderia deixar de ser, será entregue nas mãos de um rico representante dos latifundiários mais reacionários que se possa imaginar. Dois nomes cogitados são Roberto Rodrigues, que já esteve à frente do cargo no governo Lula entre 2003 e 2006, e é ligado à Confederação Nacional da Agricultura. Contudo, dado os acordos espúrios para aprovar o impeachment, talvez o cargo seja loteado para o deputado Marcos Montes, do PSD de Kassab e coordenador da Frente Parlamentar Mista da Agropecuária, mais conhecida como bancada ruralista. Isso porque a debandada do PSD da base aliada do governo foi essencial no cálculo de forças necessário para passar o impeachment na Câmara.




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