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quinta-feira 23 de abril de 2015 | 01:33

“Senhor, poderia me passar o código da conta ou CPF do titular?”

Quando lemos a frase acima, que imagem nos vem à mente? Provavelmente você leitor pensou em uma voz feminina e jovem, mas por quê? Historicamente as mulheres ocupam os postos de trabalho mais precários da sociedade e esse quadro infelizmente ainda se mantém. Ter uma maioria feminina, negra e LGBT em Call Centers (aproximadamente 72% são mulheres e 84% estão entre os 18 e 29 anos), terceirizados ou não, já é algo natural e não questionado por nossa sociedade, pois esconder a precarização do trabalho de milhares de mulheres e LGBTs atrás de uma linha telefônica é a forma mais fácil de lucrar para os patrões.

Ter como “publico alvo” esses setores da sociedade para trabalhar em Call Centers não é mera coincidência: são eles que aguentam a cada dia a violência nas ruas e/ou dentro das próprias casas, seja com seus companheiros (verbal ou fisicamente), assédios, linchamentos, etc. São os setores que mais sofrem com a precarização do trabalho, mas que não podem abandoná-lo porque sua condição material não permite. Não é possível ter tempo de procura por outro lugar, mesmo se esses empregos lhe geram assédios constantes de chefes, onde não é possível denunciar, já que esses trabalhadores não possuem voz dentro da hierarquia empresarial.

Para as mulheres, alem dos assédios, da rotina cansativa e repetitiva, – aproximadamente 80 ligações em 6 horas – temos ainda que lidar com mais uma jornada de trabalho, o trabalho doméstico, que se caracteriza como segunda e muitas vezes como terceira jornada, nos deixando cansadas e sem tempo para discutir assuntos que nos dizem respeito ou então para cuidarmos da nossa vida pessoal.

Desse modo, o cotidiano de quem trabalha em Call Centers é bem parecido: somos rodeadas de cobranças para atender o máximo possível de ligações no mínimo de tempo, lidamos com clientes nervosos pois seu serviço ainda não foi entregue e somos o fio que conecta sua raiva e a empresa; possuímos pequenas pausas para “descanso”, temos dores nas mãos por digitar muito e com frequência adquirimos lesões por esforço repetitivo (LER), ficamos cansadas por falar as mesmas frases por horas repetitivamente, temos baixos salários e, se formos terceirizadas, não recebemos em dia o pagamento por nossos serviços.

O porquê das mulheres e LGBTs serem a maioria dentro dos Call Centers é o fato de sermos a mão de obra barata no sistema capitalista. Somos aqueles que não possuem mais do que o ensino médio, somos aquelas que escaparam da terceirização na área de limpeza, mas ainda sim estamos terceirizadas. Somos a face negra que não aparece do outro lado da linha, pois ninguém quer nos ver. Porem, digo que mesmo estando escondidos atrás da linha, esses setores possuem um potencial transformador: seremos os protagonistas da luta pelo fim da exploração!




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