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Ásia | Talibãs chegam a Cabul e iniciam a transição do poder no Afeganistão

Depois de uma ofensiva de dois meses, acelerada pela retirada dos EUA, os talibãs chegaram na capital neste domingo. Já estão se reunindo com o governo para negociar a transição, O presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, já deixou o país e embarcou ao Tajiquistão.

domingo 15 de agosto de 2021 | Edição do dia
IMAGEM: Combatentes do Talibã em um veículo na beira da estrada na cidade de Kandahar, no sul do país, depois que ele foi apreendido [AFP]

(Artigo traduzido do La Izqueirda Diario)

As forças talibãs entraram em Cabul através das 4 portas principais da cidade hoje (15) pela manhã, segundo oficiais de segurança. Esta situação acelera aquilo que os serviços de inteligência haviam anunciado que demoraria ainda meses, mas ocorreu em questão de horas. O colapso do governo nacional, presidido por Ashraf Ghani e apoiado pelos EUA, é parte de um mesmo ciclo iniciado pelo fracasso dos esforços internacionais para construir um estado após a invasão de 2001.

O porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, disse em um comunicado que os combatentes do grupo haviam recebido instruções para não avançar ainda mais na cidade. Os militantes fizeram progressos recentes após negociar com os líderes locais. "Queremos entrar em Cabul em paz e as negociações estão em andamento” com o governo, disse ele.

Os negociadores que representam o governo nacional estão indo a Doha, capital do Catar, no dia de hoje para discutir um acordo com a liderança política do Talibã, disse um alto funcionário próximo ao presidente afegão Ashraf Ghani.
"Há um acordo de que haverá uma administração de transição para a transferência ordenada de poder", disse o ministro do Interior em exercício, Abdul Satar Mirzakwal. Ele acrescentou que as forças de segurança estão sendo enviadas para Cabul para garantir a ordem.

O rápido avanço dos talibãs na capital afegã ocorreu quando os helicópteros aterrissaram na embaixada dos EUA na manhã de hoje, e veículos diplomáticos blindados foram vistos deixando a área ao redor do complexo, informou a Associated Press. Os diplomatas se apressaram para destruir os documentos confidenciais, causando fumaça no teto da embaixada, disse a AP, citando oficiais militares anônimos dos EUA

Apenas algumas horas antes, os talibãs se apossaram da cidade de Jalalabad, agregando a capital provincial do leste às grandes franjas do país que agora são controladas pelo grupo. A derrubada ocorreu poucas horas depois que os talibãs se apoderaram de Mazar-i Sharif, uma cidade do norte, que foi considerada durante muito tempo como um bastião anti-talibã, deixando a capital, até aquele momento, como a última grande área urbana sob a autoridade do governo central.

As recentes conquistas do Talibã aceleraram significativamente as previsões de Washington sobre a rapidez com que o governo afegão poderia entrar em colapso. Até a semana passada, os militares dos EUA estimaram um colapso em 90 dias. Em junho, as autoridades americanas previram que um colapso demoraria entre seis e 12 meses.

As imagens dos helicópteros chegando na embaixada norte americana lembram o 30 de abril de 1975, durante a queda de Saigon, nome da capital do sul do Vietnã naquele momento, remarcando a queda relativa da hegemonia dos EUA. A queda de Cabul já é um fato, os talibãs estão nos bairros periféricos esperando negociações em Doha.

Os talibãs chegaram a acordos com potências regionais durante a realização de sua ofensiva. Entre eles, Irã, Paquistão, China e Rússia. Todos estes países têm uma preocupação central com os grupos islâmicos insurgentes nas fronteiras com o Afeganistão e em evitar uma crise de refugiados. No caso da China, precisa pacificar a região para desenvolver seu grande projeto da Nova Rota da Seda, onde o Afeganistão pode ser uma peça-chave no tabuleiro.

O retorno ao poder do grupo islãmico, depois de se rearmar por duas décadas desde que os Estados Unidos invadiram o Afeganistão, é uma profecia auto realizada. O apoio ao Governo Nacional de Afgano, composto por senhores da guerra durante 20 anos, por parte das potências que conformam a OTAN, é uma das principais causas do colapso deste Estado. A situação atual é um prenúncio de uma virada ainda mais reacionária em toda região e um perigo para os trabalhadores.




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