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MUNDO OPERÁRIO | TIC-TAC: Somos trabalhadores e lutamos até quando não nos damos conta.

Tempo produtivo e luta de classes: Os supervisores patronais " de processos" e a luta velada. Seus tempos e os nossos.

quarta-feira 20 de julho de 2016 | Edição do dia

Faz dias que na fabrica ronda um rumor que haverá algumas mudanças nas formas de trabalho. Por acaso será que nos darão melhores condições de segurança no trabalho? dizem, alguns. Outros dizem que vão nos deixar sentar ao invés de ficarmos parado em frente a linha todo o dia.

Mas não. Nada disso acontecerá. A mudança virá pela ampliação do departamento de processos.

Explicamos para os desatentos. "Os supervisores de processo" são aqueles que estão atrás de você com o cronometro enquanto você trabalha. Não te cumprimenta para não se distrair, e se põem em lugares estratégicos, dependendo da conveniência, para ver como faz seu trabalho e em quanto tempo os realiza. Se vê algo fora do lugar tira fotografias e para alguns minutos de supervisionar seu tempo para marcar algum possível erro em seu trabalho.

Depois, com todos os dados divulgados, volta para o escritório e se dedica a buscar a forma para que as duas maquinas que estava analisando (o trabalhador seria uma maquina e a maquina que maneja seria outra) produzam de maneira mais eficiente, ou seja mais em menos tempo.

E aqui é onde a coisa fica mais interessante. Marx, o senhor barbudo deste vídeo, dizia que a luta de classes se expressa algumas vezes , em greves, atos, etc, etc. E em outras de forma velada, escondida pelos trabalhadores que ainda não podem levantar suas cabeças.

Os principais inimigos da luta de classes velada são os amigos da "supervisão de processos". Eles estão ali para que cada segundo improdutivo, ou seja o tempo em que alguém vai ao banheiro, olha para outro lado para descansar a vista, caminha alguns passos para esticar as pernas e, sobretudo, o maior expoente da luta de classe velada, o "eu quebrei a máquina", se reduzem a zero.

Pois bem, lamento informas aos "meninos da supervisão de processos" que isso será impossível. Porque? O mesmo senhor barbudo nos explica de forma clara. Marx diz que no sistema em que vivemos, onde um punhado de donos de fabricas para os quais trabalham todo o resto que habita o mundo, nós os trabalhadores somos separados do que produzimos.

Assim é o trabalho alienado: " ...o trabalho é externo ao trabalhador, ou seja, não pertence a seu ser; em seu trabalho, o trabalhador não se afirma, sente-se negado; não se sente feliz, sente-se desgraçado; não desenvolve uma livre energia física e espiritual, se não, mortifica seu corpo e arruína seu espirito. Por isso o trabalhador só se sente em si fora do trabalho, e no trabalho, fora de si. Está em casa quando não trabalha e quando trabalha não está em casa. Seu caráter estranhado se evidencia claramente no foto que, quanto antes, quando não existe coação física ou de qualquer outro tipo, foge do trabalho como de uma peste. O trabalho estranhado, o trabalho em que o homem se aliena, é um trabalho de auto sacrifico, de ascetismo.

Ou seja, não é que alguém vai a fabrica, faz uma assembleia e entre todos decidem que vão produzir somente de acordo com as necessidades das pessoas ao redor .

Por exemplo, eu trabalho em uma fabrica que tem a capacidade instalada para abastecer de álcool etílico a todos os hospitais do pais e, desta forma, manter desinfectado a maior parte da população da Argentina. Mas o que produzimos não está voltado para dar suporte a sociedade se não para ser vendido a algum mercado e para ser comprado somente por quem tenha dinheiro para faze-lo. Se o que nos diferencia dos animais é a nossa capacidade de transformar a natureza, partindo da necessidade de humanidade conviver em harmonia com ela, na fabrica, ao separarmo-nos dos que produzimos através da comercialização e não da planificação, não faz outra coisa se não nos fazer sentir como animais dentro da fabrica.

Então, queridos "amigos da supervisão de processos" , na medida em que este mundo funcione por meio do frio e calculista calculo econômico, nós seguiremos buscando a forma de roubar tempo na fabrica. Porque cada segundo que temos a nosso favor em um segundo em que nos reencontramos com nossa capacidade de pensar, de transformar e de criar. Assim, sempre o tempo improdutivo para vocês é tempo produtivo para nós. Assim, sempre que cortam o nosso tempo por aqui, vamos tira-lo lá; somos trabalhadores e lutamos até quando não nos damos conta.




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