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RUPTURA NO PSTU | Sobre o manifesto de ruptura de um setor de companheiros com o PSTU

Veio a público no último dia 6 de julho a ruptura organizada de várias centenas de militantes do PSTU. Queremos oferecer nosso ponto de vista sobre o manifesto de ruptura lançado pelos companheiros e companheiras.

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

Edison UrbanoSão Paulo

terça-feira 12 de julho de 2016 | Edição do dia

No contexto do processo de crise aguda da esquerda brasileira, e em especial do PSTU, após o terremoto do golpe institucional, veio a público no último dia 6 de julho a ruptura organizada de várias centenas de militantes do PSTU, incluindo dirigentes desse partido como Valério Arcary e outros, anunciando a formação de uma “nova organização”.

Acreditamos que a tarefa premente de construção de uma forte organização socialista e revolucionária no Brasil, como parte da luta pela reconstrução da Quarta Internacional, não é uma tarefa que será realizada por fora de um intenso debate teórico, político e programático e, sobretudo, experiências comuns de intervenção na luta de classes, de revolucionários que provêm de diferentes organizações e tradições políticas.

Com este espírito queremos oferecer nosso ponto de vista sobre o manifesto de ruptura lançado pelos companheiros e companheiras.

Partimos de alguns pontos convergentes na caracterização e política nacional:
Em seu Manifesto dizem: “Depois que a maioria da burguesia se unificou em torno à proposta de impeachment, a partir de fevereiro de 2016, defendemos internamente que era vital lutar contra esta manobra parlamentar, sem que isso significasse, evidentemente, prestar qualquer apoio político a Dilma. Porque avaliávamos que a derrubada do governo do PT só teria um sentido progressivo se realizada pelas mãos da própria classe trabalhadora, por meio de suas próprias organizações. Ao contrário, se liderada pela oposição de direita, a derrubada de Dilma seria uma saída reacionária para a crise política”.

Para nós, trata-se de um posicionamento essencialmente correto. Porém é uma dura realidade ter de medir o caráter progressista de uma posição a partir de questões tão elementares. Isso foi algo que o PSTU conseguiu impor: que uma posição assim apareça como um grande progresso, ao reafirmar apenas o ABC do marxismo, a obrigatoriade de se opor a um golpe institucional protagonizado por setores do imperialismo, a direita burguesa, a Rede Globo e a FIESP, junto a juízes como Sérgio Moro (que estudaram anos nos EUA para serem úteis nesse tipo de operações reacionárias).

Lamentamos que os companheiros não tenham tornado pública essa posição no momento em que o golpe estava sendo implementado, e exigia uma intervenção decidida dos revolucionários para confluir com os setores de massa que rechaçavam a ofensiva da direita mas ao mesmo tempo desconfiavam do PT, por ser o governo capitalista que implementava os ajustes e por ter usado os mesmos métodos corruptos de todos os governos capitalistas. Esta luta política só se refletiu amplamente no Esquerda Diário e na intervenção do MRT nas estruturas estudantis e operárias onde estamos (Ver esta nota entre outras).

Por outro lado, pelo menos nessa primeira carta de ruptura, os companheiros não se autocriticam das posições que compartilharam com o PSTU, de que no Egito a ditadura de Al Sisi – sustentada pela Arábia Saudita – não deveria matar os militantes da Irmandade Mulçumana, mas sim "apenas" colocá-los na prisão (Ver esta nota, entre outras). Ou seja, não estendem ao Egito as mesmas conclusões que chegaram para o Brasil, sendo que no Egito as consequências foram incomparavelmente mais graves. Isso é consequência da decisão de romper com o PSTU em âmbito nacional, mas manter-se nos quadros da LIT no plano internacional.

A propósito da situação internacional, os companheiros fazem em seu manifesto um esclarecimento sobre os efeitos negativos da restauração capitalista... O que não deixa de ser positivo, apesar de que o façam em 2016, quase 30 anos depois que esses fenômenos ocorreram. Daí que o documento soe um tanto anacrônico, apesar de ser um passo à sensatez frente à absurda posição do PSTU e da LIT, que contra toda evidência insistem ainda em dizer que tudo seriam “triunfos” e a esquerda avançaria inexoravelmente, enquanto a ofensiva neoliberal e a restauração dos ex-estados operários criavam um cenário de retrocesso, sofrido por todos e compreendido por qualquer trabalhador ou estudante politizado.

Voltando ao terreno nacional, o manifesto também emite críticas àqueles que buscam reeditar posições reformistas de um “PT das origens” tal como a corrente majoritária do PSOL. Se diferencia corretamente das tendências de adaptação ao PT por parte da direção majoritária do PSOL, mas infelizmente não dizem nada do MES de Luciana Genro, que não somente teve uma posição de adaptação ao golpe institucional semelhante à do PSTU, mas além disso agora está se superando na busca de uma coligação eleitoral com a Rede de Marina Silva em Porto Alegre, nada menos que a candidata do banco Itaú – coligação que, caso não saia, será por decisão da Rede.

No referido manifesto os companheiros também propõem como orientação a construção para as eleições e a luta de classes, de uma Frente de Esquerda e Socialista. Para ajudar a esclarecer o debate em torno a essa proposta, talvez seja útil a experiência da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores na Argentina (FIT, na sigla em espanhol), a qual levanta um programa que coloca no centro a classe trabalhadora e a luta de classes. A independência de classe não se resume apenas a não votar ou não se aliar a correntes burguesas ou pequeno-burguesas, mas significa defender estrategicamente um governo de ruptura com o capitalismo, ou seja, um governo dos trabalhadores, como defende o programa da FIT.

Consideramos bastante positivo que um grupo importante de companheiros tenha começado a se distanciar das posições direitistas do PSTU. Apostamos a que sigam avançando para convergir na luta de classes tanto em nível nacional como internacional.


Temas

PSTU    Política



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