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RELATO DE UMA LÉSBICA | Sobre as pixações transfóbicas nos banheiros do PB e do IFCH

Marie CastañedaEstudante de Ciências Sociais na UFRN

sexta-feira 14 de agosto de 2015 | 00:00

Ser lésbica é de fato uma resistência. Uma resistência e afirmação cotidiana de que sua sexualidade é sim válida, de que você pode gozar e amar ao lado de uma mulher. Não importa se vestindo uma camisa de flanela, uma botina, ou uma saia rodada com babadinhos (meu caso), são constantes os convites invasivos de homens para estar no meio do que pra nós é o único momento de expressão da nossa sexualidade. Um ataque ao único momento no qual estamos ao lado de quem sentimos tesão. É, tesão, paixão, aquelas borboletas no estômago ou simplesmente vontade de trepar. São invasões na nossa vontade de sentir a pele, sentir o humano. Ser lésbica é assistir qualquer série onde apareça ao menos um beijinho, é ter de se ver representada no The L Word e OITNB (aliás, um avanço concreto nisso aí), nos transformaram em lésbicas um pouco mais reais e pessoalmente é um alívio nos ver retratadas assim. Ser lésbica é viver constantemente ameaçada pelas estatísticas de estupro corretivo e caminhar pela vida aos berros de "Fanchona! Caminhoneira! Sapatão!", é ’apanhar como homem’ da polícia se for negra. É sorrir, é sentir, é ter um orgulho que palpita dentro de você e que quer explodir. Dentro desta miséria que vivemos é também momentos de identificação, de querer se libertar amarradas pelas contradições em um mundo onde somos oprimidas, e sim, com especificidades, mas cuja origem está diretamente ligada a todo o setor LGBT.

Você nasce e o que está colocado é sobreviver. Rodeados de normas e opressões nos construímos como indivíduos em meios que querem nos encaminhar para seguirmos submissas, mas isso não acontece à toa, acontece porque o machismo e a LGBTfobia sob qual é construída nossa sociedade servem para manter ’na linha’ a produção. Não é uma ligação mecânica, mas objetiva. Nos manter submissas para casarmos, ou seja, montarmos nossa unidade de produção e consequentemente, geração de lucro e logo reproduzirmos. O que sai da heteronorma impede com que esse caminho seja fluído, LGBTs dão trabalho, muitas vezes a família que constituem não gera diretamente prole, e ainda querem mil direitos e visibilidade, desta forma não encaixam no padrão necessário para que não existam questionamentos. Logo, a LGBTfobia tem de ser implantada com toda força, nos locais de trabalho e de estudo, torna-se necessário dividir os trabalhadores e transformar o que sai da heteronorma como perfeita desculpa para pagar mais, explorar mais, fazer uso das diferentes formas de construção da sexualidade e da identidade de gênero. Os capitalistas não podem permitir a livre expressão da sexualidade e dos gêneros nessa ordem. Um novo nicho de mercado até pode ser criado, o famoso e contraditório ’Pink Money’, porque ao menos ’essas bichas’ tem de dar lucro. E nisso tudo não estamos sozinhas.

Não estamos sozinhas porque não somos as únicas atingidas pelo patriarcado, muito menos pelo capitalismo. A opressão que sofremos nos coloca no grupo que é oprimido por ferir a heteronorma, o setor LGBT. Por um lado, é necessário quebrarmos a cabeça para que as especificidades de cada setor que compõe a sigla seja respeitado e levado em consideração, é também necessário entendermos que para buscar nossa emancipação não podemos pensá-la sem aqueles que são oprimidos pelos mesmos fundamentos. Isso se aprofunda na compreensão de que o capitalismo se apropria das opressões.

E é por isso que me emputece a transfobia nas paredes dos banheiros da UNICAMP. Não se pode respeitar um direito tão mínimo quanto urinar no banheiro que está assinalado de acordo com a identidade de gênero da pessoa?

Em uma semana na qual Vivyane foi esfaqueada, isso dói ainda mais. É absurdo porque é querer retirar o direito mínimo de usar o banheiro de todas as (7) pessoas Trans* que tem acesso ao ensino na UNICAMP. A imensa maioria está completamente marginalizada e não vê como possível nem ao menos terminar o Ensino Básico, além de 90% estarem marginalizadas na prostituição.

A luta pelo direito de vida das lésbicas não é distinta da luta pela vida dos LGBT*s. E esta só é completa em meio à luta contra esse sistema que castra nossa sexualidade e gêneros.




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