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CENTRAIS SINDICAIS | Sobre as manifestações contra Bolsonaro, dia 1/2: por uma política independente dos golpistas

As centrais sindicais devem romper sua subordinação ao golpismo institucional e organizar a frente única dos trabalhadores para enfrentar todos os ajustes econômicos e revogar as reformas neoliberais do golpismo.

sexta-feira 29 de janeiro de 2021 | Edição do dia

Diante da catástrofe sanitária que nos foi imposta por Bolsonaro, mas também governadores dos estados, como o próprio Doria, e todo o regime do golpe institucional, precisamos unir a nossa classe para lutar com a mais ampla frente única operária, para derrotar os ataques econômicos e impormos um plano logístico racional para a imunização universal da população contra a COVID-19.

Bolsonaro, Doria, os militares, o Congresso, o STF: todos são responsáveis por termos chegado até aqui. Todas estas figuras e instituições golpistas, junto a Bolsonaro, tiveram participação ativa na organização triunfal da catástrofe econômica e sanitária, seja pelo puro negacionismo ou pela demagogia assassina, que permitiram as demissões em massa, jogou a população em ônibus lotados e manteve a produção das fábricas e dos telemarketing sem EPIs e medidas sérias de prevenção. A crise de oxigênio em Manaus é a prova de que o desprezo pelas nossas vidas não tem limites. São nossos inimigos, e não podemos nos unir a eles, muito menos a seus defensores que disputam hoje os cargos da presidência na Câmara (como Baleia Rossi) e no Senado.

As centrais sindicais tinham a oportunidade de organizar as forças dos trabalhadores em todo o país, de maneira unificada e independente, contra o conjunto da burguesia,seus políticos de plantão e seu regime golpista.

Mas não fizeram isso. No último dia 26, foi realizada uma plenária com 400 dirigentes de sindicatos, movimentos sociais, lideranças religiosas e outros setores, chamada de Plenária Nacional de Organização das Lutas Populares. A data da paralisação foi convocada no mesmo dia da votação da presidência da Câmara, a fim de "pressionar" pela eleição de Baleia Rossi. O nome da jornada é sugestivo: "Dia Nacional de Lutas na véspera da Eleição das presidências da Câmara e do Senado". Assim, o calendário encaminhado, ao contrário de apontar um caminho de organização e mobilização para a classe trabalhadora, subordina qualquer manifestação ao objetivo de eleger para a presidência da Câmara o candidato de direita Baleia Rossi (MDB).

Ainda que não digam isso, está claro que essa jornada se constitui como o "braços sindical" da campanha do golpismo institucional pela eleição de Baleia Rossi. Nossos objetivos não tem nada a ver com essa subordinação das centrais a Rossi.

Apesar do momento tão crucial em que vivemos, com recrudescimento da pandemia e com a popularidade de Bolsonaro caindo, nada dessa plenária foi debatida nas bases, assim como o calendário votado não está sendo construído pelas entidades presentes. Ao invés de unificar os trabalhadores como classe para lutar contra a catástrofe sanitária e os ataques econômicos - uma só luta! - as centrais querem que apoiemos nossos inimigos jurados, os mesmos que, como disse o próprio Baleia Rossi, "votaram 90% das propostas de reforma econômica de Bolsonaro", porque defendem "com convicção" a pauta de destruição de nossos direitos!

Assim, as direções sindicais buscam encobrir sua enorme paralisia, enquanto Bolsonaro e os golpistas destroem os direitos da classe trabalhadora e os patrões demitem. Essa plenária é parte dessa mesma política, que além de apoiar Baleia Rossi para a presidência da Câmara, busca pressionar o Congresso para abrir uma CPI contra Pazuello e um processo de impeachment contra Bolsonaro, cujo resultado levaria o reacionário General Mourão ao poder, deixando todo o regime golpista de pé e entregue aos militares herdeiros da ditadura.

Ou seja, a estratégia definida pela burocracia sindical na plenária repete a mesma estratégia do PT e do PSOL, que justamente foi o que nos levou aonde estamos, uma estratégia de frente ampla com os setores da direita, uma aliança com nossos inimigos, que supostamente fazem oposição a Bolsonaro, enquanto na verdade destroem nossos direitos. Essa direita que foi pivô do golpe institucional de 2016, da aprovação de ataques como as reformas trabalhista e da previdência, além do teto de gastos e as MPs de Bolsonaro. Essa mesma direita que durante anos precarizou o SUS, que não garantiu nenhuma proteção à imensa massa da população nos estados onde governa, que nunca teve direito à quarentena, nem acesso a testes e que segue morrendo sufocada na fila dos hospitais. São os mesmos que, agora, junto com Doria apenas fazem demagogia em torno da vacina, que atualmente não cobre nem mesmos os profissionais da saúde. Essa é a suposta oposição que votou 90% das pautas com o governo, como Baleia Rossi, candidato de Rodrigo Maia.

Se subordinando à essa direita, todas as outras reivindicações tiradas como "Vacina Já"; "ampliação dos recursos para o SUS", "defesa das medidas de distanciamento social"; "Retomada do Auxílio Emergencial", "defesa do Programa de Proteção ao Emprego"; "luta contra o Teto dos gastos" e "contra a Reforma administrativa": todas viram apenas um escrito vazio.

O calendário convocado repete os métodos burocráticos da plenária: carreatas e bicicletadas sem nenhuma organização e mobilização pela base. Os principais atos convocados são na véspera da eleição da Câmara e um ato simbólico de entrega do impeachment, ou seja seguindo a linha de subordinação às instituições golpistas e ao bonapartismo institucional.

Nenhuma conquista será conseguida mantendo essa linha de subordinação. Por isso é necessário que as centrais sindicais rompam essa submissão e alianças com a direita, e construam esse calendário através da organização desde as bases, com assembleias massivas nos locais de trabalho e que cerquem de solidariedade as mobilizações em curso, como dos trabalhadores do Banco do Brasil e contra as demissões na FORD. É necessário que os trabalhadores se inspirem em mobilizações como das terceirizadas da Faculdade de Odontologia da USP, que barrou as demissões, se organizando nos locais de trabalho e pressionando as direções sindicais para que rompam com essa política. Isso porque a aliança com golpistas e com a direita e a confiança no parlamento só acumulará mais derrotas, e é a unidade da classe trabalhadora na luta de classes, com sua auto-organização e métodos de luta, que pode responder à grave situação que vivemos.

A esquerda, com a influência de figuras como Guilherme Boulos e os parlamentares do PSOL, assim como as entidades que este partido e também o PSTU dirigem, poderiam apresentar uma política alternativa e ser parte dessa exigência. Ao invés disso se diluem nessa mesma unidade com a direita e os golpistas, defendendo o impeachment sem sequer questionar que isso leva Mourão à presidência. Já deveriam ter aprendido a lição de que o impeachment não serve a nossa classe. No PSOL, a única divergência entre o MES e Marcelo Freixo, de um lado, e a corrente majoritária de Ivan Valente e Juliano Medeiros, de outro, é saber se aderem ao bloco do golpismo institucional de Baleia Rossi no primeiro, ou no segundo turno. Uma vergonha, que está a serviço da política de "impeachment" alentada já por setores do golpismo sem nem mesmo questionar que isso levaria Mourão à presidência, o capacho de Bolsonaro.

Não podemos ir por esse caminho. As centrais sindicais devem romper sua subordinação ao golpismo institucional e organizar a frente única dos trabalhadores para enfrentar todos os ajustes econômicos e revogar as reformas neoliberais do golpismo, em primeiro lugar as reformas trabalhista e da previdência, desfazendo todas as privatizações autorizadas pelo STF e colocando no centro a luta contra o fechamento e as demissões na FORD.

É também essa força que pode dar uma resposta dos trabalhadores à pandemia e ao desemprego, que pode garantir um plano de vacinação capaz de imunizar massivamente a população, em primeiro lugar os profissionais de saúde. É parte dessa batalha exigir também a quebra de patentes das vacinas, a contratação de novos trabalhadores da saúde e a estatização dos laboratórios sob controle dos trabalhadores, assim como também um plano de emergência para o SUS, a proibição das demissões e um plano de obras públicas que possa garantir o emprego. A paralisação dos trabalhadores da Saúde do Hospital Universitário da USP é um exemplo para toda a classe.

Editorial: Contra Bolsonaro e Doria, batalhemos pela disponibilização universal da vacina

Nós do MRT colocamos todas as nossas forças para uma batalha unificada para a defesa dos nossos direitos. E ligamos essas batalhas a uma saída política independente: a defesa de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, imposta pela luta, que enfrente Bolsonaro mas também o conjunto do regime golpista.




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