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DOSSIÊ STONEWALL | Sintusp realiza 1ª exibição pública do filme PRIDE no Brasil

Adriano FavarinMembro do Conselho Diretor de Base do Sintusp

segunda-feira 9 de março de 2015 | 01:54

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Publicado em Portal Palavra Operária

Em uma fantástica demonstração de sensibilidade e interesse da categoria, mais de 50 pessoas encheram a sede do Sindicato na ultima sexta-feira, 06/03, em uma noite chuvosa, para assistir à primeira exibição pública do filme “PRIDE: gays e lésbicas apoiam os mineiros” no Brasil, organizada pelo Conselho Diretor de Base(CDB) do Sindicato dos Trabalhadores da USP.

O filme retrata a histórica relação de solidariedade entre os mineiros britânicos em greve contra o governo de Margareth Thatcher e um grupo de gays e lésbicas que decidem organizar um fundo de greve e uma campanha em apoio aos mineiros. Tendo como base de debate esse pano de fundo, pudemos discutir o significado e as conquistas dessa experiência, como também iniciar as reflexões sobre os motivos que levaram a que essa relação de solidariedade e atuação comum entre o movimento de trabalhadores e as lutas por demandas sociais e democráticas de setores da população ter paulatinamente se separado a partir do final da década de 80.

A derrota dos mineiros britânicos significou o avanço das políticas neoliberais em todo o mundo. Essa inflexão na luta de classes internacional iniciou um verdadeiro processo de restauração burguesa, em que as classes dominantes conseguiram destruir ou envolver em seu domínio as direções dos maiores sindicatos mundiais e os velhos partidos socialistas e trabalhistas da Europa. A queda do muro de Berlim e a restauração capitalista na China e na ex-URSS sob a direção ou conivência dos partidos comunistas selou a desmoralização no conjunto dos trabalhadores e a confusão no conjunto das direções da esquerda mundial.

Devido a esse giro reacionário na conjuntura internacional, esse pequeno exemplo de uma aliança revolucionária na luta contra as opressões e a exploração acabou não tendo ecos de continuidade nos anos seguintes. Por um lado, as traidoras direções sindicais e dos velhos partidos, construídos outrora pela classe trabalhadora, convenceram os trabalhadores a limitarem sua luta à pauta econômica, datada pela patronal e subordinada às instituições do Estado e aos valores da inflação ditados pelo governo. Por outro lado, sem a hegemonia da classe trabalhadora, os movimentos organizados por demandas sociais e democráticas foram sendo hegemonizados pouco a pouco por direções pequeno-burguesas, que tinham como máximo horizonte a ocupação de cargos nos governos e espaços nas instituições do Estado para defenderem projetos de lei e políticas públicas que garantissem, perante a justiça, a igualdade de direitos para os setores oprimidos.

Porém, trinta anos depois, com um negro na presidência dos EUA, várias mulheres presidentes de países, outro tanto de homossexuais assumidos em cadeiras legislativas – e até presidentes advindos da classe operária –, essa estratégia tem mostrado que somente os setores oprimidos ocupando espaços dentro desse Estado, ainda que possa garantir uma igualdade desse indivíduo em particular perante a justiça, termina somente reforçando a opressão e a desigualdade na vida dos demais milhões de negros, mulheres e LGBT’s. A experiência e a falência dessa estratégia reformista tem retomado a perspectiva revolucionária como única forma de garantir, não só perante a lei, mas na vida, condições iguais para os setores oprimidos – o fim da opressão!

A crise econômica mundial aberta em 2008 nos EUA, o explodir da Primavera Árabe em 2011 e a resistência dos trabalhadores e do povo europeu enfrentando os ataques de austeridade e testando novas ferramentas de luta, voltam a colocar a classe operária em cena em alguns países e reatualizam as possibilidades dos trabalhadores voltarem a hegemonizar as pautas sociais e democráticas superando os freios das burocracias sindicais e as ilusões dos velhos partidos reformistas e traidores.

Não é por acaso que esse filme surge em setembro de 2014 no Reino Unido e já vem sofrendo fortes censuras nos Estados Unidos, tendo sido retiradas de sua arte conceitual e sinopse qualquer referência de que o grupo apoiador seria formado por “gays e lésbicas”. A mera possibilidade de que os setores oprimidos vejam na luta e vitória da classe operária a alternativa na defesa de seus direitos e de que a classe operária tome como parte de sua luta a defesa dos setores oprimidos nessa sociedade por enfrentarmos em comum um mesmo inimigo, aterroriza os governos, os patrões, a mídia e todos os setores reacionários.

É com o intuito de retomar esse exemplo histórico, transformando essa possibilidade novamente em realidade, que o SINTUSP realizou durante a greve do ano passado atividades de debate e atos em solidariedade a um jovem homossexual vítima de homofobia e a jovens negros assassinados pela polícia na periferia. E agora realiza essa primeira exibição publicado filme PRIDE no Brasil, buscando fazer chegar, através dos Diretores de Base, essas lições e essas discussões em cada unidade e em cada trabalhador e trabalhadora, rumo ao 6º Congresso Estatutário do Sindicato.

Esse Congresso é parte do plano de lutas da nossa categoria que, assim como os professores do Paraná, de Brasília e os trabalhadores e estudantes das Universidades Federais, tem sido atacada com cortes e ajustes da Reitoria e governo contra a educação. É também onde queremos servir de exemplo para a vanguarda dos trabalhadores do país de como os trabalhadores devemos ser tribunos das lutas de todos os setores oprimidos da população para podermos defender nossos empregos, nosso salário e a saúde e educação de qualidade para nossos filhos – uma sociedade sem oprimidos e opressores, sem explorados e exploradores!




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