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UNESP | Semana de Sociais na Unesp Araraquara: Debate sobre Drogas

A primeira atividade da XVI Semana de Ciências Sociais, organizada pelo CAFF (Centro Acadêmico Florestan Fernandes da UNESP de Araraquara) consistia em um grupo de debates sobre os impactos das drogas na sociedade, limitado aos termos a redução de danos nos usuários. A chapa Dialética convidou uma representante do Consultório de Rua e um rapper da cidade para contarem seus relatos sobre o uso de crack.

quarta-feira 21 de outubro de 2015 | 00:51

O Consultório de Rua é um setor do SUS, criado como política de saúde pelo PT em 2011, que visa alcançar os moradores de rua, principalmente aqueles que são viciados no crack. O Consultório de Rua busca retirar os usuários das ruas e interná-los em clínicas de reabilitação, até que possam ser reinseridos na sociedade, mas o seu programa não visa até o fim transformar a sociedade com a finalidade de que se extingua o problema das drogas no Brasil.

Atuando na linha do PT, escondendo o papel que as drogas cumprem nas politicas de genocídio e de contenção de qualquer mobilização da classe trabalhadora, o debate se esquivou de discutir a importância da legalização das drogas e o papel que o Estado cumpre para criminalização da juventude, encarcerando e assassinando em massa os jovens dos setores mais precarizados da classe.

Em um contexto de crise, os governos federal e estadual, aliados com setores da burguesia, gerenciam os cortes que ocorrem na educação e o avanço da terceirização e da precarização do trabalho, que agem em conjunto com a redução da maioridade penal, o aumento de penas para portadores de drogas ilícitas e a política deliberada das Polícias para efetuar chacinas e prisões da juventude da classe trabalhadora indiscriminadamente.

E quem lucra durante a crise? Justamente os setores da burguesia que estão alinhados com os governos para dar os golpes contra a classe trabalhadora. Quem lucra são os latifundiários das drogas, que cada vez mais têm mão de obra barata e descartável; os oficiais militares, políticos e a mídia sensacionalista que fazem da Guerra às Drogas seu meio de lucro; os patrões que chefiam o trabalho precarizado e efetuam redução de direitos trabalhistas e de salários; e os proprietários dos presídios privados que, cada vez mais, encarceram e escravizam dentro dos limites da lei.

Ou seja, em um país onde os jovens da periferia, pobres e em sua maioria negros, que recebem uma educação que os distancia das universidades e do trabalho formal, mas os aproxima do tráfico de drogas e do crime; em um país onde 74, 8% dos jovens é usuário de alguma droga ilícita e 75% da população carcerária jovem se dá apenas por serem usuários; em um país onde cada vez mais salas são fechadas e presídios estão sendo superlotados ou privatizados, se eximir, dentro de um debate sobre drogas, de discutir o papel que o governo cumpre nesse contexto é se afastar da realidade e de uma saída real para estes problemas.

O movimento estudantil e a guerra às drogas

O papel que o movimento estudantil deve cumprir não é apenas de resumir o debate das drogas a redução de danos e compartilhar experiências pessoais – que carrega sua importância para reabilitação de usuários, mas não é um fim em si – e nem tão pouco debater a descriminalização das drogas nos limites da liberdade individual, o que leva a uma discussão para um plano abstrato. É necessário que o movimento estudantil entenda que a conclusão para a Guerra às Drogas é defender a legalização de todas as drogas com a classe trabalhadora no controle da produção, assim, se aliando aos trabalhadores em suas disputas e até o limite, defendendo o fim do vestibular para a abertura das universidades para os filhos da classe e para o distanciamento desses jovens do crime.

O governismo dentro do rap

O rapper, chamado para a mesa do debate, cumpre um papel decisivo a serviço do governismo para capitulação dessa juventude desgastada com as políticas do PT. O sentimento dos jovens das quebradas, marcado pela desigualdade social, pelo crime, pelas drogas, pelas chacinas e prisões diárias, é atenuado com o desaparecimento da possibilidade – e da necessidade – da revolução, que está nas mãos da juventude descontente com sua realidade. Quando se retira das letras de RAP a mobilização social e o ódio de classe, e se resume ao sentimento meritocrático de ascender na hierarquia social e se esquivar das contradições do capitalismo, como se a saída fosse individual, se retira o caráter transformador não só da juventude, mas também da cultura da classe como um todo.

Por isso, é de extrema importância que o RAP de atitude continue vivo dentro das letras dos rappers, das batalhas e rinhas, e independente da cultura industrial da classe dominante. Ele deve continuar sendo uma alternativa para uma juventude que está desesperançosa com exemplos de exceções dentro do capitalismo, que até o fim não resolverão todos os problemas de sua vida, que até o fim não terminarão com a exploração, o desemprego, o crime, a violência e as opressões.

O rapper Eduardo, que recentemente lançou um clipe de uma de suas músicas do seu novo álbum “A Era das Chacinas”, retrata de maneira objetiva como o RAP deve atuar e é o que justamente a música “Substância Venenosa” afirma. O intuito do rapper deve ser o comprometimento com sua classe, com letras carregadas de informação que não são acessíveis para as massas e que golpeiam um inimigo certo, o inimigo responsável pelas tragédias dos trabalhadores. No clipe, Eduardo explicita as diversas formas de como a burguesia ataca o pobre, seja pela exploração, pela miséria, ou pela violência, e inclusive faz alusão a chacina que ocorreu recentemente em Osasco.

Outras vertentes do RAP, como MV Bill e Racionais MC, que apesar de expressaram a realidade e o subjetivo dos jovens das quebradas, até o fim não enxergavam o inimigo, e por isso não encontravam uma saída real para a luta de classes, por isso, foram facilmente capituladas pela indústria, e por isso hoje, o PT e a Globo têm uma forte inserção dentro do movimento do hip hop.

Fica aqui como exemplo o RAP contra o Racismo, que é um sarau que chegou a sua sexta edição neste mesmo mês, no dia 4. O projeto visa construir oficinas e discussões sobre racismo e todas as formas de opressão na sociedade, com o objetivo de trazer uma alternativa independente do governo e da cultura da burguesia para a juventude se manifestar, se expressar e aprender. O sarau carrega nomes como de Dandara e Zumbi dos Palmares, Malcolm X, Sabotage, Tereza de Benguela e dos Panteras Negras, figuras que simbolizam o espírito e uma cultura de resistência contra o Estado opressor. No evento, exemplos também são tirados das batalhas dos garis dos Rio de Janeiro e das terceirizadas da USP, unindo os estudantes com os trabalhadores, é a juventude aprendendo com a classe trabalhadora.


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UNESP    Juventude



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