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UNESP | Semana de Sociais a serviço de quem?

Na semana passada, o CAFF (Centro Acadêmico Florestan Fernandes, centro acadêmico de Ciências Sociais da UNESP Araraquara) organizou a XVI Semana de Ciências Sociais com o tema “Erosão dos Direitos Humanos e desumanização: a construção da categoria de não pessoa”.

quarta-feira 21 de outubro de 2015 | 00:31

Ironicamente, a Chapa Dialética, com diversos membros pertencentes a correntes do PT, construiu uma semana que não serviu como impulso às lutas e, sim, como blindagem ao forte sentimento anti-PTista que vem se desenvolvendo no país, inclusive na UNESP, fruto da verdadeira “erosão de direitos” que o Governo Dilma vem realizando.

Na semana passada, o CAFF (Centro Acadêmico Florestan Fernandes, centro acadêmico de Ciências Sociais da UNESP Araraquara) organizou a XVI Semana de Ciências Sociais com o tema “Erosão dos Direitos Humanos e desumanização: a construção da categoria de não pessoa”. Ironicamente, mesmo em meio a um contexto de mobilização na educação por parte de professores e estudantes da rede básica, a Chapa Dialética, com diversos membros pertencentes a correntes do PT, construiu uma semana que não serviu como impulso a essa luta e, sim, como blindagem ao forte sentimento anti-PTista que vêm se desenvolvendo no país, inclusive na UNESP, fruto da verdadeira “erosão de direitos” que o Governo Dilma vem realizando.

Na educação, o corte foi de mais de 13 bilhões. Tudo isso justificado na construção de uma semana “acadêmica”, como se não houvesse espaço dentro da academia para discutir os rumos da educação em nosso país, que vem sendo pilar fundamental no processo de desumanização da nossa juventude.

Autonomia Intelectual e Academicismo

A Universidade nasce com o intuito de se produzir conhecimento livremente. Mas infelizmente esse princípio não vigora na Universidade e vem sendo cada vez mais rifado pela reitoria, pelas empresas privadas e pelo governo do Estado de inúmeras formas. Na USP mais especificamente a entrada da PM tem um histórico que desvela o real propósito de sua entrada e tem a ver com o fim dessa autonomia universitária.

Na UNESP, a REItoria usa de diversos mecanismos pra determinar o conteúdo, vão desde de a determinação do caráter dos programas de extensão, com marco legal na chamada resolução 21. Passam também pela tentativa de influenciar a autonomia de organização do corpo discente, na recém-aprovada portaria 23 que define, entre outras coisas, como devemos escolher nossos próprios representantes(!).

Esses mecanismos chegam até a definição direta do conteúdo: com a institucionalização do PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional) a Reitoria aprovado o documento que vincula o conhecimento produzido na universidade “às necessidades do mercado”, jogando fora qualquer possibilidade de autonomia universitária.

A frase abaixo, presente em um dos documentos da Reitoria, escancara esse projeto de subordinar a produção intelectual da universidade ao mercado, insinuando um caráter positivo à essa ideia: “O mercado cria necessidades próprias que não coincidem exatamente com a autonomia desejada nos processos de pesquisa. Como conciliar a autonomia universitária de poder decidir o que e como pesquisar com as pressões utilitaristas do mercado ou da sociedade que, em suma, é quem financia uma universidade pública? Deve a universidade apoiar as empresas para torná-las mais competitivas, contribuindo, assim, com o crescimento do país?”

Para nós, o papel que academia pode cumprir é essencial para pensarmos nossa realidade social, se apropriando dos conhecimentos mais avançados e os colocando a serviço dos trabalhadores e da população pobre, que na realidade são os que sustentam a universidade com seus impostos. Mas a possibilidade que isso aconteça de maneira efetiva está sendo minada a cada instante por um projeto de universidade que a REItoria implementa e que subordina o conhecimento da universidade ao mercado.

Quando discutirmos autonomia intelectual da produção universitária, sem discutirmos as determinação para que isso ocorra, ou seja, sem discutir sua viabilidade concreta e o projeto que a Reitoria vem impondo, discutimos a academia em abstrato, o que chamamos de academicismo.

O CAFF, além nunca ter feito um debate sobre autonomia intelectual, convidou para a mesa de abertura da Semana de Ciências Sociais ninguém mais ninguém menos do que representantes do projeto que quer subordina-la a cada momento “aos necessidades do mercado”. A “grandeza intelectual” dos convidados foi justificativa para convidar na mesa de abertura da semana, representantes do projeto que visa acabar, a cada momento, com a autonomia intelectual da universidade. Que contradição!

Uma das iniciativas para iniciar a luta pela autonomia da produção intelectual seria envolver os estudantes na construção da Semana de Sociais, com um chamado aberto e passagem em salas chamando os estudantes a serem sujeitos dos espaços da universidade e não meros expectadores. Dessa forma, os debates seriam socializados e o tema e os debatedores das mesas poderiam ter sido escolhidos pelo próprio corpo discente.

Conheça os convidados da Mesa de Abertura:

Gabriel Conh

Ex-diretor da FFLCH da USP nos anos de 2007 e 2008 um dos principais responsáveis pelo projeto de acabar com os espaços estudantis, responsável também por implementar o processo de precarização da educação na faculdade. Cohn cimentou um espaço dos estudantes durante as férias, negligenciou reformas necessárias nos espaços estudantis e durante sua gestão foi prevista a criação de salas para mais 100 de pessoas e, consequente, diminuição da contratação de professores.

Ana Lúcia Pastore Schritzmeyer

Ex-Superintendente de Segurança da USP e professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), pesquisadora do Núcleo de Estudos de Violência (NEV) defendeu a permanência da Polícia Militar de São Paulo no campus como um direito constitucional.

Conheça mais sobre o papel da Policia Militar em acabar com a autonomia universitária na USP.

Blindagem ao desgaste do PT e um movimento estudantil preocupado com as questões nacionais

A crise econômica que se agudiza no país intensifica essa contradição. A falta de espaços dentro da universidade para que os estudantes e professores possam discutir sobre os rumos da educação em nosso país que vem sendo desmontada pelos governos estaduais e Federal aumenta a importância dos centros acadêmicos, enquanto ferramentas dos estudantes.

O petismo que nos últimos dez anos garantiu sua estabilidade na juventude através da expansão precária do ensino superior, com programas como o FIES, PROUNI e REUNI, está questionado em seus pilares: frente a crise no FIES, os cortes de 13 bilhões na educação, e sua expressão em algum nível de greve nas 48 das 63 Universidade Federais ocorridas nesse ano. A soma de crise política nacional, “ajustes” do governo Dilma e governos estaduais e demissões nas indústrias, com crise nas Universidades, faz das lutas dos estudantes, desde os problemas de moradia, currículos, a estrutura física dos prédios, um questionamento a todo o regime do PT. As greves no Rio de Janeiro e os atos espontâneos nas Universidades privadas são anúncio claro de uma juventude que reconhece o "fim de ciclo petista" nas universidades de todo o país, mas também uma juventude que quer tratar dos grandes temas nacionais, como a luta contra a PL 4330, a terceirização e a redução da maioridade penal e encarceramento da juventude.

Uma crise de tamanha proporção só vai conseguir ser respondida se as entidades estudantis se colocarem a altura de disputar a política da sociedade desde das Universidades. Calar sobre a situação de milhares de estudantes que sofrem os cortes, calar-se em denunciar os governos Lula e Dilma que mais aumentaram o trabalho terceirizado (de 4 milhões para 12,7 milhões), que é mais a cara cruel da precarização dentro das universidades, calar-se frente ao PT que apoiou o aumento das penas para os jovens de 16 a 18 anos, só tem um sentido: a blindagem do governo.

O CAFF se esquivou desse importante debate nacional sobre educação dizendo que que não é da “esfera” de atuação de um C.A. as questões estaduais e nacionais (!), como se a crise na educação não fosse parte de um conjunto de medidas pra despejar e a crise sobre os estudantes e trabalhadores. Como se a crise não tivesse implicação direta nas nossas vidas, inclusive na universidade, com problemas que vão desde o desemprego, passa pelos cortes na educação e vão até a política de creches, por exemplo, insuficiente no Governo Dilma, especialmente num contexto de crise, o que implica “bastante coisa” para uma mãe estudante.

E, então, preferiu colocar defensores e simpatizantes do Governo Federal em quase todas as suas mesas e mesmo nas que não expressavam a defesa aberta do PT, os debates nõ entravam em confronto direto com o governo que vem promovendo grandes ataques aos trabalhadores, estudantes, negros e negras, mulheres, LBTTs, indígenas e demais setores oprimidos. Nenhum ataque contundente, uma ou outra critica pra criar um ar democrático e pronto: uma semana como queríamos. Passiva.

Principais Mesas e debatedores:

Mesa: “Negação dos direitos humanos, instituições e violência do Estado”, com o Julian Rodrigues (ativista LGBT e militante de direitos humanos)

"Respaldado num discurso altamente populista e partindo de uma ampla caracterização de um ascenso da direita em período de crise, Julian defende o fim dos discursos de ódio à presidenta e chama a esquerda a se colocar em favor de Dilma, alegando que a derrocada do PT representa a derrocada da própria esquerda. Em suas aparições como figura pública, Julian clama “fascismo não passará” se abstendo de apontar que o próprio governo coloca seu suposto “projeto democrático e progressista” (que teria se iniciado com Lula em 2002) em detrimento de constantes alianças com os setores mais reacionários para garantir governabilidade, ou, em outras palavras, que a própria postura do PT favorece o crescimento da direita."

Debate: Redução de Danos para usuários de Drogas.

“Atuando na linha do PT, escondendo o papel que as drogas cumprem nas politicas de genocídio e de contenção de qualquer mobilização da classe trabalhadora, o debate se esquivou de discutir a importância da legalização das drogas e o papel que o Estado cumpre para criminalização da juventude, encarcerando e assassinando em massa os jovens dos setores mais precarizados da classe.” Escondendo o papel que cumpre o PT defendendo, por exemplo, o aumento de penas para jovens de 16 a 18 anos, como “alternativa” a redução da maioridade penal. Por Eduardo Pinho

Debate: Marcha das Margaridas

A roda de conversa sobre a Marcha das Margaridas (onde estavam presentes mulheres assentadas e representantes da marcha) teria sido bastante importante para articular a luta das mulheres na universidade e fora dela não fosse a presença da deputada Márcia Lia e a defesa de um governo indefensável que ela promoveu. Sem contar que a deputada recebe “doações” de empresas, como a gigante Cutrale, que explora milhares de trabalhadores.

A Lei Maria da Penha (que tem sua importância) foi usada com blindagem para os ataques que o PT, em seus vários anos de gestão do país, vem promovendo aos direitos das mulheres, principalmente as mulheres trabalhadores e filhas de trabalhadoras. Como sempre age a lógica PTista atuam no final da cadeia das opressões, quando a violência ocorre, porém sem discutir “as condições base para a opressão” e, portanto, mantendo milhares de vítimas ano a ano em nosso país. Sem discutir a terceirização do trabalho (que triplicou nos anos de governo PT) e sem discutir, por exemplo, que a política de ajustes promovida pelo governo Dilma vem rifando a possibilidade de construir creches que possam atender as demandas das mães, subordinando essas mulheres ao ambiente doméstico, é impossível um combate real às opressões.

Debate: Democracia e Reforma Política

Debate com o Deputado do PT, Adriano Diogo. A reforma política foi uma das políticas do PT para capitalizar seu desgaste pós-junho, hoje uma das formas de blindar o governo é a “defesa da democracia frente ao golpe”, escondendo que tanto o PT quanto o PSDB estão aliados com setores mais conservadores da política nacional para descarregar a crise nas costas dos trabalhadores.


Temas

UNESP    Juventude



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