Fátima Pelaes, secretária Especial de Políticas para as Mulheres do governo Temer, vem organizando cultos evangélicos dentro da sede do órgão. A denúncia anônima veio de funcionários que trabalham na sede e também relatam o constrangimento daqueles que trabalham no local.
sexta-feira 31 de março de 2017 | Edição do dia
Exercer práticas religiosas dentro de uma instituição pública já é um bom motivo para a indignação. Realizar práticas religiosas dentro de uma instituição destinada a políticas para as mulheres é um absurdo intolerável.
Antes de mais nada o Estado deveria ser por princípio laico e alheio a qualquer ideologia religiosa, assegurando a liberdade de escolha de crença de cada indivíduo sem coibir e incentivar uma ou outra religião. Trate-se de uma demanda democrática tão básica que está presente na história desde o século XVIII, e ainda assim não está presente no estado brasileiro, em especial no governo Temer, em pleno século XXI.
A naturalização de práticas religiosas dentro de uma instituição cujo compromisso deveria ser supostamente para com as mulheres é ainda mais grave, já que a separação entre estado e igreja é uma das principais demandas das próprias mulheres. Os dogmas religiosos versam sobre as mulheres de formas distintas, e os direitos das mulheres devem ser assegurados independentemente do que diz essa ou aquela religião. O direito ao aborto, uma demanda muito importante dos movimentos sociais de mulheres, por exemplo, vai contra inúmeras crenças religiosas, e por isso não devem se misturar, pois seguir ou não tais condutas cabe exclusivamente a mulher decidir, e não ao estado, sendo que este por sua vez deve garantir a liberdade de escolha individual de cada uma.
Esta atitude grotesca e de nível inédito por parte de Fátima Pelaes é sintomática e agravada pela conduta de inúmeros políticos que se vestem do moralismo religioso para atacar o direito das mulheres, como é o caso de políticos como Bolsonaro e Feliciano, que recorrentemente defendem o machismo institucional, sem mencionar suas práticas individuais e declarações públicas. Além disso o conservadorismo perante as questões democráticas de gênero e sexualidade é generalizado na política institucional e seus representantes dos partidos tradicionais. Não devemos nos esquecer que a palavra de ordem para consumação do golpe institucional por parte dos deputados e senadores foi "por Deus e pela família". A própria indicação de Fátima Pelaes, que é contra demandas elementares da mulheres como a legalização do aborto, já expressava claramente as intenções do atual governo.
Os cultos religiosos de Fátima Pelaes apenas explicitam o machismo institucional do estado brasileiro e em especial do governo de Temer. É dever de todos aqueles que lutam pelos direitos democráticos e pelos direitos das mulheres se levantar contra o governo Temer e contra Fátima Pelaes. Prova-se mais uma vez que este estado não é capaz de garantir nem os princípios democráticos mais elementares, e por isso não merece um pingo de nossa confiança. Confiemos na luta e na organização das mulheres, dos LGBTs, dos trabalhadores e da juventude para conquistar defender nossos direitos.
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