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O papa anunciou que a igreja “perdoará” as mulheres que praticaram aborto, o que para o dogma católico é pecado grave, caso se mostrem verdadeiramente “arrependidas de coração”. A notícia causou um reboliço midiático sensacional.

Andrea D’Atri@andreadatri

quinta-feira 3 de setembro de 2015 | 01:39

O papa anunciou que a igreja “perdoará” as mulheres que praticaram aborto - que para o dogma católico é pecado grave - caso se mostrem verdadeiramente “arrependidas de coração”. A notícia causou um reboliço midiático sensacional.

Como já adiantamos no Esquerda Diário, o Vaticano ordenou aos sacerdotes de todo o mundo a perdoar os “pecados graves”, provocando opiniões diversas. A discussão envolve setores conservadores que se alarmam frente as demagógicas decisões de Bergoglio, como os norte americanos do Tea Party que o consideram um “marxista” e, no outro extremo, os que avistam, nessa inócua medida, uma mudança radical sem precedentes na milenar e reacionária instituição eclesiástica.

Seria acaso uma mudança na consideração que tem o dogma da igreja sobre o “pecado do aborto”? Absolutamente. Para o direito canônico atualmente vigente, que data de 1983, o aborto corresponde a pena de excomunhão, precisamente para marcar a gravidade que a igreja confere a essa pratica.

Na verdade, o documento de Bergoglio assinala claramente que os sacerdotes “devem se preparar para esta grande tarefa sabendo conjugar palavras genuinamente acolhedoras com uma reflexão que ajude a compreender o pecado cometido, e indicar um itinerário de conversão.” Inclusive, para obter a indulgencia, se estabelece que as mulheres arrependidas deveriam realizar “uma breve peregrinação" até a Porta Santa, aberta em cada catedral ou nas igrejas estabelecidas pelo bispo diocesano e nas quatro basílicas papais em Roma, como símbolo do desejo profundo de autêntico arrependimento.

Novidade?
Mas a doutrina eclesiástica já previa o "perdão" dos sacerdotes, com a autorização dos bispos de sua diocese, às mulheres que confessassem esse pecado. Inclusive, em alguns países, como na Argentina, por determinação do ex-arcebispo de Buenos Aires, Antonio Quarracino, os sacerdotes já estavam isentos há muitos anos da obrigação de consultar as suas autoridades eclesiásticas frente a cada caso.

A novidade é que agora todos os sacerdotes do mundo terão a possibilidade de "perdoar" o "pecado" do aborto sem ter que solicitar a autorização dos bispos caso a caso. Um “perdão” que somente se estenderá de 8 de dezembro de 2015 até 20 de novembro de 2016, datas que marcam para a igreja o “Ano da Misericórdia”.

A clandestinidade não perdoa

Entretanto, nesse percurso que transcorrerá o “Ano da Misericórdia”, serão realizados 42 milhões de abortos induzidos em todo o mundo, segundo os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A metade, serão de abortos inseguros, que por consequência, levará a morte de cerca de 70 mil mulheres por infecções generalizadas, lesões e hemorragias, perfurações e desgarros uterinos.

A igreja não chegará a “perdoá-las” por que essas 70 mil mulheres não chegarão a tempo sequer de mostrar “verdadeiro arrependimento”.

A igreja, aliada indispensável dos governos e Estados que não permitem a legalização da interrupção voluntária da gravidez - como na Argentina - não tem nenhuma preocupação com a descriminalização, que faz do aborto clandestino entre as mulheres que podem acessar as praticas seguras de um consultório privado e aquelas outras, as mais pobres do povo trabalhador, que morrem por infecções generalizadas, hemorragias, perfurações e desgarros uterinos.

A separação da igreja do Estado, para que não seja o dogma obscurantista que reja sobre nossas vidas e nossos corpos, não é apenas uma demanda democrática, se não uma necessidade urgente para evitar as mortes de milhares de mulheres em todo o mundo.




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